Notícias
Reinos e Impérios Africanos – Reino do Daomé
De 27 a 31 de maio, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Vanderlei Lourenço, esteve no Benin em missão de prospecção da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) (CLIQUE AQUI E SAIBA MAIS SOBRE A VISITA). E nessa semana a nossa série ‘‘Reinos e Impérios Africanos’’ será sobre o Reino do Daomé, berço da atual República do Benin.
Saltaremos alguns séculos na nossa linha do tempo para poder contemplar este Reino, formado no século XVII pelo povo fon e que iniciou o seu processo de expansão no século XVIII, por meio da conquista dos Reinos de Allada, Ouidah e Popó. Em virtude do tráfico de pessoas escravizadas, o Reino do Daomé desempenhou importante papel no contexto afro-atlântico, sobretudo durante o século XVIII. A esta região litorânea foi atribuída, pelos europeus, o nome de Costa dos Escravos. No início do século XVIII, o Daomé havia se tornado uma potência da região.
O porto da cidade de Ouidah foi a principal porta de saída de escravizados da África Ocidental, após terem percorridos inúmeros caminhos pelo interior do continente até aquela região atlântica. Os prisioneiros ficavam na Fortaleza de São João Batista de Ajudá, erguida pelos portugueses. Do porto saíam africanos escravizados que eram trocados, sobretudo, pelo tabaco vindo da Bahia, principal moeda de troca por escravizados ao longo da costa ocidental africana. O destino dos escravizados, em sua maioria, era o Brasil.
Entre os séculos XVIII e XIX foi marcante as trocas entre o Brasil e o Reino do Daomé, sobretudo a presença brasileira na vida política, econômica e cultural do Reino. Francisco Félix de Souza, mestiço, baiano, poderoso traficante de escravizados, tornou-se vice-rei, com o título de Chachá.
Por volta dos anos de 1835, após a Revolta dos Malês, na Bahia, a paisagem humana da região modificou-se (GURAN, 2000) com o retorno de antigos escravizados do Brasil. Com fim da escravidão, milhares de ex-escravizados retornaram para o porto de onde tinham sido embarcados, em Ouidah. Após anos e gerações vivendo como escravizados no Brasil, estes libertos não tinham mais referências dos seus locais de origem e por isso, permaneceram em Ouidah e ali se organizaram socialmente.
Os descendentes, sejam eles dos brasileiros que traficavam escravizados, ou dos libertos, ainda hoje são conhecidos como ‘‘brasileiros’’ ou mais precisamente, agudás, grupo facilmente reconhecido pelos costumes brasileiros e pelos sobrenomes de origem portuguesa. Estima-se que os agudás representam em torno de 5% da população beninense.
Além do comércio (escravagista e de óleo de palma), o poder do reino derivava também do poderoso exército de mulheres, as ahosi, as ‘‘amazonas do Daomé’’, as guardas do rei. No auge, as ahosi representavam um terço do exército do Daomé.
Com o fim do tráfico atlântico, as potências europeias se encontram em situação vantajosa para ocupar e colonizar diferentes partes do continente. No final do século XIX, a França conquistou o Daomé, enviando o rei Behanzin para o exílio na Martinica, estabelecendo no antigo reino a colônia do Daomé, que só se tornou independente em 1960.
Curiosidades:
Não confundir Daomé ou a atual República do Benin com o Império do Benin. Este último constituiu um Estado pré-colonial da moderna Nigéria.
As Dora Milaje, mulheres da guarda real de Wakanda no filme Pantera Negra, foram inspiradas nas Ahosi.
A cidade de Abomei foi capital do Reino do Daomé. E os palácios reais de Abomei, construídos pelo povo fon entre os séculos XVII e XIX para servir de moradia dos reis, são um dos mais famosos e historicamente significativos sítios tradicionais na África Ocidental. Desde 1985 são Patrimônio da Humanidade.
A Casa das Minas de culto aos voduns, de São Luís do Maranhão, é uma das casas de religião afro-brasileira mais antigas do Brasil. Sua fundação está relacionada com o Reino do Daomé, quando Na Agontime, uma das esposas do Rei Agondlô e mãe do futuro Rei Ghezo, foi vendida como escravizada pelo Rei Adandozan. Ao desembarcar no Brasil como Maria Jesuína, fundou a Casa das Minas, que cultua de forma tradicional os Voduns do Daomé e mantém vivas as tradições espirituais na diáspora.
Fontes: