Notícias
Teia 2014: Jovens negros e negras reescrevem suas histórias por meio da cultura
É atuando como mantenedores da cultura que os/as jovens negros e negras combatem o genocídio da juventude afro-brasileira. A forma como esse processo tem acontecido no país motivou a 4ª edição do Projeto Escambo Cultural, realizada durante a Teia Cultural da Diversidade 2014, em Natal/RN, na tarde de sexta-feira 23/05. Agentes culturais de várias partes do Brasil estiveram no debate sobre protagonismo juvenil.
Representando a Agência Solano Trindade/SP, Thiago Vinícius falou sobre o trabalho para o fomento da cultura periférica na Região Sul paulista. Segundo o ativista, a agência atua em defesa da diversidade cultural dos povos tradicionais, utilizando a economia solidária como fio condutor para o debate sobre a inserção jovem no desenvolvimento econômico.
Mais ação do Estado – Suellen da Silva, jovem de terreiro e integrante do Jongo da Serrinha, fez uma provocação a mesa pedindo informações concretas sobre o trabalho da Fundação Cultural Palmares (FCP-MinC) e do Plano Juventude Viva para de fato solucionar a situação de vulnerabilidade social e econômica da juventude negra. “Já falamos demais, queremos ação”, disse.
“O racismo é o maior responsável pelo genocídio da juventude negra”, considerou Geovan Banto, articulador do Plano Juventude Viva. Geovan explicou como funciona o Plano , quais ações estão sendo desenvolvidas e as alternativas reais que o Plano pode dar. “O que vimos dizendo para o governo é que não queremos somente sensibilidade, já temos os dados, estão ai. Queremos agora ações concretas”, concluiu.
A Rede Mocambo/MA esteve representada nos Fórum por Milton Omiloté. Ele contou que o coletivo tem construído novas linguagens e tecnologias para fortalecer os debates sobre territorialidade e tradição. “A educação é historicamente racista. Existe uma ideologia da eugenia branca massacrando as nossas crianças e jovens negros”, pontuou. Segundo ele, a Lei 10.639/2003 e o Plano Juventude Viva precisam, também, apresentar formas de solucionar essas questões.
Mais espaço para a juventude – André de Moraes, do Jongo do Dito/SP, falou sobre a necessidade de mais protagonismo para a juventude negra, pois “quando a juventude não tem espaço, ela vai para criminalidade, pois ali eles encontram”, alertou. André conta que logo deixará de ser jovem e espera que outros possam assumir o trabalho que vem desempenhando junto a juventude de terreiro. “Somos diversos e o Estado precisa entender isso, temos que estar incluídos em todos os espaços de deliberação”, pontuou.
Do Sergipe, a jovem de terreiro Everlane Santos contou que o interior do estado tem a maior concentração de grupos folclóricos do país. Ela acredita que a juventude tem o papel de manter essa cultura na tentativa de desconstruir o imaginário racista que ainda os cerca. “O jovem produz e se reproduz e é um direito deles se colocarem como continuadores da sabedoria dos mais velhos”, disse. A jovem reconhece as dificuldades de abertura de espaços para os jovens e às culturas afro-brasileiras. “Protagonizar a cultura no Brasil não é fácil, pois ao mesmo tempo que temos uma cultura diversa, não temos espaço para difundi-la”, concluiu.
Participaram dos debates o dançarino Jefferson Cebolinha, do Bonde do Passinho/RJ, a rapper Karol Raiol/SP. A moderação da mesa ficou por conta de Douglas Santos, da Fundação Palmares, e Arthur Leandro, do Colegiado Setorial Afro-brasileiro, do Conselho Nacional de Políticas Culturais.
Arte Negra – Unida aos debates sobre juventude, agente culturais negros embarcaram nos debates e fortaleceram a presença e a atuação dos jovens no campos das manifestações artísticas e culturais afro-brasileiras. “Dignidade e democracia cultural, nos negros somos protagonistas dessa história, lutar pela honestidade dessa cultura e visibilidade da cultura negra”, disse a atriz Naira Fernandes, integrante do Coletivo Akoben.
Jana Agnon contou sua experiência na arte cênica e as formas que encontrou para driblar o racismo que ainda resiste na profissão. A atriz criticou a política de editais de incentivo a cultura e a suspensão dos editais para agentes culturais negros, lançado pelo Ministério da Cultura, em parceria com a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), “somente o fato de impedir o andamento do processo, vemos o racismo institucional o qual estamos inseridos”, disse. Jana falou sobre o coletivo Meninas Black Power, que trabalha a valorização da identidade negra em escolas do Rio de Janeiro.
Adriano de Jesus, da Rede Kultafro, falou sobre capacidade da cultura de superar a invisibilidade do povo negro. Adriano criticou o embraquecimento das tradições afro-brasileiras, “nossa cultura tem que ser compartilhada e não apropriada pelo sistema branco. A gente enfrenta o racismo encarando o sistema”. O produtor cultural explicou a escolha de contratar mão de obra negra para seus trabalhos, segundo ele, além de dar oportunidade o trabalho flui com facilidade. “O processo cultural é colaborativo”, considerou.
O presidente da Fundação Palmares, Hilton Cobra, também participou da mesa e falou sobre os projetos que estão em andamento na Fundação, assim como as articulações para a construção do Plano Setorial de Políticas Culturais Afro-brasileiras e a necessidade urgente de uma política cultural que compreenda as especificidades da cultura de matriz africana.