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Não deixe o tambu morrer
Quilombolas fazem oficina para continuar a produção dos instrumentos de percussão
Batuque: A bandeira de Nossa Senhora do Rosário batiza os tambus.
Brasília, 28/9/06 – O batuque do tambu ainda vai ser ouvido por muitas gerações se depender das comunidades quilombolas de Jaboticatubas, em Minas Gerais. Sim, a palavra é mesmo tambu, um instrumento formado por três tambores, feitos de madeira e couro. Em setembro, uma oficina de resgate cultural ensinou como fazer tambus, na comunidade Açude, localizada na Serra do Cipó.
O evento recebeu o apoio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da região. A assistente social Rosângela Villar Duarte explica que as comunidades Açude e Mato do Tição, ambas de Jaboticatubas, utilizam o tambu nas festas tradicionais. “A oficina foi uma demanda da comunidade, porque os instrumentos estavam se danificando”, diz Rosângela.
Os tambus dos quilombolas têm mais de duzentos anos. Eles são feitos manualmente e, dependendo do lugar, a matéria-prima muda. Em Açude, a madeira utilizada é o sabugueiro, enquanto que, no Mato do Tição, é a bananeira. O monitor da oficina foi o quilombola Evandro Ilário dos Santos, de Mato do Tição. Ele ensinava no período da noite, para não ocupar o horário de trabalho dos moradores de Açude.
Depois de oito dias de aula, foram feitos dois tambus pelos participantes. Rosângela explica que os instrumentos são muito importantes para os quilombolas. “Somente os mais antigos da comunidade autorizam outras pessoas a pôr as mãos nos tambus”, conta. No final da oficina, os novos tambus foram batizados e a bandeira de Nossa Senhora do Rosário hasteada, como é tradição na comunidade.
Outra oficina de artesanato com bambu e fibras já foi iniciada também com as comunidades de Jaboticatubas. “Isso faz parte do programa de atendimento para integrar as famílias, proteger a cultura e gerar renda”, explica Rosângela.
Açude e Mato do Tição já são reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares como comunidades remanescentes de quilombos. Atualmente, elas aguardam a regularização da terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).