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Ponto de Cultura voltado às tradições afro-brasileiras é inaugurado em Minas
Representante da Fundação Palmares participou do evento
O Ponto de Cultura Cecília Preta é mais um projeto voltado à valorização e difusão da cultura negra que conta com o apoio do Ministério da Cultura e Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais.
Marcus Bennett
A idéia do Ponto de Cultura surgiu para valorizar a tradição e fortalecer a economia da cultura das Irmandades do Rosário dos Negros, em Sete Lagoas, um dos patrimônios mais valiosos do Estado de Minas Gerais e de todo o Brasil. As guardas de Congo e Moçambique, as Pastorinhas e as Folias da região formam mais de 50 grupos, organizados em duas associações irmãs: a Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas e a Associação de Amparo às Caravanas de Reis e Pastorinhas – idealizadoras do projeto.
A iniciativa do Ponto é para dar suporte aos grupos de costureiras, bordadeiras e artesãs que produzem as indumentárias, as máscaras, os vestidos, as bandeiras, os andores dos santos, como também, montando oficinas de confecção de instrumentos e difundido os saberes e fazeres relacionados a essas tradições.
Além disso, o Ponto de Cultura Cecília Preta irá capacitar jovens — direta e indiretamente – ligados aos grupos de cultura popular para aprender a utilizar máquinas fotográficas e câmeras de vídeo digitais, além de softwares de edição, para o registro das manifestações culturais da região, o que caracteriza o projeto de cunho social voltado para o desenvolvimento e autonomia da comunidade que, na maioria das vezes, não tem nenhuma oportunidade de participar de qualquer tipo de qualificação ou acesso a bibliotecas.
O Ponto de Cultura Cecília Preta, a partir de agora, é um espaço que irá pulsar cultura e tradição popular, abrigando várias atividades culturais, e dando mais força e vigor às manifestações das culturas populares de toda a região de Sete Lagoas. O Ponto irá buscar também, uma maior interação entre as escolas públicas da região a fim de atingir um maior número de pessoas atendidas.
As atividades do Ponto de Cultura Cecília Preta serão divididas em três núcleos principais:
Núcleo 1: Biblioteca, Videoteca, Brinquedoteca e Sala Multimídia.
Será um centro de referência e memória das culturas populares e da cultura afro-brasileira, que irá abrigar o acervo da Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas, sobre os grupos e manifestações da cultura popular da região. Esses espaços estarão abertos a toda a comunidade, gratuitamente, sendo utilizados como lugares de pesquisa, inclusão digital, cultura, lazer e ludicidade. No núcleo 1 também serão realizados os eventos “Encontro com os Mestres” e “Diálogo de Saberes”, que promoverão o resgate da memória, o diálogo entre gerações, a valorização do patrimônio cultural afro-brasileiro e a troca de saberes entre os conhecimentos tradicionais e os científicos.
Núcleo 2: Iniciação à Informática (equipamentos e softwares livres), Fotografia e Audiovisual.
O Ponto de Cultura irá colocar 18 câmeras fotográficas, duas filmadoras e sete computadores à disposição da comunidade para registro das manifestações culturais do congado, folia de reis e pastorinhas, que ocorrem em grande número na região. O núcleo também montará uma mostra de vídeo itinerante que será locada em diferentes lugares da cidade, áreas rurais e municípios vizinhos, incluindo os quilombos Dr. Campolina (Jequitibá) e Pontinha (Paraopeba). Para isso, pretende capacitar, em três anos, 38 jovens de grupos de cultura popular da região, a utilizarem máquinas fotográficas, câmeras de vídeo digitais e softwares de edição. Os jovens serão mobilizados e ensinados a multiplicar os conhecimentos aprendidos, e ao final de cada etapa serão realizadas oficinas de avaliação e de definição de estratégias para continuidade e sustentabilidade da iniciativa.
Núcleo 3: Oficinas de Indumentárias, Adornos, Artesanato e Confecção de Instrumentos Musicais.
Diariamente, dois grupos de mulheres se encontrarão no Ponto de Cultura Cecília Preta, em horários alternados, para produzirem indumentárias, adornos, bandeiras e demais objetos culturais utilizados pelos grupos de cultura popular. Nesses encontros também serão realizadas capacitações, atividades de pesquisa e oficinas artísticas para produção de artesanato destinado à geração de renda e a valorização dos saberes e fazeres da cultura popular. O núcleo também contará com grupos de homens que se reunirão aos sábados em oficinas de confecção de instrumentos musicais. Essas pessoas serão um importante suporte para os grupos de cultura popular da região, ora produzindo trajes, instrumentos percussivos, adornos e bandeiras, ora difundindo técnicas e conhecimentos de saberes, garantindo, dessa forma, a preservação e continuidade das tradições.
Todas essas e outras atividades serão gratuitas e abertas a toda a comunidade.
Homenagem à Cecília Preta
Para falar da Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas, primeiro é preciso situá-la dentro da tradição que a nomeia, preenchendo-a de sentidos e de sentimentos. Trata-se do Congado, uma das mais expressivas tradições da matriz africana documentada no país. Também conhecido como Reinado, Congada ou Irmandade, é exemplo ímpar da riqueza cultural brasileira, possibilitada pela convivência em um mesmo contexto de diversas tradições culturais, como as fábulas e mitos da visão de mundo africana misturados aos elementos da religiosidade do catolicismo popular brasileiro.
Assim, a Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas foi fundada em 13 de abril de 1975, e, desde seu início, planejada para abarcar não apenas as guardas do município de Sete Lagoas, mas também dos distritos rurais, quilombos e municípios vizinhos, com os quais os congadeiros de Sete Lagoas possuem grandes laços de parentesco e amizade.
Agora, por intermédio do Ponto de Cultura Cecília Preta, os congadeiros da região de Sete Lagoas fazem justa homenagem à saudosa Cecília Alves Gomes, mais carinhosamente conhecida entre os congadeiros de Minas Gerais como “Cecília Preta”. Falecida em 1999, Cecília Preta foi coroada Rainha Conga do Estado Maior de Minas Gerais em 1985, por Frei Chico. Foi também médium de umbanda, líder de grupos carnavalescos e capitã de Guarda de Congo.
Oficina de apresentação
No último dia 26 de julho, foi realizada na sede da Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas, em Minas Gerais, a oficina de lançamento do Ponto de Cultura Cecília Preta.
O evento foi aberto para todas comunidades das Irmandades dos Negros e teve a participação dos membros da diretoria da Associação dos Congadeiros de Sete Lagoas, dos presidentes das guardas de congado de toda região de Sete Lagoas, além de professores e representantes do poder público municipal.
A oficina também contou com a presença de uma representante da Fundação Palmares, a servidora Taís Garone, do Departamento de Proteção do Patrimônio Afro-Brasileira, que foi convidada a apresentar um panorama geral das políticas públicas voltadas para a cultura popular e cultura afro-brasileira.
Ao firmar convênio com o Ministério da Cultura, o Ponto de Cultura recebe a quantia de R$ 185 mil, divididos em cinco parcelas semestrais, para investir conforme projeto apresentado. Parte do incentivo recebido na primeira parcela é utilizado para aquisição de equipamento multimídia em software livre (programas oferecidos pela coordenação), composto por microcomputador, mini-estúdio para gravar CD, câmera digital, ilha de edição, dentre outros.
Atualmente, existem cerca de 650 Pontos de Cultura aprovados em todo o Brasil. Um aspecto comum a todos é a transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder público e comunidade.
Fotos: Quin Drummond e Helenilton Pinheiro.
Contato:
Associação Regional dos Congadeiros de Sete Lagoas: congado7lagoas@yahoo.com.br .