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União pela igualdade
Publicado em
27/11/2008 09h00
Atualizado em
25/03/2024 10h18
“Zumbi, meu rei,
Seu grito desceu a serra, se espalhou pelas Alagoas.
Seu grito se fez canto de libertação cantado até hoje pelo povo irmão!”
Este cântico, entoado pela ialorixá Mãe Neide Oyá D`Oxum, acompanhou a colocação de uma coroa de flores no monumento a Zumbi dos Palmares pelo ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, em 22 de novembro. O ato fez parte da programação de encerramento das comemorações da Semana da Consciência Negra no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas. O ministro liderava uma comitiva formada pelo governador do Estado, Teotônio Vilela Filho, o secretário de Estado de Cultura, Osvaldo Viégas, a secretária de Estado da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, Wedna Miranda, o prefeito de União dos Palmares, Areski de Freitas, e o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo.
No percurso até o monumento, a comitiva foi precedida por integrantes do Afoxé Odo Ya, que dançavam ao som de atabaques e abriam caminho jogando folhas ao chão, tal e qual em alguns rituais religiosos de matriz africana. A certa altura, Oxum, ladeada por Iansã, Oxossi, Xangô e Ogum – na verdade, integrantes do grupo Ara Funfun Omangerê paramentados como as divindades africanas -, entregou ao ministro a coroa que seria depositada no monumento. Foi quando Mãe Neide puxou o emocionado cântico, encerrando a reverência àquele que é considerado o grande herói da resistência à escravidão negra no Brasil.
Espaço sagrado – e público
No Espaço Caá-Puêra, onde anfitriões e convidados se reuniram para os pronunciamentos oficiais, foi anunciado o projeto de pavimentação de acesso ao Parque. Além disso, a atuação do prefeito Areski de Freitas nas atividades do 20 de novembro este ano recebeu elogios praticamente unânimes.
Zulu Araújo aproveitou a ocasião para fazer uma breve prestação de contas das realizações da Fundação Cultural Palmares no Parque Memorial desde que foi inaugurado há um ano. Na época, por sugestão do governador Teotônio Vilela Filho acatada pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil, ficou acordado que a gestão do Parque deveria ser compartilhada entre os governos federal, estadual e municipal e a sociedade civil. Com isso, criou-se um Comitê Gestor para o local, composto por representantes dessas esferas e de vários segmentos – como capoeira, religiosidade afro-brasileira e quilombos -, que desde então vem cumprindo o compromisso assumido pelo Ministério da Cultura e a Fundação Cultural Palmares. Também ficara combinado que era necessário aperfeiçoar tanto a limpeza quanto a segurança na Serra da Barriga, e a Fundação fez duas licitações para contratação de mais recursos humanos em ambos os setores. Foram ainda promovidas oficinas de trabalho – como cerâmica, palha, farinhada, artesanato, trançado, torso – com quilombolas e jovens afro-alagoanos, abrangendo aproximadamente 250 pessoas e dando continuidade às ações de etnodesenvolvimento que cabem à instituição.
Lamentando sua ausência nas atividades da Semana da Consciência Negra no Parque Memorial, Zulu Araújo apresentou uma justa explicação: estava, primeiro, em Cabo Verde, na África, representando o Brasil e o ministro Juca Ferreira no Fórum Internacional de Economia da Cultura, e depois no Rio de Janeiro, onde, assim como o presidente da República e o ministro da Igualdade Racial, prestigiou “um dos atos mais importantes que a História republicana praticou nos últimos anos: a reparação a João Cândido, o `Almirante Negro`, após 98 anos de injustiça”.
Tomando por testemunhas as autoridades governamentais, o presidente da Fundação enfatizou: “Como se pode constatar, o Parque Memorial, além de limpo e seguro, não está abandonado, como alguns têm tentado impingir reiteradas vezes. Na verdade, o que está por trás disso – é preciso que se diga – é uma tentativa de privatização da Serra da Barriga. E isto a Fundação Palmares não permitirá. Não há razão para que isso aconteça, mas sim para uma ação mais coesa de todos os entes federativos. Assim poderemos trazer o turismo étnico e cultural que desejamos, o respeito e a dignidade que este espaço merece. O espaço de Zumbi é uma referência para o mundo como espaço de liberdade”.