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SUCESSÃO: Aplausos e emoção no Ministério da Cultura
Juca Ferreira (E), Ana de Hollanda e Wagner Barja, no momento solene da execução do Hino Nacional
Por Suzana Varjão
– Obrigado, Juca!
Às primeiras palavras proferidas pelo mestre de cerimônias, a plateia que lotou, ontem, o auditório do Museu da República ficou de pé e aplaudiu calorosamente. Ao lado de Ana de Hollanda, a nova titular da pasta, Juca Ferreira controlou as lágrimas, que mais tarde deixaria correr, ao falar da família, no discurso de despedida. Assim, com muita emoção e civilidade, transcorreu a cerimônia de transmissão de cargo do Ministro da Cultura. Com balanço e promessas também.
Juca começou a fala agradecendo ao ex-presidente Lula, por este ter compreendido o “papel estratégico da cultura para um projeto de nação”; saudou o antecessor (“Gil, aquele abraço!”); deu as boas vindas à sua sucessora, desejando-lhe “muito sucesso”; e fez uma síntese de sua gestão: “Nesses últimos oito anos, nos dedicamos de corpo e alma a fazer de um ministério inexpressivo, como o que herdamos, um instrumento poderoso de apoio a artistas, criadores, intelectuais, investidores e produtores”.
A MINISTRA – Igualmente aplaudida de pé, Ana de Hollanda começou enfatizando ser a primeira mulher a assumir o Ministério da Cultura. E deu um recado delicado, mas contundente, lembrando que “durante a campanha presidencial vitoriosa, a candidata Dilma lembrou muitas vezes que sua missão era continuar a grande obra do presidente Lula. Mas nunca deixou de dizer, com todas as letras, que continuar não é repetir. Continuar é avançar no processo construtivo”.
Articulado, o discurso de Ana foi do social ao artístico, com ênfase na produção – melhor dizendo, criação – e consumo de bens culturais. Hollanda anunciou que seu ministério estará “organicamente conectado” às metas de erradicação da miséria e alargamento da ascensão social do governo de Dilma. Mas pontuou ser necessário também “ampliar a capacidade de consumo cultural da multidão de brasileiros que está ascendendo socialmente”.
– Até aqui, essas pessoas têm consumido mais eletrodomésticos e menos cultura. É perfeitamente compreensível. Mas a balança não pode permanecer assim tão desequilibrada.
E para diminuir esse desequilíbrio, fez um apelo ao Congresso Nacional: “Por favor, vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale Cultura, para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora. Cesta que não deve ser apenas ´básica´ – mas básica e essencial para a vida de todos […]. Em suma, o que nós queremos e precisamos fazer é o casamento da ascensão social e da ascensão cultural”. Novas e entusiásticas palmas.
PONTOS DE CULTURA – Em outro trecho muito aplaudido de sua fala, a ministra garantiu que dará continuidade a iniciativas como “Pontos de Cultura, programas e projetos do Mais Cultura, intervenções culturais e urbanísticas já aprovadas ou em andamento”. E enfatizou: “Minha gestão jamais será sinônimo de abandono do que foi ou está sendo feito. Não quero a casa arrumada pela metade. Coisas se desfazendo pelo caminho. Pinturas deixadas no cavalete por falta de tinta”.
Enfim, não faltaram emoção, exercício democrático e sinais de responsabilidade social na troca de poderes no Ministério da Cultura. Finalizando a concorrida cerimônia, uma veemente promessa: “A partir deste momento em que assumo o Ministério da Cultura, cada artista, cada criadora ou criador brasileiro pode ter a certeza de uma coisa: o meu coração está batendo por eles. E o meu coração vai saber se traduzir em programas, projetos e ações”.
QUEM É _____________
ANA DE HOLLANDA, 62 anos, pertence a uma família de intelectuais e artistas, sendo uma das sete filhas do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Alvim. Mais conhecida como cantora e compositora, atua politicamente desde jovem, tendo pertencido aos quadros do extinto Partido Comunista Brasileiro (PCB). Na gestão pública, destacou-se, dentre outros cargos que ocupou, no comando da Funarte (2003 – 2007) e da Secretaria de Cultura de Osasco.
Trechos do discurso de Juca Ferreira _____________
“Tivemos que vencer a inércia e a tradição, a dificuldade de compreensão acerca da importância da cultura para o desenvolvimento do Brasil […] e da dimensão simbólica para a realização da condição humana de cada brasileiro”;
“A gestão que agora assume encontra uma instituição que finalmente ganhou relevância, despertando um inédito interesse da sociedade e da opinião pública. Uma instituição que possui, hoje, sete vezes mais recursos orçamentários”;
“Desejo muito sucesso ao governo que agora começa, e à nova ministra, me dispondo a colaborar em tudo o que estiver ao meu alcance para que conquistemos o Brasil que queremos, um Brasil de todos”.
Leia a íntegra do discurso de Juca Ferreira em:
http://www.cultura.gov.br/site/2011/01/03/posse-da-nova-ministra/
Trechos do discurso de Ana de Hollanda ___________
“Um momento novo está amanhecendo na história do Brasil, quando, pela primeira vez, uma mulher assume a Presidência da República. Por essa razão, me sinto também privilegiada pela escolha”;
“Cabe a nós alargar o acesso da população aos bens simbólicos. Porque é necessário democratizar tanto a possibilidade de produzir quanto a de consumir”;
“A criação será o centro do sistema solar de nossas políticas culturais e do nosso fazer cotidiano. Por uma razão muito simples: não existe arte sem artista”;
“Visões gerais da questão cultural brasileira, discutindo estruturas e sistemas, muitas vezes obscurecem – e parecem até anular – a figura do criador e o processo criativo. Se há um pecado que não vou cometer, é este. Pelo contrário: o Ministério vai ceder a todas as tentações da criatividade cultural brasileira”.
Leia a íntegra do discurso de Ana de Hollanda em:
http://www.cultura.gov.br/site/2011/01/03/discurso-de-posse-da-ministra-da-cultura-ana-de-hollanda/