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Seminário debate roteiro de proteção aos sítios históricos mundiais
Andrea Camille, do Centro de Patrimônio Mundial; Paul Lovejoy, diretor do Instituto of Harriet Tubman e Ali Moussa-Iye, diretor do Projeto A Rota do Escravo
Ascom/FCP
O primeiro dia de atividades do Seminário Internacional “Herança, Identidade, Educação e Cultura: gestão de sítios históricos ligados ao tráfico negreiro e à escravidão” foi marcado por intensas manifestações de apoio à cultura afro-brasileira.
O evento é baseado na linha de pesquisa da Unesco, do projeto “A Rota do Escravo”, que desde o seu lançamento em 1994 implementou um programa sobre o tráfico negreiro que marcou as relações entre a África, a Europa e as Américas. Um dos principais objetivos do projeto é a elaboração de um guia conceitual e metodológico dirigido aos gestores culturais, que facilitará a instalação de turismo de memória em torno dos sítios, lugares, monumentos e museus ligados ao tráfico negreiro e à escravidão.
Uma das mesas de debate foi fundamentada nas discussões em torno das experiências e as práticas exemplares para a valorização e gestão do turismo de memória nas diferentes regiões do mundo. Entre os palestrantes estavam Paul Lovejoy do Instituto of Harriet Tubman; Ali Moussa –Iye, diretor do projeto A Rota do Escravo, e Andrea Camilla Richards, do Centro de Patrimônio Mundial. O evento foi acompanhado por pesquisadores, militantes do movimento negro, religiosos de matriz africana, representantes de quilombos e estudantes.
Na ocasião, Ali Moussa-Iye ressaltou a importância das Cúpulas de Salvador e de Durban como oportunidades de reconhecimento da justiça e do desenvolvimento para os sítios de memória e também como inspiração para a criação da Década dos Povos dos Afrodescendentes instituída pela Organização das Nações Unidas, a partir de dezembro deste ano.
O seminário reunirá por três dias profissionais de preservação e promoção de sítios e lugares de memória ligados à escravatura, gestores envolvidos em desenvolvimento de políticas públicas, autoridades e especialistas da África, das Américas, do Caribe, do Oceano Índico e Europa.
40 anos de World Heritage Convention – O programa de catálogos preserva locais de excepcional importância cultural ou natural, do patrimônio comum da humanidade. Foi fundado com a Convenção sobre a proteção do mundo Patrimônio Cultural e Natural, em 1972. Desde então, 189 Estados partes ratificaram a Convenção.
A Convenção estabeleceu cinco objetivos estratégicos, conhecidos como os 5Cs: reforçar a credibilidade do patrimônio mundial, garantir sua conservação efetiva, promover capacitação, sensibilizar por meio da comunicação, e valorizar o importante papel da comunidade.
A lista de lugares escolhidos, organizada pela Unesco, a partir de especial significado cultural ou físico é composta por 21 estados membros. Em 2012, 962 sites foram listados: 745.188 cultural, natural e 29 propriedades mistas, em 157 Estados-partes. A Unesco faz referência a cada local de património mundial com um número de identificação. Cada patrimônio permanece parte do território do Estado onde se encontra o sítio jurídico. A organização considera do interesse da comunidade internacional para preservar cada site.
Segundo a Convenção são considerados patrimônios culturais:
Os monumentos – obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de caráter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos – grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal, excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os locais de interesse – obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.
Cada um dos Estados-parte na presente Convenção deverá reconhecer que a obrigação de assegurar a identificação, proteção, conservação, valorização e transmissão às gerações futuras do patrimônio cultural e natural situado no seu território é primordial. Para tal, deverá esforçar-se, quer por esforço próprio, utilizando no máximo os seus recursos disponíveis, quer, se necessário, mediante a assistência e a cooperação internacionais de que possa beneficiar, nomeadamente no plano financeiro, artístico, científico e técnico.
Lançamento de obra literária – No intervalo do Seminário foi lançado o livro Diversidade Cultural Afro-Brasileira: ensaios e reflexões fruto do Prêmio Palmares de Dissertações e Monografias – a publicação reúne 15 artigos escritos pelos autores das pesquisas premiadas na categoria Dissertação. A publicação inaugura o selo “Conheça Mais”, criado pela Fundação Palmares, a fim de oferecer à sociedade conteúdos diversos sobre a riqueza e pluralidade da cultura e do patrimônio afro-brasileiros.
A ideia é que o livro possa contribuir como referencial teórico na aplicação da Lei 10.639/2003, e que venha a ser um instrumento de combate à exclusão racial também no campo da ciência, contribuindo para a análise do protagonismo dos negros no processo de formação da nacionalidade brasileira.
Ainda em 2012, a FCP lançará o selo edital do Prêmio Palmares, abrindo oportunidades também as teses de doutorado.
O presidente de Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo agradeceu a participação das instituições parceiras e manifestou toda sua satisfação em realizar esta série de ações alusivas a festa de comemoração dos 24 anos da Palmares.
“Essas realizações nos dão a dimensão do trabalho iniciado pelas gestões anteriores, atualmente, executado pelo compromisso das diretorias da Fundação Palmares que hoje consolidam a importância da instituição como referência de cultura afro-brasileira”, ressalta.