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Reconhecer e reparar para construir a democracia
Presidente Eloi Ferreira fala do papel das ações afirmativas na construção da democracia
Por Daiane Souza
“A construção da igualdade não é uma missão individual”. Com estas palavras Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), alertou aos estudantes de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) para sua responsabilidade social quanto à eliminação do racismo. A afirmação foi feita durante a conferência Ações afirmativas do século XXI: avanços e desafios, realizada pela coordenação do curso, em parceria com a FCP, na última terça-feira (20).
O evento realizado em reflexão ao Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial (21 de março), teve como objetivo levantar o debate quanto ao papel das ações afirmativas. Para Eloi Ferreira, essas políticas só existem por causa do ciclo em torno do racismo que gera insegurança, violência e desigualdade. “Elas são fundamentais ao processo de compreensão e efetivação da democracia e, no que compete à FCP, são seladas por meio da valorização da cultura negra”, enfatizou.
Reconhecimento e reparação – Augusto Werneck, procurador do estado do Rio de Janeiro e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), afirmou que as ações têm como fundamento o reconhecimento e a reparação de heranças perversas da escravidão. Se contrapondo à Constituição, afirmou que quando se trata de direitos, não somos iguais.
Explicando que a própria história é o artifício que esclarece o porquê da Lei não ser legítima nesse sentido, pontuou que mesmo após a abolição da escravidão, a população negra continuou sem acesso à educação, o que se refletiu no desemprego e no cenário da sociedade atual. “Esses efeitos não podem se perpetuar para as gerações futuras”, disse. “Por isso, a indenização neste reparo não pode ser em dinheiro. Tem que ser histórica, antropológica, social e moral”, destacou Werneck.
Enfrentamentos – Segundo Carlos Moura, coordenador do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra da FCP, o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial não se trata de uma data de comemoração, mas de reflexão e superação dos diversos tipos de intolerância. Ele defende que a superação do racismo deve começar nos ambientes de ensino, para que se torne uma cultura social de paz.
Já Renata de Melo Rosa, coordenadora do curso de Relações Internacionais, comunicou que para o UniCEUB é uma questão de honra cultivar as culturas antirracista e antixenófoba, preocupada com os direitos humanos. “Nos esforçamos para que os nossos alunos enxerguem a postura do outro e revejam suas ações”, concluiu.
Na mesma noite da conferência teve início no auditório da Biblioteca do UniCeub a exposição Quilombos: territórios de resistência. Na mostra que permanecerá até 30 de março, é possível apreciar registros do cotidiano e da cultura das comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares.
Para Túlio Márcio Cunha e Cruz Arantes, diretor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, que na ocasião representava o reitor do UniCEUB, a universidade é o ambiente propício para se difundir informações. Segundo ele, a exposição tem tema de altíssima relevância uma vez que existem alunos que não sabem o que são quilombos. “Compreender sobre eles abre debate para outras questões da temática negra como a diversidade, racismo, discriminação e tolerância”, ressalta.