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Quilombo Mesquita Promove II Festa do N’golo
O Grupo Cultural Som de Kilombo, da comunidade Quilombo Mesquita, de Goiás, a 45Km de Brasília, promoverá nos próximos dias 20 e 21 de julho a II Festa do N’golo, com os objetivos de fortalecer a produção de renda autossustentável e de enriquecer o calendário cultural da comunidade. A primeira edição da festa ocorreu em 2018 para batizar uma bebida ancestral – o N’golo – que, a base de quiabo-de-angola, está presente nas principais celebrações Mesquita há praticamente três séculos.
N’golo foi o nome dado ao vinho de quiabo-de-angola (Hibiscus sabdariffa) como reconhecimento a matriz angolana do Quilombo Mesquita, comprovada em 2016 a partir de um estudo da Universidade Católica de Brasília (UCB). Até então, a bebida não tinha um nome próprio e a festa de batizado gerou repercussão externa ao território quilombola. “A partir dela, todo um trabalho vem sendo feito para que o potencial da planta seja explorado da melhor maneira possível, garantindo a valorização dos seus subprodutos e das técnicas artesanais por trás dos seus processos de feitura”, afirma Manoel Barbosa Neres, que idealizou a festa junto a José Roberto Teixeira Braga e a Sandra Braga, lideranças da comunidade.
Quiabo de angola – Originário dos continentes africano e asiático, o Hibiscus sabdariffa atualmente se encontra adaptado em muitas áreas das Américas. Popularmente conhecido no Brasil como quiabo-de-angola, recebe ainda outros nomes como groselha, papoula, vinagreira e azedinha. É uma planta de boa adaptação às condições brasileiras, sendo encontrada em jardins, quintais e plantios nas várias regiões do país.
A população Mesquita vive basicamente da agricultura familiar e além do quiabo-de-angola, tem como viés econômico os produtos feitos a partir do marmelo, da mandioca e da cana-de-açúcar, além de frutas e de hortaliças. De acordo com João Antônio, uma das referências da comunidade, fortalecer esses segmentos é muito importante pois, fazem parte da identidade local. “É uma iniciativa que promove o desenvolvimento econômico à muitas famílias e que direciona a unidade entre elas para salvaguardar todo o seu patrimônio comum”, explica.
Sandra Braga enfatiza que a festa é um elo entre gerações. “O batizado do N’golo se tornou um marco entre significados”, explica. Ela se refere ao contexto anterior ao batizado, onde a bebida era apenas uma rotina entre as famílias. “Hoje tem um significado maior. As gerações mais novas resgatam esses momentos com o peso do valor afetivo, da cultura e da identidade étnica”, completa.
A festa do N’golo – A comunidade Mesquita afirma que quem prova do N’golo viaja: retorna a um tempo que está para além do Brasil, faz um retorno à África, mais especificamente à Angola, onde tem início a história dessa bebida tão especial. “Ela já foi consumida para brindar importantes momentos da nossa história e, com certeza, de muitos outros quilombos pelo país”, afirma Teixeira Braga.
A segunda edição do evento promete: o brinde à ancestralidade, realizado ao redor da fogueira, acontece na primeira noite e é uma homenagem aos guardiões do quilombo. Após a celebração a festa segue com músicas, apresentações culturais de arte afro-brasileira e novidades em receitas que vão de chás à geleias, licores, cremes e pratos típicos a partir do quiabo-de-angola, a exemplo do arroz de cuchá.
Faz parte da iniciativa oferecer à sociedade produtos orgânicos de excelente qualidade. Outros produtos que estarão disponibilizados para venda serão a marca do Mesquita – Marmelada Santa Luzia –, a rapadura de mamão, frutas, doces e bolos típicos, a gueroba, entre outros. Também estarão disponíveis serviços, a exemplo das tranças rastafari e nagô. Tudo a um preço bem acessível.
A matriz angolana de Mesquita – A informação de que uma das matrizes da comunidade seria angolana surgiu em meados de 2015 durante as pesquisas realizadas por Manoel Barbosa Neres, então mestrando em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Ao levantar a árvore genealógica das famílias Mesquita, encontrou uma fonte importante compatível com um referencial do século XIII: um registro das tribos que foram trazidas da África para o Brasil. O documento apresenta o mapa étnico dos povos negros que chegaram até o Goiás, vindos diretamente de Angola.
Junto ao mapa, estava uma matriz de traços fenótipos onde se ressaltam traços comuns a de personalidades de Mesquita. “A semelhança é muito grande, mesmo com cinco gerações de distância, os desenhos dos rostos das pessoas são praticamente os mesmos”, destaca Neres, enfatizando que posterior ao seu estudo, outras evidências surgiram e já foram documentadas por parte de estudiosos do assunto. “Reencontrar a identidade é algo muito importante, empodera quem faz parte dela. Um grande motivo a se celebrar”, finaliza.
SERVIÇO
II Festa do N’golo
Quando? 20 e 21 de julho
Onde? Viveiro do Quilombo Mesquita – GO-521 Km 08, Cidade Ocidental, GO
Programação
Dia 20/7
10h – Abertura dos portões, início do atendimento ao público
12h – Abertura oficial com apresentação de forró com Chico Neres
14h – Bingo com prêmios diversos
17h – Dialogando com o Quilombo – Mesa de lançamento do livro Tecendo Redes Antirracistas: Áfricas, Brasis e Portugal
18:30 – Acendimento da fogueira
– Discotecagem Afro-brasileira: DJ SÁ
19h – Dança da raposa
20h – Forró com Chico Neres
21h – Dança do N,golo
– Forró Chico Neres
23h – Encerramento
Dia 21/07
10h – Abertura dos portões, início do atendimento ao público
12h – Bingos: leitoa assada, frangos assados, caixa de cerveja e muito mais
13h – Roda de capoeira
14h – Discotecagem Afro-brasileira: DJ SÁ
15h – Apresentação Martinha do Coco
16h – Encerramento
Durante os dois dias de evento estarão à disposição do público tendas onde serão oferecidos alimentos e serviços como: N’golo, sucos, pastel com caldo de cana; comidas típicas do quilombo (arroz de cuchá, feijão tropeiro, cuscuz crioulo), marmelada, sorvete de quiabo-de-angola, feituras de tranças rastafari e nagô, turbantes, artesanato, entre outras.