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Um prêmio de todos
A entrega do prêmio Troféu Palmares, desfile de moda afro e show de Luiz Melodia e
Lazzo Matumbi encerram programação do 21º aniversário da Fundação Cultural Palmares,
no último dia 22, no Teatro Nacional.
“Este prêmio não é só meu. Apenas represento várias pessoas que não estão mais aqui. Sou apenas uma descendente a representá-las. Sou apenas uma representante do meu povo com a ânsia de um Brasil melhor e igualitário”, disse Mãe Beata de Iemanjá, uma das homenageadas da noite.
Beatriz Moreira Costa, a Mãe Beata de Iemanjá, é religiosa de matriz africana do candomblé iniciada há mais de 50 anos, conhecida sacerdotisa e ativista social na cidade do Rio de Janeiro, dedica-se há décadas ao combate à intolerância religiosa, à discriminação racial e de gênero, contra a violência à mulher, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e defesa do meio ambiente. Não à toa já recebeu vários prêmios em sua trajetória, como o diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz de 2007, do Senado Federal Berta Lutz; o diploma Mulher-Cidadã, conferido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 2009; entre outros.
Ela não poupou elogios à atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se dedica exaustivamente à questão racial. Em entrevista ao site da Palmares, ela declara esse sentimento de gratidão ao presidente Lula. “É uma grande maravilha, graças aos deuses, aos nossos ancestrais, o nosso presidente Lula soube escolher pessoas de fato com integridade e com consciência de suas raízes para ajudá-lo a conduzir o Brasil”, disse.
Ela conta o quanto ficou sensibilizada ao abrir o cortejo da lavagem na Fundação Palmares, pois “estou vendo os negros, principalmente as mulheres negras, chegando de fato ao nosso lugar, onde sempre deveríamos estar, com tanta visibilidade”. Filha de políticos, Mãe Beata declara-se esperançosa de que as sementes plantadas hoje possam frutificar bem amanhã.
Emocionada, ao receber a condecoração, Mãe Beata faz presente a guerreira N´Zinga, a escrava Anastácia, Mãe Olga do Alaketo, Clementina de Jesus “e outras mulheres que não tiveram a oportunidade de estar aqui recebendo este troféu, pertencente a todas as mulheres de todo o mundo, das favelas, a todas aquelas que choram por seus filhos. Em nome de todas e com a força dos meus orixás que divido com os irmãos e irmãs desse meu Brasil esse troféu”.
Outra premiada, a professora e ex-deputada Ester Grossi, também sensibilizada com a condecoração, conta da sua luta pela educação básica no país e como trabalha pela aplicação da lei 10.639/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura da África e dos afro-brasileiros nas grades curriculares do ensino médio e fundamental. “A primeira lei sancionada pelo presidente Lula”, conta ela, orgulhosa.
Ela disse estar à disposição da Fundação Palmares para ajudar no que for preciso para a aplicação da lei nas escolas. “Esse troféu faz uma relação da lei com a minha pessoa de educadora”. Ao receber o troféu, a professora Ester nomeou a educação como elo integrador de raças e classes, “pois todas as inteligências são iguais” e citou Piaget, autor da célebre frase: “Nasceu gente é inteligente”.
O escritor e ator Haroldo Costa, outro homenageado pela sua enorme contribuição para a disseminação da cultura afro-brasileira, parabenizou os 21 anos da Palmares como uma grande vitória coletiva, “uma entidade que vingou pela sinceridade de suas propostas”. Quanto ao prêmio, ele disse: “Só engrandece a minha existência”.
Sempre ligado às legítimas manifestações culturais brasileiras, o carioca Haroldo Costa também se sente como a Mãe Beata ao reconhecer os feitos do atual governo na promoção da igualdade racial. “É um avanço, estamos melhores. Hoje, a presença do negro em peças publicitárias mostra a proporcionalidade de nossa etnia”, declarou. Além de autor de vários livros, Haroldo Costa, também ator, começou sua iniciação teatral no Teatro Experimental do Negro. Em 1962, foi convidado por Vinicius de Moraes para protagonizar a peça “Orfeu da Conceição”.
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, destacou o papel da Fundação Palmares e sua responsabilidade frente à promoção de políticas de valorização da cultura afro-brasileira. “A Fundação Cultural Palmares ressalta a matriz da cultura afro para a massa, divulga a singularidade do que representa essa cultura”.
Para expressar com mais exatidão o que ele estava dizendo, o ministro relatou o que disse a ele o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade: “Quando nós, africanos, olhamos para o Brasil, é como se nos víssemos no espelho e a imagem que o Brasil nos devolve é muito boa”.
Ainda segundo Juca Ferreira, o clima que se instalou nessa comemoração lhe é muito familiar e de identidade, “uma celebração à vida através dos tambores dessa cultura fantástica … Minha reverência à matriz africana que nos dá parte de nossa identidade”.
Além do prêmio, pudemos presenciar um grande público e pessoas comprometidas com a luta pela igualdade racial, como a senadora Marina Silva, que declarou gratamente surpresa com as homenagens da noite. Para ela, o troféu Palmares representa um espaço de reconhecimento que cada pessoa dá para reforçar os saberes e a identidade brasileira, além de uma oportunidade para que outras pessoas possam também se sentir valorizadas.
Após as homenagens, o show de Lazzo Matumbi e Luiz Melodia encerra em grande estilo e muita alegria a semana de comemoração de mais um aniversário da Palmares.