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Personalidades Negras – Juliano Moreira
Negro e pobre, nascido em Salvador (BA), Juliano Moreira foi o exemplo de perseverança. Ingressa em 1886 na Faculdade de Medicina da Bahia, com 15 anos, formando-se em 1891 defendendo a Tese intitulada Sífilis maligna precoce. Em 1896, passa em primeiro lugar para lente (professor) substituto da 12ª Seção – cadeira de moléstias nervosas e mentais -, com a tese sobre as Discinesias arsenicais. Foi um revolucionário das concepções e métodos de Psiquiatria no Brasil, sendo reconhecido internacionalmente por seu trabalho relacionado à atenção às pessoas com problemas mentais. Entre seus legados incluem-se a formulação de propostas e novos modelos assistenciais psiquiátricos (1903); a aprovação da lei de assistência aos alienados em 22 de dezembro de 1903; a fundação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins (1905). No campo da antropologia, deixa um legado de combate ao racismo científico, por seu papel na refutação da crença de que as doenças mentais estariam ligadas à cor da pele das pessoas.
BIOGRAFIA:
Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1872 – Petrópolis, 2 de maio de 1933) Médico brasileiro especialista em Psiquiatria, é considerado como o fundador da disciplina Psiquiátrica e da Psicanálise no Brasil pelos avanços que promoveu nestes campos da ciência médica. Foi o primeiro professor universitário brasileiro a citar e incorporar a teoria psicanalítica no ensino da medicina.
Nascido em Salvador, no ano do Cinquentenário da Independência do Brasil Imperial, negro e pobre, filho de Galdina Joaquina do Amaral, a quem os livros não afirmam, mas também não desmentem a situação de escrava, que trabalhava na residência de Luís Adriano Alves de Lima Gordilho, Barão de Itapuã. Somente após a morte de sua mãe, quando tinha 13 anos de idade, é que foi reconhecido como filho por Manoel do Carmo Moreira Júnior, português, inspetor de iluminação pública.
Graças ao apoio do Barão de Itapuã, seu padrinho, que era médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia, Juliano Moreira faz os cursos preparatórios e conseguiu ingressar no curso de medicina, em 1886, formando-se em 1891, aos 19 anos, defendendo a tese “Sífilis maligna precoce.” Em 1896, fez o concurso para lente(professor) substituto da 12ª seção – Cadeira de moléstias nervosas e mentais -, com a tese “Discinesias arsenicais” sendo aprovado em primeiro lugar, com nota máxima com apenas 24 anos. Nesse mesmo ano, passou a figurar entre os redatores da Gazeta Médica da Bahia, de Braz do Amaral como redator-gerente e José Francisco de Silva Lima como redator principal.
De 1895 a 1902, realizou cursos e estágios sobre doenças mentais, visitou muitos asilos na Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Escócia. Mas, além de viagens de estudos, sofrendo de tuberculose, Juliano já era obrigado a procurar com frequência especialistas e clínicas para consultas. Com a melhora de suas crises, consegue uma nova licença e viaja para a Europa em busca de melhor tratamento e acaba internando-se em um sanatório na cidade do Cairo, onde conheceu Augusta Peick, enfermeira alemã, de Hamburgo, que acabaria sendo sua esposa. Porém, o casal nunca teve filhos.
Em 1900 representa o Brasil em congressos internacionais em Paris, e acaba também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de Assistência a Alienados, em Berlim, sendo ainda congressista brasileiro em Lisboa (1906), Milão e Amsterdã (1907), Londres e Bruxelas (1913).
Permaneceu lecionando na Faculdade de Medicina da Bahia, até 1902. Em 1903, mudou-se para o Rio de Janeiro. E entre 1903 e 1930, dirigiu o Hospício Nacional de Alienados revolucionando o tratamento com a abolição do uso de camisas de força, retirando grades de todas as janelas e separando pacientes adultos de crianças. Embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, recebia internos para o ensino de psiquiatria – destacando-se, Fernandes Filgueira (1863 – 1928), Franco da Rocha (1864 – 1933), Miguel Pereira (1871 – 1918), Afrânio Peixoto (1876 – 1947), Antônio Austregésilo (1876- 1960), Henrique Roxo (1877 – 1969), Ulysses Vianna (1880-1935), Gustavo Riedel (1887- 1934) e Heitor Carrilho (1890 – 1954). Muitos deles vieram a atuar, também de forma pioneira, em diversas especialidades médicas, como neurologia, psiquiatria, clínica médica, patologia clínica, anatomia patológica, pediatria e medicina legal. Durante seu trabalho como diretor do Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento dos pacientes.
Dentre suas principais teses, ao contrário de Nina Rodrigues, defendia a ideia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais: como o alcoolismo, a sífilis, as verminoses e a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando pensamento racista existente no meio acadêmico, que atribuía os problemas psicológicos da população brasileira à miscigenação. Acabou, por isso, destacando-se também na área da dermatologia. Foi o primeiro pesquisador a identificar a Leishmaniose Cutaneomucosa, explorou a Sifilografia e a Parasitologia, passando a buscar provas de que a questão racial não motivava as doenças.
Foi redator principal por dez anos da Revista Gazeta Médica da Bahia, participou da Escola Tropicalista da Bahia e em 1894 fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia e a Sociedade de Medicina Legal da Bahia. Como diretor do Hospício Nacional dos Alienados no Rio de Janeiro, mudou a estrutura física do hospital estabelecendo novos modelos de assistência psiquiátrica dentro dos hospícios. Criou laboratórios dentro dos hospitais e introduziu a técnica de punção lombar e do exame cefalorraquidiano como diagnóstico neurológico (1906). Foi o Criador do Manicômio Judiciário, em 1911. Membro da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências entre 1917 e 1929, tendo ocupado o cargo de Presidente no último triênio. Foi também membro de diversas sociedades médicas em todo o mundo. Dentre as instituições internacionais das quais fez parte, incluem-se a Anthropologische Gesellschaft (Munique), a Société de Medicine (Paris) e a Medico-legal Society (Nova York).
Juliano Moreira revolucionou as concepções e métodos da psiquiatria no Brasil, referente à atenção às pessoas com problemas mentais. Entre seus legados incluem-se a formulação de propostas e novos modelos assistenciais psiquiátricos (1903); a aprovação da lei de assistência aos alienados em 22 de dezembro de 1903; a fundação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins (1905). No campo da antropologia, Juliano deixa um legado de combate ao racismo científico, ao contestar a crença de que as doenças mentais estariam ligadas à cor da pele das pessoas.
Em 8 de dezembro de 1930, Juliano Moreira é destituído da direção do Hospital Nacional de Alienados, onde também morava. Aposentado, foi morar em Santa Teresa, mantendo suas visitas a alguns pacientes particulares no Sanatório Botafogo, pertencente a Ulysses Vianna, e indo as sessões da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina e Ciências Afins. Em 17 de novembro de 1932, retornaria pela última vez à Sociedade que fundara, para uma sessão solene.
A tuberculose avançava. Miguel Couto, seu médico, decide encaminhá-lo para a Serra de Petrópolis, hospedando-se residência de Hermelindo Lopes Rodrigues, um dos seus maiores discípulos, vindo a morrer em 2 de maio de 1933, no Sanatório de Correias – Petrópolis, onde se internara para tratamento de tuberculose.