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UnB confere título de Doutor Honoris Causa a Abdias do Nascimento
A Universidade de Brasília (UnB) confere nesta quarta-feira, às 17, em solenidade a ser realizada no auditório da Reitoria (prédio da Reitoria da UnB, 2ºAndar, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília/DF), o título de Doutor Honoris Causa ao ex-senador e artista plástico Abdias do Nascimento.A história de Abdias Nascimento confunde-se com as raízes do movimento negro no país e no mundo. Agora, quando apenas dez anos separam o mais longevo líder negro do século XX dos 100 anos de idade. Político, artista plástico, poeta e escritor, Abdias é o centro da exposição “Abdias Nascimento, 90 anos – Memória Viva” que se encontra aberta ao público em Brasília, na Galeria Athos Bulcão do Teatro Nacional.
O criador
“O que o Brasil rejeita não é tanto a cor da pele, mas sim a África. O Brasil não quer ser africano.”
Nascido em 1914, em Franca, SP, e neto de africanos escravizados, bem cedo Abdias teve consciência do mundo que teria enfrentar. Segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro, Abdias várias vezes testemunhou brigas de sua mãe contra ofensas motivadas por questões raciais. Ele conta que o primeiro grande ensinamento na defesa do povo afro-brasileiro ocorreu quando, ainda criança, viu sua mãe sair em defesa de um menino negro órfão que estava sendo espancado na rua por uma mulher branca.
Abdias cresceu numa família coesa, carinhosa e organizada, porém pobre, e diplomou-se em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929. Com 15 anos, alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo. Ali, na década de 1930, engaja-se na Frente Negra Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938.
No início da década de 40, como integrante da Santa Hermandad Orquídea, viaja com poetas brasileiros e argentinos para uma série de palestras pela América do Sul. Em Lima, no Peru, resolve assistir a uma montagem de O imperador Jones, de Eugene O’Neill, estrelada por um ator branco pintado de preto. A imagem o fez refletir sobre a presença/ausência de atores negros no teatro brasileiro. Em 1944, ele cria o Teatro Experimental do Negro, que além de abordar a estética e a identidade da cultura afro-brasileira, foi responsável por formar os primeiros atores negros do teatro no Brasil. A entidade ainda patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46, que propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.
À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950. Militante do antigo PTB, é afastado do Brasil em 1968, indo viver nos Estados Unidos, onde atua como conferencista e professor. Desde o exílio, participa da formação do PDT. De volta ao Brasil, lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT.
Na qualidade de primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresenta projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991, 1996-99), continua essa linha de atuação. O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, em 1999, assume como titular-fundador a cadeira de Secretário de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 2004, seu nome é indicado como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Abdias é hoje o homem símbolo da luta pela igualdade racial no Brasil.