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Professor cobra do Estado efetivação de políticas de diversidade cultural
Créditos: Estúdio Foto´ Art
O palestrante do primeiro dia da pré-Conferência Nacional de Cultura Afro-Brasileira, na tarde de ontem, 24, foi o advogado e professor de direito da Faculdade Federal da Bahia, Samuel Vida. O tema da palestra Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento na Cultura Afro-Brasileira discorreu sobre o espaço da cultura afro-brasileira dentro da cultura nacional.
“A tradição trazida da África com os africanos escravizados se reinventou, se re-elaborou no Brasil e foi decisiva para dar ao povo brasileiro aspectos fundamentais da sua identidade, de suas manifestações estéticas e econômicas, seu comportamentos ético, suas formas organizativas. E isto não vem sendo reconhecido adequadamente por parte do Estado, por parte da universidade, das instituições estabelecidas”, disse o professor.
Samuel disse, ainda, que “há um hiato entre uma contribuição efetiva, mas não reconhecida que precisa ser valorizada e impulsionada a partir de uma identidade nacional que seja síntese das diversas contribuições. Hoje, não podemos falar ainda nisso como uma realidade, é no máximo uma aspiração”.
Segundo Samuel, há um racismo institucional. “Não precisa haver um racista, o racismo está em várias formas de manifestação. Práticas eurocidentais de pensar a cultura, o crescimento econômico, que passa pela geração de riqueza, bens de consumo, como se fôssemos todos simples peça de engrenagem”.
“Admira-me incluir cultura afro-brasileira como um segmento, já que nisso está incluso a dança, a culinária, o teatro, como várias formas de manifestação cultural em apenas uma”. De acordo com o professor, o segmento de circo disputará em espaço de igualdade a mesma quantidade de delegados, nada contra o pessoal do circo, mas eles representam apenas uma modalidade – baseado em um conceito europeu de arte – enquanto a cultura afro-brasileira, se é que podemos falar em cultura afro-brasileira e não em culturas afro-brasileiras. E questiona sobre o que seria a cultura afro-brasileira.
“Corremos o risco de que por conta de uma política de inclusão estejamos renunciando a nossa própria identidade”. Samuel dá como exemplo um financiamento de cultura oferecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um financiamento para tipos de expressões da qual os negros não estão incluídos.
Ele questiona a espetacularização da cultura negra, como o bizarro, a sensualidade exacerbada, os safáris culturais da classe média que freqüenta ambientes dominantemente da população negra e usa isto como troféu; a etinopirataria – símbolos, cânticos ou outros elementos do candomblé ou africanos usados simplesmente como referência de expressões de domínio popular.
Crítico, faz observações com relação à atuação da Palmares, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). “Sinto-me muito à vontade de fazer críticas, pois há o limite institucional desses órgãos e que precisam ser superados. São extremamente importantes, mas não devem ser nossos horizontes”.
Com relação à pré-Conferência, ele entende como significativa a iniciativa. “O Estado está possibilitando o debate, ouvindo diretamente daqueles que constroem esse modelo civilizatório de tradição africana no Brasil suas demandas, suas expectativas, seus anseios. “Agora, não é suficiente ouvir, é necessário que o Estado tome estas resoluções como diretrizes para as políticas públicas na área. Então, temos a expectativa de que a Conferência não seja só um momento de conversar, de ser ouvido, mas um ponto de partida para a efetivação de políticas de diversidade cultural, de reconhecimento da nossa contribuição de efetivação de uma sociedade multiracial e multiétnica no país.
Com relação ao papel da cultura negra no Brasil, o cantor Lazzo Matumbi, faz o mesmo coro. “Ela é a cultura brasileira, em todos os sentidos, só precisa ser reconhecida e respeitada como tal.
Assessoria de Comunicação da FCP