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20 DE NOVEMBRO!
Resistência e tecnologia em Serra da Barriga
Mesa de trabalhos do segundo painel do seminário “Diálogos Palmarinos”
A entrega de 200 computadores para comunidades quilombolas marcou a abertura do Painel 2 do seminário "20 de novembro: feriado nacional da consciência negra", realizado em Serra da Barriga (AL). A iniciativa, da Fundação Cultural Palmares em parceria com o governo federal, busca ampliar o acesso à tecnologia e fortalecer a autonomia das comunidades negras.
"A inclusão digital é ferramenta poderosa para a redução das desigualdades e para fortalecer nossas comunidades”, destacou o presidente da Palmares, João Jorge Rodrigues”, considerando que os computadores são um avanço para garantir o acesso dos quilombolas ao conhecimento, às políticas públicas e à oportunidade de contar suas próprias histórias".
A inclusão digital é essencial à promoção da cidadania e à diminuição das desigualdades. Segundo o IBGE, em 2019, 20% dos domicílios brasileiros ainda não tinham acesso à internet, sendo a maioria em áreas rurais e entre as populações de baixa renda. Projetos como esse buscam diminuir essa lacuna e assegurar que todos tenham acesso às oportunidades proporcionadas pelo mundo digital.
Patrimônio de Luta
A Serra da Barriga, localizada no município de União dos Palmares, é um marco histórico da luta negra no Brasil. Foi onde se instalou o Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro quilombo do período colonial, que abrigou milhares de negros fugidos da escravidão, e em 2017, recebeu o título de Patrimônio Cultural do Mercosul.
"Alagoas é o coração da luta negra no Brasil, tendo a Serra da Barriga como símbolo de resistência e memória. Que saibamos honrar e preservar esse legado", disse Rosa Lúcia, uma das participantes do painel.
Além de um ponto de resistência histórica, a Serra da Barriga é um espaço de memória viva que continua a inspirar movimentos sociais e culturais em todo o País. Eventos como o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, têm suas raízes na história de luta dos quilombos e na busca incessante por igualdade e justiça social.
Educação nos quilombos
"Com essa ação de hoje, em breve poderemos anunciar cursos de capacitação que serão realizados no próprio quilombo", anunciou Hermano Tércius, secretário nacional de Telecomunicações, que procedeu à entrega simbólica dos equipamentos. A medida reflete o compromisso de descentralizar a educação e o acesso ao conhecimento.
A educação é um direito fundamental e uma ferramenta essencial para a emancipação social. No entanto, muitas comunidades quilombolas enfrentam desafios significativos no acesso à educação de qualidade. De acordo com o IBGE, em 2019, a taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais em comunidades quilombolas era de 14,7%, quase o dobro da média nacional. Iniciativas de capacitação local são cruciais para reverter esse cenário.
Políticas transformadoras
"Estamos retomando a Serra como lugar de memória, reflexão e diálogo sobre políticas públicas afirmativas. Voltamos para refletir sobre políticas públicas afirmativas e para carregar nosso legado, o legado desta geração", afirmou Danilo Luiz Marques, reforçando o papel da Serra da Barriga como espaço de memória e ação política.
As políticas públicas afirmativas têm sido fundamentais para promover a inclusão social e combater as desigualdades raciais no Brasil. A Lei 10.639/2003, por exemplo, tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, visando valorizar a contribuição dos negros na formação da sociedade brasileira. Mas sua ainda enfrenta desafios significativos.
Mulheres negras
"Eu sou uma mulher negra, mas não serei uma mulher completa se não reconhecer as mulheres que abriram caminho para que eu pudesse estar aqui hoje", declarou Marli de Araújo, destacando o protagonismo feminino na construção desse legado.
As mulheres negras têm desempenhado um papel central na luta por direitos e na preservação da cultura afro-brasileira. Figuras como Dandara dos Palmares, Luiza Mahin e Tereza de Benguela são exemplos de liderança e resistência. No entanto, muitas dessas histórias permanecem invisibilizadas.
Cultura Negra
"A cultura sempre foi um motor dessa luta. O reggae, o hip hop e o Ilê Aiyê reafirmaram nossa identidade e nos deram forças para enfrentar adversidades", disse MYK Adrielle, promovendo uma reflexão sobre o papel da cultura na luta negra.
Expressões culturais afro-brasileiras, como o samba, o maracatu, a capoeira e o candomblé, traduzem a riqueza e a diversidade dessa herança. Elas não apenas celebram a identidade negra, como desempenham um papel importante como ferramentas de resistência e afirmação diante dos desafios históricos e sociais.
Legado Vivo
"A luta pelo Dia Nacional da Consciência Negra é uma conquista histórica que precisamos preservar. Abdias Nascimento nos mostrou que a resistência cultural é a base para mudar estruturas", disse Julio Menezes, do IPEAFRO, destacando o papel do movimento negro na conquista do feriado.
Abdias Nascimento foi um dos principais líderes desse movimento no Brasil, atuando como artista, político e ativista. Fundou o Teatro Experimental do Negro e lutou incansavelmente contra o racismo e pela valorização da cultura afro-brasileira. Sua trajetória inspira gerações que buscam igualdade e justiça.
Representatividade
"Precisamos transformar conquistas simbólicas em mudanças práticas. É hora de ocupar espaços de poder e influenciar decisões que afetam nossas comunidades", afirmou Sandra Sena, encerrando o painel com um alerta sobre a urgência de ações concretas.
A representatividade negra em espaços de poder ainda é limitada. Segundo o IBGE, em 2019, apenas 4,7% dos cargos gerenciais no Brasil eram ocupados por pessoas negras. A ocupação desses espaços é essencial para promover mudanças estruturais e garantir que as políticas públicas atendam às demandas das comunidades negras.
Territórios quilombolas
Os quilombos, enquanto espaços de resistência e liberdade, são símbolos vivos da luta histórica e contemporânea contra o racismo. Como afirma Kim Butler, “em qualquer lugar onde houve escravidão negra, houve resistência negra. E nem sempre a gente perdeu, porque quilombos estão aqui vivos hoje.”
No Brasil, segundo o Censo de 2022, mais de 1,3 milhão de pessoas se identificam como quilombolas, representando 0,65% da população do país. Essas comunidades estão distribuídas por 1.696 municípios e associadas a 7.666 comunidades quilombolas declaradas. A maioria reside na Região Nordeste, com destaque para os estados da Bahia e do Maranhão, que concentram mais de 50% dessa população.
Essas comunidades, além de preservarem tradições ancestrais, são protagonistas na defesa de direitos como a demarcação de seus territórios, essenciais para a manutenção de suas culturas e modos de vida. No entanto, apenas 12,6% dos quilombolas vivem em territórios oficialmente reconhecidos, evidenciando a urgência da regularização fundiária.
“Não existe quilombo sem cultura e território”, enfatiza Flávia Costa, ressaltando a necessidade de fortalecer a luta pelos direitos quilombolas como um caminho para a igualdade e a justiça social.
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, os quilombos nos convocam a refletir sobre o legado da resistência africana na diáspora. Para além de espaços físicos, como a Serra da Barriga, os quilombos simbolizam uma luta por liberdade que continua viva.
“O quilombo pode ser qualquer recanto”, diz Kim Butler, inspirando-nos a expandir o conceito para ações e práticas cotidianas que promovam uma realidade menos opressiva. Essa luta, como lembra Flávia Costa, deve garantir que “jovens negros possam andar no carro que quiserem” e que “todas as mulheres negras possam dormir tranquilas.”
A trajetória dos quilombolas é parte intrínseca de uma política de proteção ao patrimônio afro-brasileiro, fundamental para alcançar o sonho de uma sociedade livre do racismo.
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