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Tradições afro-brasileiras encerram programação cultural da Rio+20
O presidente da FCP, Eloi Ferreira de Araujo, anuncia os homenageados da noite.
Por Jacqueline Freitas
Um encontro de jongos e uma homenagem a expoentes da cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro marcaram o encerramento da programação cultural da Rio+20 na última sexta-feira (22), no Galpão da Cidadania, na Zona Portuária da cidade.
Em uma série de atividades paralelas ao maior evento das Nações Unidas – que durante nove dias movimentou a Cidade Maravilhosa –, o Ministério da Cultura promoveu encontros, seminários, palestras e mesas redondas cujo objetivo principal foi inserir definitivamente a cultura como o quarto pilar do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, as atividades realizadas pela Fundação Cultural Palmares destacaram-se entre as que reuniram o maior número de participantes.
No último dia da Rio+20, o reconhecimento à importância dos antepassados e das gerações mais velhas, principalmente africanos e afrodescendentes, para a construção da identidade brasileira deu o tom das apresentações culturais no Galpão da Cidadania.
No início da tarde, os grupos de jongo da Serrinha e do Quilombo de São José cantaram e dançaram juntos, com seus tambores atraindo a plateia para a roda. O Afoxé Raízes Africanas e o Jongo do Pinheiral se apresentaram no final da tarde, antecedendo as homenagens a personalidades das tradições culturais afro-brasileiras no Rio de Janeiro.
Guardiões – O presidente da Fundação Cultural Palmares reverenciou e pediu a bênção às ialorixás Mãe Beata de Iemanjá, Mãe Meninazinha de Oxum, Mãe Regina Lúcia de Iemanjá, Mãe Torody de Ogum, Mãe Márcia de Oxum, Mãe Edelzuita de Oxaguiã e Mãe Tânia de Iansã, assim como ao babalorixá Pai Zezito de Oxum e o ogã Luiz Bangbala. Todos foram reconhecidos pelo presidente Eloi Ferreira como autênticos guardiões da cultura negra no Brasil.
Também foram homenageadas a mestra jongueira Fatinha, do Jongo do Pinheiral, e Merced Guimarães, pelo seu importante trabalho de preservação de nossa memória e história à frente do Instituto Pretos Novos – a ponta do iceberg de um verdadeiro sítio arqueológico que ela encontrou casualmente, há cerca de 15 anos, quando iniciava a reforma de sua casa, na Gamboa, que também fica na Zona Portuária carioca.
Pequena África – Junto com os bairros Santo Cristo e Saúde, a Gamboa compõe o entreposto conhecido como Valongo, por onde os historiadores estimam a passagem de cerca de 1 milhão de africanos escravizados. Estudos indicam que ali os escravos eram enterrados em covas coletivas, muitos deles vivos, por estarem doentes. Marcada pela história da escravidão, a Zona Portuária do Rio é também conhecida como Pequena África, e abriga ainda a Pedra do Sal, núcleo simbólico do trabalho dos estivadores, negros recém-libertos, e que também faz referência à origem do samba.
Jongo – A dança, também conhecida como caxambu, tem origem na região africana do Congo-Angola, e chegou ao Brasil Colônia com os hoje chamados “negros bantos” (na verdade, a expressão bantu define um tronco linguístico com inúmeras ramificações, compartilhadas entre diferentes povos africanos). Trabalhando como escravos em fazendas, esse contingente de negros e de seus descendentes chegou a significar, em alguns momentos da História, mais da metade da população da região Sudeste do Brasil.
Naqueles tempos, dançar o jongo era um dos raros momentos proporcionados pelos fazendeiros aos escravos. A dança é permeada por forte expressão religiosa, mantendo a presença de símbolos sagrados, e influenciou decisivamente o nascimento do samba no Rio de Janeiro. No início do século 20, era o ritmo mais tocado no alto das primeiras favelas, antes mesmo de o samba nascer e se popularizar.
Cultura e sustentabilidade – Enfatizando que, assim como as comunidades quilombolas, os templos religiosos afro-brasileiros têm importante papel no desenvolvimento sustentável, ao cultuar e, portanto, preservar a natureza, o presidente da Fundação Cultural Palmares afirmou que o desafio da sustentabilidade não se encerra na Rio+20. “Não nos afastaremos nunca de pensar o meio ambiente, e se hoje reverenciamos estas personalidades que aqui estão, é porque são guardiões não só da herança cultural de nossos antepassados, mas de todos que lutam por uma sociedade mais justa e um mundo melhor, preservado e sustentável”, disse Eloi Ferreira.