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Quilombolas de Curiaú conseguem vagas em cursos técnicos
Brasília, 12/2/07 – Nelma Barbosa da Silva, Keila Silva da Paixão, Joaquim do Rosário Ramos, Cidicley do Rosário Nascimento e Kelson Ângelo Silva dos Santos reconhecem que é difícil conseguir cursar a faculdade, mas não pretendem desistir do sonho. Sonho que não é só deles, mas dos que antes não tiveram a mesma oportunidade. “Nós viemos pra cá pelo esforço dos nossos pais”, afirma Nelma. Os cinco jovens vieram de comunidades quilombolas de Amapá e visitaram a Fundação Cultural Palmares/MinC em Brasília na última sexta-feira (9) antes de seguirem pra Minas Gerais, onde se abriu a primeira porta.
Graças à batalha de Sebastião Menezes da Silva, mais conhecido como Sabá, quilombola da comunidade de Curiaú (AP), os jovens conseguiram cinco vagas para fazer cursos técnicos no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) de Bambuí, em Minas. O centro oferece também cursos superiores e essa é a meta principal dos jovens quilombolas. “Eu vou fazer o curso técnico em informática, mas visando o nível superior”, explica Joaquim, que já tentou cursar a faculdade, mas não completou por motivos financeiros.
Sabá e os cinco jovens foram recebidos por servidores da Diretoria de Proteção do Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA) da Fundação Cultural Palmares e contaram um pouco sobre as dificuldades e conquistas dessa luta. Durante a conversa, um telefonema de Bambuí traz a notícia da primeira conquista: as cinco vagas que Sabá havia pedido estão garantidas. Agora, a principal dificuldade é manter as meninas em Bambuí, porque o alojamento é apenas masculino, embora o curso seja gratuito. Sabá também tenta conseguir que o CEFET adote sistema de cotas para negros, tendo em vista a formação dos jovens no nível superior.
Segundo a técnica da FCP/MinC, Edi Freitas, há cinco anos a FCP apoiou o ingresso de 10 jovens de comunidades quilombolas do Amapá e do Rio de Janeiro na Escola Agrotécnica de Bambuí, antigo nome do CEFET. Esses quilombolas se formaram nas áreas de zootecnia, agroindústria e agricultura. Atualmente eles estão integrados nos órgãos de assistência técnica de seus estados para contribuir com suas comunidades. “Um dos jovens está cursando medicina em Cuba, e, após concluir o curso, estará de volta para sua comunidade”, afirma ela.
A luta de Sabá continuou e hoje, além das cinco vagas, quer conseguir formar todos os jovens da comunidade que tenham vontade. “Um só não vai conduzir a comunidade. Tem que ser um grupo”, afirma Sabá. “O trabalho do meu tio é totalmente desinteressado financeiramente. Ele sai todo dia para o centro de Curiaú de bicicleta e está fazendo um trabalho muito bonito”, comenta Nelma, falando de Sabá. Cansados da primeira viagem, mas animados para continuar lutando, os quilombolas de Curiaú seguiram para Bambuí para fazer a matrícula. “Buscando esses caminhos, esse espaço, é que a gente começa a ser respeitado”, afirmou Sabá.