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Teixeira e Sousa – escritor, afrodescendente e pioneiro do romance brasileiro
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo (C), participou das celebrações
Joceline Gomes
Em 2012 celebraremos o fato de que, há 200 anos, nascia um grande escritor, precursor do romance brasileiro como o conhecemos: Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa. Afrodescendente e contemporâneo de uma época em que se buscava uma identidade literária para o novo país independente, Teixeira e Sousa criou nosso primeiro romance: O Filho do Pescador.
Cabo Frio (RJ), cidade natal do escritor, orgulha-se de seu grande expoente e promove, anualmente, uma semana de eventos em sua homenagem. Este ano, aconteceu a 21ª edição da Semana Teixeira e Sousa, com palestras, apresentações musicais, gincana de artes plásticas, exposições e feira de livros, contando com o apoio da Fundação Cultural Palmares, por intermédio de sua representação no Rio de Janeiro.
“É uma iniciativa extraordinária”, resume o presidente da Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, que participou do evento, ao lado do titular da representação carioca, Benedito Almeida.
Falecido aos 49 anos, em 1861, o mulato de Cabo Frio inspirou o jovem Machado de Assis, que escreveu um longo poema dedicado ao escritor que lhe ensinara o ofício de tipógrafo. Em 1855, Machado exaltou a obra lírica de Teixeira e Sousa, chamando-o de Gênio Americano. Nele, personagens populares vivem o clima tropical e o ambiente social da época, em tramas folhetinescas que inspiram os enredos das novelas televisivas até hoje.
CARREIRA – A própria vida de Teixeira e Sousa tem muito de romanesco. De origem popular (filho de um português, marceneiro construtor de barcos, e de uma negra), ficou completamente órfão na adolescência, quando se iniciou precocemente no mundo do trabalho, seguindo a profissão do pai. O contato com trabalhadores de todas as classes influenciou a obra do autor, que começou a escrever sobre o assunto aos 28 anos.
O romance inaugural de Teixeira e Sousa e da literatura nacional – O Filho do Pescador, de 1843 – envolve tipos populares, intrigas, crimes, sedução, surpresas e um desenlace que envolve o toque brasileiro da cordialidade e do perdão sob o ponto de vista católico, predominante na época, cabendo à vilã reparar seus erros internando-se num convento.
NEGRO HERÓI – O negro nobre e heróico, apesar de escravizado, aparece logo nesse primeiro romance, afirmando o que defendia Teixeira e Sousa: a igualdade entre os homens. Brancos maus e bons, negros maus e bons, os vícios sociais dominantes, o triunfo do amor num ambiente social característico do dia a dia do leitor – esta é a base da prosa romântica do autor.
O escritor, mulato e pobre, destaca em especial a figura do negro, numa crítica à escravidão: sempre há em seus enredos um escravo de grande integridade moral, dotado de atitudes heróicas – manifesto implícito do autor a favor da igualdade racial. Seria por isso que a narrativa de Teixeira e Souza desagradava os críticos literários, em plena era do “racismo científico”?
O autor ressalta em suas obras um país injusto e exalta o negro como sujeito, ser humano pleno, e não como mero objeto de trabalho – características pioneiras e altamente criticadas à época. Mesmo assim, “os homens das letras” de então concederam a ele um lugar de destaque entre os escritores do período.
A OBRA
A obra de Teixeira e Sousa envolve a produção de romances, poesia e teatro, entre 1840 e 1855, dos 28 aos 43 anos. A partir de 1855, dedica-se ao trabalho de reeditar obras.
Os romances são: “O Filho do Pescador” (1843), “As Fatalidades de Dois Jovens” (1846), “Tardes de um Pintor ou As Intrigas de um Jesuíta” (1847), “Gonzaga ou a Conjuração de Tiradentes” (1848-51), “Maria ou A Menina Roubada” (1852), “A Providência” (1854).
Em poesia, compôs “Cânticos Líricos” (1841-42), “Os Três Dias de um Noivado” (1844) e “A Independência do Brasil” (1847-55).
Em teatro, Teixeira e Sousa escreveu “Cornélia” (1840), “O Cavaleiro Teutônio ou A Freira de Marienburg” (1855), além de “As Mensagens de Amor” e “A Sorte” (1851).
22ª. SEMANA
Para melhor organizar a 22ª Semana Teixeira e Sousa, uma comissão foi criada na prefeitura de Cabo Frio. A Comissão comemorativa dos 200 anos de nascimento de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa tem por objetivo construir uma agenda de debates e uma ampla programação para a Semana de 2012, ano do bicentenário do escritor. Além disso, viabilizará a publicação do conjunto de sua obra e investirá na produção de conhecimento sobre a memória do autor cabo-friense.
Fonte: Revista O Prelo, da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro
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2011 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Mundial dos Povos Afrodescendentes.