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HONRARIA
Presidente da Palmares é Doutor Honoris Causa!
Auditório lotado e mesa representativa na concessão do título de Doutor Honoris Causa ao presidente da Palmares
O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), João Jorge Santos Rodrigues, recebeu, ontem (26), das mãos do professor Deivid Lorenzo, reitor da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), o título de Doutor Honoris Causa.
“Não me perguntem pela emoção ou pelo coração, ele está em algum lugar onde a justiça, a igualdade e a fraternidade sobrevivem”, celebrou João Jorge, durante a cerimônia de outorga, realizada no auditório da instituição.
Disse tudo.
Internacionalmente conhecido pelo trabalho de resistência e defesa da cultura negra, o presidente da Palmares carrega na bagagem significativas contribuições à luta por justiça social para a maioria do povo brasileiro.
“Com mais de seis décadas em favor da formação humana, hoje temos João Jorge, filho dessa casa, retornando ao campus para receber essa honraria”. As palavras do reitor da Ucsal são indicativas de um passado que fundamenta o presente.
João Jorge é egresso do curso de Direito da Ucsal e abriu caminhos para o debate da negritude no ambiente acadêmico. E tem consciência disso. “Este é um momento que une emoção, conhecimento e a certeza de que um trabalho extraordinário foi realizado”, resumiu.
E ele se refere não apenas a esse começo, mas ao trabalho de uma vida.
“Agradeço a todas as pessoas da Bahia que nesses últimos 45 anos estiveram comigo nas ruas, nas tribunas, nos palácios. Não é fácil para alguém que nasce em um bairro pobre atravessar fronteiras falando de um mesmo assunto: justiça, direito e igualdade”, pontuou.
Foi uma noite de emoções e significados. A banda Olodum rufou os tambores; o intérprete Tonho Matéria cantou a Revolta dos Búzios; a família do presidente gravou mensagens de carinho, exibidas em vídeo.
E a Fundação Cultural Palmares celebra, porque sabe que seu presidente está no lugar certo, no momento certo, fazendo a coisa certa. Sob a cores inspiradoras do pan-africanismo.
Mesa sinalizou prestígio
Representações falam. E a mesa de abertura da solenidade de outorga do título ao presidente da Fundação Cultural Palmares depôs em favor dessa liderança negra:
Reitor Deivid Lorenzo; pró-reitoras Germana Pinheiro e Silvana Carvalho; grão-chanceler da Universidade, o arcebispo da Arquidiocese de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha; diretor-executivo da mantenedora da Universidade, Renilson Santos; secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades (Sepromi), Ângela Guimarães; Firmiane Venâncio, defensora da Bahia; e Djenane Santos, representando a Secretaria de Educação do Estado.
Quem é João Jorge
Entre as ações desse advogado e mestre em Direito Público (UnB) podem ser destacadas a fundação do “SOS Racismo – Bahia”; a mobilização para a inserção de direitos da população negra na Constituição da Bahia de 1989; e a articulação da campanha “Reparação Já”, pela implementação de políticas de ações afirmativas para os afrodescendentes no âmbito municipal, onde atuou também como gestor (presidente da Fundação Cultural Gregório de Mattos).
Luta. Importante frisar, ainda, o incansável esforço para tirar da invisibilidade os vultos negros que construíram parte significativa da história do Brasil, nos mais diferentes campos de luta, esferas de ação, âmbitos culturais e níveis de conhecimento humano. Representando o Movimento Negro Unificado (MNU), por exemplo, defendeu a inserção, na Câmara de Vereadores de Salvador, do herói Zumbi em sua galeria de personalidades.
Com a atenção voltada para o local, o nacional e o internacional, atuou, desde 1984, para disseminar as lutas dos negros por liberdade, como a Revolta dos Búzios, ocupando espaços estratégicos, como a Empresa Brasil de Comunicação/EBC (membro do Conselho Curador). Pan-africanista convicto, visitou, entre outros países/nações, Angola, África do Sul, Etiópia, Egito, Costa do Marfim, Ghana, Benin, Senegal e Estados Unidos da América.
Escritor, poeta, o baiano João Jorge Santos Rodrigues é referência, também, no campo da produção artístico-cultural, entre
outros, pelo trabalho à frente do Olodum, grupo de percussão afro-brasileiro, eternizado em “Olodum - estrada da paixão”, um dos livros de sua autoria – o outro é o festejado “Fala, negão!”