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Parque Memorial Quilombo dos Palmares recebe visitantes
Alunos escutam a explicação sobre a história do Quilombo dos Palmares
Na véspera de completar um ano, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, já se encontra em ritmo de festa.
Diversas atividades já estão sendo executadas no local construído em homenagem ao líder negro. Ontem, estudantes de diversas escolas estiveram na Serra visitando todos os espaços do Parque e conhecendo um pouco mais da história e da cultura do negro brasileiro.
Os alunos da escola municipal Major Cícero, de Ibateguara (AL), percorreram todo o Parque, aprendendo mais sobre a historia de Zumbi e do Quilombo dos Palmares. O diretor do colégio, Plácido da Silva Filho, há seis anos, leva à Serra da Barriga os alunos que estão na última série do ensino fundamental. Desde a construção do Parque, o diretor contou que os alunos ficaram mais atraídos pela historia de Zumbi. “Hoje, quando eles chegam na escola, é o comentário durante semanas”, disse.Os visitantes também puderam conferir algumas atividades de integração entre diversas comunidades quilombolas. É o caso da oficina de “farinhada”, em que os quilombolas da comunidade de Jussara, localizada próxima à cidade de União dos Palmares, partilharam com o público e com outras comunidades todo o processo de transformação da mandioca em farinha, desde a trituração, a secagem, até a torração.
Apesar de o processo de fabricação da farinha ter mudado devido à industrialização, a comunidade continua transmitindo a cada geração o processo antigo. “É porque é nossa cultura”, disse o presidente da Associação da Comunidade, José Cícero Alves, que trouxe 20 quilombolas para prestigiar o Dia da Consciência Negra na Serra da Barriga.Outra atividade interessante é a produção artesanal de abanadores, esteiras e leques, por meio da técnica do Pipiri, levada ao Parque Memorial também pela comunidade remanescente de quilombo de Jussara.
Dona Raimunda – uma das lideranças da comunidade e artesã conhecida pela região de Alagoas – explica que trabalha desde pequena com a técnica do Pipiri, nome que vem da planta, típica da região e que só é encontrada dentro de lagoas e rios, cujas folhas são utilizadas como matéria-prima. “A gente tem que enfrentar bicho no rio, na lagoa, aqueles mosquitos que ficam mordendo a gente, mas nós vai lá e colhe”, diz. Até porque, o Pipiri só floresce entre os meses de outubro e dezembro, então, “nós corta e guarda pro ano inteiro”.
O trabalho é tão conhecido que dona Raimunda já participou de feiras de agricultores em Brasília e Rio de Janeiro. Na próxima sexta-feira, ela viaja novamente para o Rio, onde irá participar da feira de agricultura familiar promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Cada peça é vendida entre R$ 5 e R$15, o que gera uma pequena renda para dona Raimunda, que tem oito filhos para criar. “Sustento toda minha família com esse trabalho. Compro roupa, material escolar, tudo. Mas é uma correria! Hoje, ainda vou pra uma feira de ciência numa escola, amanhã, volto pra cá (Serra da Barriga). Na sexta, ainda participo de uma Assembléia de mulheres trabalhadoras rurais e de pescadores em Maceió”.Patrimônio Histórico e Cultural
O coordenador dos agentes florestais, Diogo Palmeira, trabalha há dez anos no Parque, e explica que o espaço está em perfeitas condições de funcionamento. “O que estava faltando no Parque era movimentação, que já cresceu bastante”, afirmou. Diogo explica que os agentes trabalham na preservação da fauna e da flora, no controle do plantio das famílias que moram no entorno e no controle do acesso dos visitantes.
Por estar há muito tempo na Serra da Barriga, Diogo pôde ver o nascimento do Parque e diz ser muito gratificante trabalhar ali. “Um dia isso ia ter que acontecer, porque a Serra da Barriga não é só um pedaço de chão no estado de Alagoas, é uma história que envolve o Brasil e o mundo. É um marco de liberdade”, disse o agente.Hoje, a Serra da Barriga conta com uma estrutura completa para visitações turísticas, embora enfrente alguns problemas para fechar uma programação constante no local. No entanto, para dirimir esses e outros problemas, no começo deste ano foi organizado um Comitê Gestor do Parque, unindo diversas representações e segmentos da sociedade, permitindo dessa forma, unir os diversos olhares e idéias para se encontrar uma solução definitiva para que o Parque se transforme em um grande atrativo e orgulho nacional.
O presidente do Comitê – também diretor de Proteção do Patrimônio Afro-brasileiro, da Fundação Cultural Palmares – Maurício Reis, comenta que o grupo está construindo uma proposta para a revitalização do Parque Memorial. Na última reunião, em outubro, o comitê definiu algumas das atividades que estão acontecendo durante toda essa semana em comemoração ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Mas a idéia “é juntarmos esforços dos governos federal, estadual e municipal para não focar apenas na semana da consciência negra, mas realizar uma programação de atividades que dure o ano todo”, explicou o diretor.