Notícias
Personalidades Negras – Alaíde Costa
Alaíde Costa, aos 80 anos de vida, dos quais sessenta são dedicados à carreira musical, é, indubitavelmente, uma das mais belas vozes da música popular brasileira.
Embora participasse, desde criança, de programas de rádio, tendo vencido, aos treze anos, um concurso de melhor cantora jovem, o início de sua carreira profissional coincidiu com o final da era de ouro do rádio brasileiro, na década de 1950. Sua trajetória foi igual a de muitas cantoras da época: no começo, apresentou-se em programas de calouro no bairro; depois em rádios; atuou como crooner de orquestra; e, enfim, firmou contrato com uma gravadora.
Sua voz baixa e suave, de timbre afetivo, marcada pela elegância, arrancou elogios de Ary Barroso e chamou a atenção de João Gilberto, que achava o estilo de Alaíde adequado para as músicas elaboradas por um jovem grupo de compositores que tocavam de um modo diferente, com uma bossa nova.
Alaíde, que estreara nos long plays em 1957, com Tarde demais, gravou, já em seu terceiro disco, Alaíde canta suavemente (1959), Estrada branca (Tom Jobim e Vinícius de Morais), Lobo bobo (Carlos Lira e Ronaldo Bôscoli) e Minha saudade (João Donato e João Gilberto), três representantes da Bossa Nova.
Bossista de primeira hora, frequentou o Beco das Garrafas, em Copacabana, antes do lugar se tornar um dos grandes polos da música brasileira. Consolidou, no entanto, sua carreira artística na cidade de São Paulo.
Adepta dos arranjos minimalistas e dona de um jeito de cantar que parece saborear as palavras enquanto as pronuncia, ficou conhecida como a Mãe da Bossa Nova, embora não tenha se privado a cantar outros estilos, como o samba e a MPB.
Assim como outros negros e negras que despontaram no cenário artístico brasileiro no início da segunda metade do século XX, Alaíde Costa passou por situações constrangedoras, sendo, por exemplo, obrigada, na década de 1960, a acessar o hotel Copacabana Palace, para suas próprias apresentações, pela entrada de serviço.
Coincidência ou não, é nesta mesma década que grava Preconceito (Adilson Godoy), música de protesto, embora tenha o tom de lamento, que destaca as contribuições dos negros à cultura brasileira, ao mesmo tempo em que clama pela igualdade e justiça para a população negra. Na década seguinte, aderiu ao visual propagado pelo movimento estadunidense Black Power, mantendo sua postura crítica perante as diversas formas de opressão vividas pelo povo negro.
Seu talento e sua sólida carreira, entretanto, lhe ajudaram a superar a discriminação. Na música, sempre teve muitos parceiros, porém o mais longevo e de maior cumplicidade foi Oscar Castro Neves. Conheceram-se nas primeiras reuniões da turma da Bossa Nova e desde então Alaíde se tornou a principal intérprete do instrumentista e arranjador, Oscar. Seu maior sucesso, Onde está você, gravado em 1961, é de autoria dele.
Atualmente, Alaíde continua ativa e criativa. Em 2014, lançou seu primeiro álbum autoral. Notória intérprete, em Canções de Alaíde, ela apresenta, além de músicas próprias, composições em parceria com Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, Tom Jobim, Geraldo Vandré, Johnny Alf, Hermínio Bello de Carvalho, entre outros. E em 2015, gravou seu primeiro DVD, que será lançado no próximo ano.