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Políticas públicas e intolerância religiosa
Aula-espetáculo sobre a contribuição do negro na formação do Brasil abre seminário na UnB
Organizado pela Federação Brasiliense e Entorno de Umbanda e Candombé, o primeiro Seminário Políticas Públicas e Intolerância Religiosa, realizado com o apoio da Fundação Cultural Palmares, abriu os trabalhos com um grandioso espetáculo narrativo da contribuição do negro na formação da sociedade brasileira nos vários campos, como música, dança, gastronomia e religião.
O diretor da aula-espetáculo, Júlio César, professor de teatro, diretor da Regional de Ensino de Santa Maria e também sacerdote do Candomblé, contou como foi e porque se interessou em montar uma peça sobre a história do negro no Brasil. “Vi muito preconceito em salas de aula, tanto racial como religioso”. Assim, iniciou uma intensa pesquisa para escrever seu roteiro. Visitou lugares e cidades, como a Serra da Barriga, o quilombo dos Kalunga, Serrinha, onde são mais fortes as manifestações culturais que planejava mostrar no palco. Reuniu alunos, pais e mães de alunos e pessoas da comunidade de Santa Maria e montou um belo espetáculo, no qual inseriu um magnífico cancioneiro, desde clássicos como Guerra Peixe, Villa-Lobos até Dorival Caymmi, Paulo César
O vice-presidente da Federação Brasiliense e Entorno de Umbanda e Candomblé, Pai Ribamar, explica que a realização deste seminário servirá para provocar o debate na sociedade brasileira acerca da intolerância às religiões de matriz africana e principalmente que o governo elabore políticas públicas para essa questão. Mas eles querem também uma proposta para resgatar o patrimônio da Prainha, local de homenagem aos orixás, localizado à beira do lago Paranoá, em Brasília, hoje abandonado pelas autoridades.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, ressaltou a realização do seminário como algo muito positivo, “sinal de que estamos avançando na nossa luta para fazer do Brasil um país plural nas questões cultural, racial e religiosa”. Para ele, a Federação está cumprindo o seu papel de trazer a público essa problemática e a Fundação Palmares, como parceira, também tem por obrigação colaborar para esse debate, pois “faz parte da sua missão preservar e difundir o valor dessa manifestação cultural”.
Zulu Araújo destacou as muitas comemorações que estão ocorrendo neste ano de 2008, entre elas, o aniversário de 20 anos da Fundação Cultural Palmares, criada pela perseverança dos militantes do movimento negro que foram até ao governo federal dizer que não adiantava a sua luta se o Estado não assumisse a sua participação para que se desse voz aos saberes e fazeres do povo negro na formação da nação Brasil. Segundo disse, a sociedade brasileira está impregnada da cultura afro, “foi a generosidade da presença do negro que permitiu os vários saberes e fazeres em manifestações como a dança, o futebol, a música, a comida…”
O presidente da Fundação Palmares destacou o desempenho do governo Lula nas ações de políticas afirmativas, que possibilitaram, por exemplo, o ingresso de milhares de afro-descendentes nas universidades públicas por meio das cotas e do Prouni. Ele lembrou também que foram essas políticas afirmativas que tornaram possível a eleição de Barack Obama, primeiro negro a assumir a presidência da maior potência do mundo. “Obama é fruto dessas ações afirmativas. Nos Estados Unidos, essas políticas são realizadas há mais de quarenta anos e forjaram um novo cenário, que culminou com essa importante vitória, que coloca para o mundo um novo olhar sobre os negros e suas manifestações culturais”.
A importância da lei 10.639, que desde 2003 tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, como demonstrado na aula-espetáculo que abriu o seminário, foi lembrada por Zulu Araújo, numa referência a que se todos entendessem a contribuição dessas manifestações culturais, “talvez não precisássemos mais fazer seminários contra a intolerância religiosa”.
O Seminário prossegue até o dia 29/11, sábado, quando pais e mães-de-santo farão a lavagem da Prainha.