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Quilombolas de Mesquita, GO, acompanham Cinema Itinerante promovido pela FCP/MinC
Publicado em
20/09/2007 09h00
Atualizado em
20/05/2024 10h36
Cidade Ocidental, GO, 20/9/07 – Alunos da Escola Municipal Aleixo Pereira Braga, no Quilombo Mesquita, localizado na Cidade Ocidental/GO, da quarta a nona série, tiveram uma tarde de aula diferente na última terça-feira (18). Com grande expectativa, eles se dirigiam ao pátio da escola, com suas cadeiras, para assistirem o filme Esses Moços, do cineasta Jose Araripe Jr. A apresentação foi a segunda sessão do Projeto Cinema Itinerante, realizado pela Fundação Cultural Palmares/MinC em parceria com o Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN). Os presentes a sessão davam muitas risadas ao acompanharem o enredo que retrata a história de Darlene e Daiane que são duas meninas que fogem do interior e chegam a Salvador. Lá encontram Diomedes, um senhor idoso que está desmemoriado, perdido nas ruas, sem saber quem é nem onde mora. Juntos, os três exploram a cidade. Os 85 minutos, ou seja – uma hora e vinte minutos de filme – passaram rápidos pelo envolvimento das crianças, dos adolescentes e das professoras. Com olhares atentos, de vez em quando trocavam comentários com o colega. No debate, todos deixaram expresso que gostaram muito do filme. Para o aluno Douglas, “o filme é muito bom. Legal, engraçado, ri muito”. O que você mais gostou no filme? “Tudo… respondeu Larissa, aluna da 8ª. série.
Luta pela regularização
As expressões de alegria e satisfação estavam estampadas nos rostos destes alunos que não dispõem de nenhum tipo de lazer e entretenimento no Quilombo de Mesquita, que existe há mais 200 anos. Os 800 quilombolas que fazem parte dos cerca de 3.000 habitantes conseguiram recentemente uma vitória – o seu reconhecimento como área de remanescente de quilombo. Agora falta apenas a regularização da terra pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Só assim poderão receber os recursos federais de projetos destinados a oportunizar capacitação, habilitação, principalmente para a população de jovens que está sem expectativa de emprego. As mães que trabalham fora reivindicam creches. Na assistência à saúde contam com um único Posto de Saúde bastante precário ou atendimento mais próximo na Cidade Ocidental que deixa a desejar. Mesmo sendo uma cidade calma, que reina a harmonia, com o índice de violência pequeno, a segurança pública se faz necessária como o Corpo de Bombeiros e Polícia Militar para a prevenção, reitera a líder comunitária Sandra Pereira Braga.
“O nosso grande problema aqui são os jovens que terminam o ensino médio. Não encontram nenhuma ocupação profissional. A subsistência do Mesquita é a produção do marmelo e derivados, que está escassa. Os que conseguem emprego trabalham em Brasília ou Goiás”, destaca Sandra, uma das responsáveis pela Associação dos Moradores de Mesquita, quilombola, formada em Turismo. Sandra Pereira Braga é filha do sr. João Antonio Pereira, produtor do marmelo, que usa a mesma receita de 200 anos e da sra. Elpídia, que faz a farinha, o polvilho, cuida da casa, enfim muito solícita e tranqüila. As duas jovens que trabalham na Associação estão ansiosas em terem um espaço para o lazer. “A praça é uma promessa antiga. Até agora nada. Parece que este local será destinado para área esportiva, completa Ana Marcela e Suzane, que querem mesmo lanchonetes, teatros e cinemas.
À noite, Filhas do Vento foi a atração
O espaço de terra batida da Área Livre do Quilombo de Mesquita foi o palco, na noite da terça-feira, para a exibição do filme Filhas do Vento, do cineasta Joel Zito Araújo. Muitos moradores foram assistir ao cinema ao ar livre. Eram famílias, senhores e senhoras como a dona Joana, rezadeira e produtora de garrafadas, com 80 anos, nascida e criada em Mesquita. Dona Joana, alegre com o evento contou que saiu da área com 13 anos e voltou com 50 anos. Além dos trabalhadores que acabavam de chegar do serviço, os 200 lugares disponíveis serviram para aconchegaram esta comunidade que está sedenta por cultura e informação. Os jovens ficaram emocionados com esta oportunidade, estavam elétricos e falantes. Mas quando começou o filme, o silêncio dominou.
“Nesse sentido, o Festival de Cultura Afro-Brasileira, que traz a Mostra de Cinema Itinerante para Brasília está atingindo seu objetivo, de levar o cinema onde a comunidade não tem acesso e muito menos condições de se deslocarem para os grandes centros além de oportunizar o diálogo em sala de aula entre alunos e professores sobre as temáticas e abordagens dos filmes”, ressalta o diretor Ademir Ferreira, do CIDAN, promotor deste evento em parceira com a Fundação Cultural Palmares/MinC.
Compromisso
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Aleixo Pereira Braga, com 242 alunos no turno matutino e 158 no vespertino, escolheu neste ano de 2007 o tema Etnia Racial, cuja iniciativa levou a produção de projetos pela igualdade racial. O reconhecimento de Mesquita como quilombo gerou o debate na comunidade sobre o papel histórico de abrigar os que lutavam pela liberdade – negros, brancos e índios – que viviam oprimidos e marginalizados pelo processo escravocrata brasileiro. A professora Celenir Braga, do ensino fundamental, que ensina para 43 alunos, em uma única turma, diz que foi muito importante e prazeroso organizar o Fórum da Etnia Racial, no ano passado, com desfiles, música e comidas típicas afro-brasileiras.