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Winnie Mandela lutou de forma aguerrida contra Apartheid
Esposa do líder sul-africano Nelson Mandela, cujo centenário se comemora nesta quarta-feira, 18 de julho, Winnie Mandela também lutou boa parte de sua vida para acabar com o Apartheid. Este regime se baseava na segregação racial e na opressão da maioria da população, os negros, em benefício da minoria branca.
Seu nome original era Nomzano, que significa na língua africana xossa “aquela que tenta”. Nasceu em uma vila chamada Mbongueni, no dia 26 de setembro de 1936. Com apenas oito anos, perdeu a mãe.
Em 1953, se mudou para Joanesburgo, indo estudar na Jan Hofmeyr School of Social Work. Dois anos depois, se formou e recusou uma bolsa para continuar os estudos nos Estados Unidos. Ao invés disso, preferiu trabalhar em um hospital para negros da capital sul-africana. A partir desta atividade, realizou uma pesquisa sobre mortalidade infantil no subúrbio de Alexandra, fato que a incentivou a ingressar na política.
Envolvida com a organização Congresso Nacional Africano (CNA), em 1957, Winnie conheceu Nelson Mandela, com quem se casou e teve duas filhas. A incessante atividade política terminou por levá-lo à prisão, em 1963. Nelson permaneceu 27 anos preso. Nessa fase, Winnie podia visitá-lo, mas sem a possibilidade de manter muito contato.
Perseguição
Winnie foi perseguida ferozmente pelo regime racista. Por conta de ordens judiciais, não podia trabalhar e nem defender causas sociais. Ficava confinada ao distrito de Orlando, em Soweto. Optou por trabalhar clandestinamente para o CNA e em mandar as filhas para viver em outro país, na Suazilândia, a fim de protegê-las.
Em 1969, o governo ordenou sua detenção com base na Lei Anti-Terrorismo. Winnie ficou 17 meses presa e, a partir de 1970, passou para o regime de prisão domiciliar, o que não a impediu de sofrer vários outros processos judiciais. Em 1976, período das Revoltas Juvenis, a ativista criou a Federação das Mulheres Negras e a Associação dos Pais Negros. Ambas as entidades eram filiadas ao Movimento da Consciência Negra, que rejeitava os valores brancos e pregava o papel da cultura negra. Por conta dessa militância, Winnie voltou à cadeia, em 1977, sendo depois banida para a província de Orange.
Retorno à luta
Winnie Mandela retomou a luta pública contra o regime em 1986, quando criou uma milícia particular sob o manto de uma equipe esportiva chamada Mandela United Football Club. Nesse período, foi acusada de envolvimento com a execução de adversários políticos pelo método do colar bárbaro, quando se colocava um pneu no pescoço da vítima e se ateava fogo.
Winnie estava ao lado de Nelson Mandela no dia 11 de fevereiro de 1990, quando ele finalmente deixou a prisão. Era indiscutível seu engajamento na luta para derrubar o Apartheid e libertar o marido. Porém, a partir de 1991, começou a enfrentar diversas polêmicas. Terminou banida do CNA e de outras entidades, acusada da morte de um jovem militante suspeito de ser informante da polícia. Condenada, teve a prisão transformada em multa.
Apesar da condenação, conseguiu ser novamente eleita ao cargo de presidente do CNA, no qual esteve até 2003. No governo de Mandela, Winnie ocupou a pasta de ministra das Artes, Cultura, Ciência e Tecnologia, mas foi demitida pelo esposo sob alegação de mau uso dos recursos financeiros em 1995.
Divórcio e críticas
Os escândalos causaram desgaste ao relacionamento e ajudaram a pôr fim à união de 38 anos. Em 20 de maio de 1996, Winnie e Nelson se divorciaram. Nelson morreu aos 95 anos, no dia 5 de dezembro de 2013. Anos antes, a ex-esposa o criticou duramente. “Ele foi para a prisão como um jovem revolucionário e olha como saiu”, comentou Winnie. Ela afirmou que o líder havia decepcionado profundamente os negros sul-africanos ao não realizar uma distribuição de renda.
Em 2001, foi considerada culpada por 43 acusações de fraude e 25 de roubo. A justiça a condenou a três anos e meio de prisão. Em 2003, renunciou à presidência da Liga das Mulheres e foi eleita para o Comitê Executivo Nacional do CNA em 2009.
Winnie Mandela morreu no dia 2 de abril de 2018, aos 81 anos, em um hospital de Joanesburgo. Segundo um porta-voz da família, ela sofria há muito tempo de uma doença que a obrigou a passar por várias internações. Apesar das controvérsias envolvendo sua trajetória, indiscutivelmente Winnie foi uma das guerreiras que lutou para pôr fim a um regime cruel, baseado no racismo, na violência e na exploração do povo.