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Quilombolas são aprovados em Universidade Federal pelo sistema de cotas
“Agora poderei disputar em igualdade de condições uma vaga no mercado de trabalho”, declarou o calouro da Universidade Federal de Goiás, o quilombola Marciano Alves dos Santos.
Natural da comunidade remanescente quilombola de São João, no município de Santa Rosa, em Tocantins, Marciano foi um dos alunos beneficiados pelo “Programa UFG” Inclui, da Universidade Federal de Goiás.O estudante de 23 anos foi aprovado para o curso de química após várias tentativas em anos anteriores. “Desde 2006 faço vestibular na UFG, passava na primeira fase, mas não na segunda. Em 2009, com o UFG Inclui, consegui uma chance para entrar na universidade”.
Marciano deixou a comunidade de São João quando seu primo, Tertuliano Rodrigues, havia sido aprovado no vestibular na mesma universidade. Durante o período de três anos até a aprovação, Marciano trabalhou como porteiro em Goiânia, mas nunca desistiu dos estudos. Agora, valeu a persistência. E Marciano não vê a hora de começarem as aulas.O programa de inclusão social da universidade goiana prevê a reserva de vagas da seguinte forma: 10% para estudantes de escola pública; 10% para negros oriundos de escola pública; 01 vaga em cada curso para índios e 01 vaga em cada curso para quilombolas.
No primeiro ano de aplicação do programa social foram aprovados 314 estudantes negros de escolas públicas; 14 quilombolas e 11 indígenas.Medicina – Outro quilombola a obter a mesma façanha é Lafaiete Souza Gomes de Morais, da comunidade Jardim Cascata, em Goiás. Lafaiete foi aprovado para o curso de medicina veterinária e assim como Marciano, está ansioso para a realização do sonho de ser universitário.
Para a pró-reitora de graduação da UFG, professora Sandramara Matias Chaves, o programa é importante por oferecer oportunidade às pessoas de baixa renda para cursarem uma universidade e cursos de maior demanda, como medicina veterinária e engenharia, “sem falar que vai mudar a cara da universidade com o acesso à diversidade”. A professora ainda complementa, “além de prever a inclusão, o “Programa UFG Inclui” realiza o acompanhamento para garantir a permanência desses alunos na universidade”.E a permanência na universidade é um ponto essencial.
Tertuliano Rodrigues, aluno veterano do curso de filosofia e primo de Marciano, explica que a Universidade de Goiás é uma das poucas que oferecem tantos recursos. “A UFG é uma das melhores universidades para o acesso de estudantes de baixa renda, ela nos oferece a casa do estudante e bolsa alimentação para que possamos ter um pouco de conforto e pouca preocupação com gastos”, comenta.
Esses são alguns dos benefícios que os novos alunos cotistas terão, bem como o acesso ao estudo de línguas, como inglês e espanhol.
Ítalo Bruno, militante cotista e estudante do curso de História, explicou um pouco da luta para criar o programa de cotas na UFG. “Em 2007, a universidade começou a discutir um programa de cota social, mas era somente para alunos de escolas públicas. Conseguimos sensibilizar e conscientizar o Consuni (Conselho Superior Universitário) para incluir no programa cotas para negros e quilombolas. Felizmente, após ampla discussão entre comunidade e professores, conseguimos garantir ao menos uma vaga em cada curso para quilombolas e índios”.O diretor da Fundação Cultural Palmares, Maurício Reis, acredita que esse é um começo para que os quilombolas comecem a participar do ensino superior em igualdade de condições. “Foi uma luta muito grande incluir as cotas para negros nas universidades, mas agora, já estamos lutando pelo acesso dos quilombolas e índios. Isso garante que no futuro, com acesso à qualificação e educação, haja um equilíbrio na busca por um emprego”, lembra Maurício. Mas acrescenta, “temos que levar a informação de que há universidades com cotas para quilombolas para dentro dos quilombos, pois muitos não participam do vestibular simplesmente porque não sabem, não têm conhecimento de que há essa oportunidade”.