Notícias
São Paulo pede paz no Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra
Eloi Ferreira dá início às atividades do 20 de novembro em São Paulo
Por Daiane Souza
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, na capital paulista, teve início com um pedido universal de harmonia entre os povos de todas as raças. Líderes de diversas religiões transmitiram as demandas sociais de seus seguidores e ressaltaram a necessidade de respeito às suas filosofias. Eles destacaram a importância da superação dos preconceitos na perspectiva da construção de um país democrático e unido pela paz.
Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares, deu início às atividades do 20 de novembro no Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, recordando o momento histórico da escravidão no Brasil e suas consequencias. Ele citou o líder negro Zumbi dos Palmares e João Cândido, responsáveis por mudanças que se reverteram em importantes avanços sociais. O primeiro foi ícone na luta pela libertação dos escravizados no país. O segundo teve relevante papel no processo de humanização dos negros no período pós-abolição.
Para Eloi Ferreira, o 20 de novembro é uma data para tratar não apenas de preconceitos, mas também ressaltar os atos de resistência e superações, além dos avanços conquistados no processo de reparação das desigualdades. “Zumbi derramou sangue para que alcançássemos esses avanços. Temos que dar continuidade à sua luta nos apoiando na tolerância e no amor”, reverenciou resgatando as memórias dos antepassados que garantiram à sociedade brasileira identidade, coragem e dignidade.
Um só pensamento – A programação da data teve início com um ato ecumênico, no qual religiosos de pelo menos 15 seguimentos filosóficos, como umbanda, candomblé, catolicismo, budismo e judaísmo, se pronunciaram. O momento foi marcado por pedidos, orações, mantras e reverências das lideranças conforme as suas respectivas crenças. Com o desejo mútuo de alcançar uma cultura de paz eles se uniram para alertar ao público quanto à tolerância. Eles ressaltaram que é possível haver cooperação entre as religiões e destacaram o ato ecumênico como um exemplo disso.
Juliana Vilarinho, representante da Organização Bhama Kumaris, afirmou que a paz é a religião original e verdadeira, mas que só pode ser alcançada com o respeito às diferenças. “É uma cultura que deve emergir de cada pessoa e entre elas e sua relação com o mundo”, explicou. A indígena Irakanam, da etnia Wassu Cocal, reforçou dizendo que a paz é um anseio comum aos negros e aos indígenas brasileiros. “Há 500 anos somos perseguidos e sacrificados somente por pertencermos às nossas raças”, disse.
Protesto – As lideranças religiosas aproveitaram o espaço também para atrair a atenção do público para as violações sociais e dos direitos humanos. Para isso, deram como exemplos os elevados números de mortes por dia em São Paulo, as atitudes preconceituosas não punidas pelo país e a segregação profissional representada pelas diferenças nas remunerações de negros e não-negros.
De acordo com elas, os genocídios são um pedido de socorro das minorias e dos socialmente mais vulneráveis. Diante desse cenário, orientaram que a consciência negra seja diária e recomendaram as construções e instruções das famílias no respeito e no amor acima das diferenças nos aspectos raciais e culturais. Pediram orações pelos jovens e afirmaram que com fé e amor a paz passa a ser consequência.