Notícias
Resultado do Seminário da FCP e UNESCO possibilita ações de fomento aos sítios históricos
Presidente Eloi Ferreira e Ali Moussa Iye, diretor do projeto A Rota do Escravo UNESCO
Por Denise Porfírio
A Fundação Cultural Palmares encerrou na quinta-feira (23), o Seminário Internacional “Herança, Identidade, Educação e Cultura: gestão de sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão”. O evento reuniu embaixadores de mais de 15 países e promoveu um debate internacional sobre roteiro de proteção aos sítios históricos da escravidão.
Na cerimônia de encerramento, o presidente da FCP, Eloi Ferreira Araujo, em companhia do chefe da Seção de Diálogo Intercultural da UNESCO e diretor do Projeto A Rota do Escravo, Ali Moussa Iye, agradeceu a presença de todos os participantes em nome da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e se pronunciou quanto às avaliações finais do evento. Eloi ressaltou o trabalho realizado pela instituição com as comunidades quilombolas, que hoje são 1.838 reconhecidas e certificadas pela FCP. “Nosso objetivo agora é trabalhar em busca do título de propriedade”, ressaltou.
Reafirmou o compromisso de atuar intensamente nas diversas manifestações da cultura afro-brasileira, a exemplo do reconhecimento da capoeira – uma das contribuições africanas para o Brasil praticada em mais de 150 países. “A capoeira é preciosa para a Fundação Palmares que desenvolve um trabalho especial em reconhecer o saber popular e tradição dessa cultura. Além da proteger as outras várias expressões artísticas como o jongo, maculelê e o tambor de criola”, enfatizou.
Eloi assegura que também é competência da FCP a proteção das religiões de matriz africana e a resistência a todas as formas de combate à discriminação racial. Um exemplo mencionado foi os terreiros de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, que em meados do século XIX, utilizaram seus tambores para dar voz ao grito de fim da escravidão. “Foi a primeira manifestação política dos terreiros para acabar com a discriminação”, lembrou.
Ressaltou o empenho do primeiro presidente da FCP, Carlos Moura, em criar a instituição e elogiou a atuação dos ex-presidentes como militantes qualificados que trabalharam em benefício dos direitos da cultura negra no Brasil. “Nessa gestão trabalharemos a cultura como instrumento para a inclusão social da população negra no Brasil”, afirmou.
Segundo o presidente, as discussões realizadas durante o Seminário serão transformadas em ações estruturantes de conservação da memória com o objetivo de elevar a autoestima da população negra, para que se torne sujeito e protagonista de sua história e tenha acesso aos bens sociais e econômicos do Brasil em igualdade de oportunidades.
“O Brasil teve, em 1888, a extinção da escravidão. Só em 2010, veio a primeira legislação que procura buscar a igualdade de oportunidades para a população negra do nosso país, por meio do Estatuto da Igualdade Racial”, destacou. “Essa legislação ficou tramitando por muitos anos no Congresso Nacional Brasileiro, mesmo diante das dificuldades e as desigualdades de inclusão da população negra. A luta é de todos que querem uma sociedade justa, daqueles que não tem medo do retrovisor da história”, finalizou.
Ali Moussa Iye – O diretor do Projeto A Rota do Escravo manifestou o desejo de uma parceria concreta com a Fundação Cultural Palmares em prol dos sítios de memórias brasileiros e ressaltou a importância de não serem somente lembrados como sítios de turismo. “O tráfico negreiro foi uma tragédia humana e os sítios são assuntos internacionais, nunca percam de vista esse aspecto global”, afirmou.
Ele comemorou a ação do Governo Brasileiro que aceitou financiar o nono volume da História Geral da África sob o ponto de vista histórico, paleontológico, e da Diáspora Africana. Chamou a atenção para a participação efetiva dos estados membros para a pertinência do projeto Rota do Escravo. “A Rota é um projeto para o futuro”, enfatizou.
O grupo de especialistas se comprometeu a se reunir novamente no período de dois anos, em local ainda a ser definido, para avaliar a implementação dos resultados do seminário. Moussa lembrou que o evento foi realizado em um momento estratégico, pouco antes da declaração, pela Organização das Nações Unidas, da Década dos Povos Afrodescendentes (2013 – 2023), o que deverá acontecer ainda este ano. “O seminário foi uma grande preparação para a Década por vir e para as discussões que serão geradas”, ressaltou. “A discussão não cessa. Um site será lançado para mantermos a troca de ideias e experiências, como parte de um plano de ação firmado”, acrescentou Moussa.