50 anos de relações diplomáticas Brasil-China: celebrando o passado e lançando as bases do futuro
» Artigo original (disponível em inglês)
Em 15 de agosto, celebramos o cinquentenário das relações diplomáticas entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China. Durante esses 50 anos, construímos uma parceria estratégica que fortaleceu os laços comerciais, culturais, científicos e tecnológicos entre nossos povos.
Como presidente do Brasil, tenho orgulho de ter contribuído para o aprofundamento dessa cooperação tão prolífica. Na minha primeira visita a Pequim, em 2004, reforçamos a Parceria Estratégica criando a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), fundamental para coordenar nossas ações em diversos setores e aprofundar a integração de nossos governos e sociedades.
A China consolidou-se, desde 2009, como o nosso maior parceiro comercial. Nos últimos sete anos, o Brasil tem sido o maior fornecedor externo de alimentos para a China e contribuído para sua segurança alimentar.
Em 2023, o comércio bilateral atingiu um recorde de US$ 157 bilhões, com um superávit brasileiro inédito de US$ 51 bilhões. Nossas exportações somaram US$ 104 bilhões, superando o somatório das vendas para os Estados Unidos e a União Europeia.
O Brasil também foi o quarto maior destino dos investimentos chineses no exterior, representando 4,8% do total global, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Esses investimentos são vitais para o desenvolvimento e a modernização da nossa infraestrutura e indústria, e encontram sinergia no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Nova Indústria Brasil.
O relacionamento bilateral não se limita à exportação de produtos agrícolas. Ao contrário, a dimensão estratégica de nossa relação antecede o sucesso das trocas comerciais. O projeto do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), lançado em 1988, é um marco da cooperação Sul-Sul em alta tecnologia, fortalecendo a infraestrutura espacial e impulsionando a pesquisa, a inovação e o co-desenvolvimento em setores críticos.
Por essas razões, a China foi um dos primeiros países que visitei ao iniciar meu terceiro mandato. Naquela oportunidade, destaquei que queremos que a relação Brasil-China transcenda o comércio.
Assim como, há 40 anos, o CBERS foi fundamental para que nossos países dominassem tecnologias aeroespaciais, estou confiante de que saberemos buscar novas áreas na fronteira do conhecimento para alicerçar nossa cooperação pelos próximos 50 anos, como inteligência artificial, semicondutores, energias renováveis.
Buscaremos adensar os elos entre nossas universidades que aumentem nosso intercâmbio de alunos e pesquisadores. Queremos que mais chineses visitem o Brasil como turistas e mais brasileiros visitem a China. Esperamos trabalhar juntos no enfrentamento à mudança do clima e na transição para energias limpas, sobretudo eólica, solar e biomassa.
Para além da densa agenda bilateral, China e Brasil são parceiros de longa data nos BRICS, no G-20, nas Nações Unidas e em muitos outros fóruns internacionais. Trabalhamos juntos para promover a paz, a segurança e o desenvolvimento. Apoiamos uma reforma da governança global que a torne mais eficaz, justa e representativa dos interesses do Sul Global.
A estreita coordenação entre nossos países em temas de interesse global seguirá contribuindo para uma ordem mundial multipolar, assentada sobre os valores do multilateralismo e do direito internacional. O comum apreço pelo diálogo nos permite promover soluções baseadas na diplomacia e na negociação, como demonstra nossa proposta conjunta para o conflito na Ucrânia.
Sobre essas bases sólidas, China e Brasil estão pavimentando o caminho certo para elevar a Parceria Estratégica Global a um novo patamar, com forte componente de cooperação tecnológica e que será capaz de promover resultados verdadeiramente transformadores para nossas sociedades.
É com esse espírito que o Brasil receberá a visita de estado do presidente Xi Jinping ao Brasil em novembro próximo.