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Refletindo Mandela: o legado de Madiba na contemporaneidade
Na data em que, pela primeira vez, se celebrou o Mandela Day (18) desde a morte do ex-presidente e Nobel da Paz Nelson Mandela, o embaixador da África do Sul, Mphakama Mbete, afirmou que seu país pode ensinar ao Brasil e a outros países a construir uma sociedade nova e melhor. “Desde a nossa independência percebemos que há sempre alternativas ao que vivemos em mais de três séculos de história”, disse.
A fala do embaixador traz à tona o passado enfrentado por uma África do Sul que, entre outras questões, enfrentou mais de quatro décadas de segregação racial, o apartheid. As afirmações foram feitas durante evento dedicado à memória do pacifista, promovido pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a Fundação Cultural Palmares (FCP).
Mbete destacou que o Mandela Day é um momento especial para se honrar Madiba. “Neste dia promovemos a continuidade de seus princípios e honramos também milhares de seus compatriotas que lutaram e morreram pela liberdade africana”, explicou.
Ele alertou que, apesar da data emblemática, há ainda um longo caminho a ser seguido para que se alcance uma sociedade justa. Nesse sentido, Mphakama Mbete afirmou que o foco atual da África do Sul está na construção de uma economia justa e inclusiva e que para isso, o país recorre à promoção de ações afirmativas.
Reparação – Com semelhanças históricas no que diz respeito à África do Sul, o Brasil consolidou ideologicamente sua nação sobre os pilares do racismo, onde as principais consequencias são as desigualdades econômicas, o subdesenvolvimento e a violência. A fim de que se repare esse erro, o legado de Nelson Mandela vem pautando a condução das políticas públicas no país.
De acordo com Giovanni Harvey, secretário executivo de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), dificilmente o país teria conseguido enfrentar certas questões, não fossem as referências deixadas por Madiba e pela África do Sul. Procuradora Federal da FCP, Dora Lucia de Lima Bertulio, reforçou que para mudar a sociedade, o primeiro movimento precisa ser a desconstrução do senso comum onde o negro é sempre inferiorizado.
Cotas – Jean-Paul Rebaud, conselheiro de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França no Brasil, compartilhou a experiência de seu país que oportunizou o desenvolvimento igualitário à uma população basicamente constituída por pessoas de várias nacionalidades. “A França é um país multirracial e multicultural e precisa conviver de maneira positiva com essa realidade”, disse.
Segundo Rebaud, as cotas territoriais foram uma solução interessante. Direcionadas aos moradores das periferias, foram uma alternativa para que se alcançasse os mais diversos perfis socioeconômicos sem que se aumentassem as desigualdades. Durante o evento, Rebaud lembrou ainda que a França foi o primeiro país a reconhecer os judeus como cidadãos e que a luta contra as diferenças envolve também a defesa das mulheres.
Homenagens – A presidente interina da FCP, Martha Rosa Figueira Queiroz, destacou a atualidade de Nelson Mandela e falou sobre sua experiência quando, na juventude foi alertada a questões consequentes do apartheid. “Pude ver com outros jovens como a África em plena segregação tinha mais médicos e professores negros que o Brasil. Uma situação que nos mostrou por que também vivíamos o apartheid”, explicou. “Um importante legado, foi o fato de que pessoas da minha geração, e mais jovens que eu, pudemos ver em atuação um grande líder”, afirmou.
Na data em que se celebra o Mandela Day, a Organização das Nações Unidas (ONU) incentiva que em todo o mundo sejam realizadas ações com pelo menos 67 minutos de serviço comunitário. Cada minuto representa um ano de dedicação de Madiba ao serviço pela humanidade. Rebaud dedicou seu tempo de fala a também recordar duas importantes mulheres da história contemporânea: Christiane Taubira, ministra da Justiça da Guiana Francesa, e Nadine Gordimer, Prêmio Nobel de Literatura por inconfundível luta contra o apartheid.
Marcos Moreira, professor do Instituto de Letras da UnB e organizador do evento, encerrou as atividades, o dedicando à luta contra as desigualdades. ” Quando se trata de preconceitos, ainda há muito o que ser feito. Por isso, o nome de Mandela deve ser lembrado também como estratégia de luta pela igualdade”, concluiu.