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NOVEMBRO NEGRO
Palmares reinsere nomes e amplia lista de negros notáveis!
Manifestações culturais de matriz africana enriqueceram a 2ª Reunião Ordinária da Comissão de Análise de Personalidades Negras
Esta quinta (21) ficará gravada na história da Fundação Cultural Palmares como o dia de resgate – simbólico – da memória afro-brasileira, com a reinserção dos nomes das personalidades que foram riscados pelo governo passado de sua lista de notáveis, e ampliação da relação.
Foi o dia da 2ª Reunião Ordinária da Comissão de Análise de Personalidades Negras, para escuta ativa, consolidação de indicações, triagem e votação em plenária, no auditório da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
NOMES. Nomes excluídos, como o de Gilberto Gil, e novas personalidades, como Bruno Mars, Aretha Franklin e Bob Marley, foram (re)inseridos e indicados para compor a relação de negros notáveis da instituição, consolidando a revisão cuidadosa de critérios.
Num processo democrático, a plenária, composta por delegados de todas as regiões do País, aprovou previamente 30 novos nomes indicados (ver relação abaixo), que serão avaliados pela comissão, para consolidação e inserção na lista.
A solenidade de instalação dos trabalhos foi aberta pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, e os trabalhos da comissão, conduzidos pelo diretor Nelson Mendes, do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira.
MESA DOS TRABALHOS. Representando a comissão, pela Fundação Cultural Palmares, compuseram a mesa da reunião ordinária os servidores Valéria Monteiro, Marcela Costa, Guilherme Bruno e José Nelson Manoel Bernardo Junior.
Complementando o rol, Geová Alves da Silva (Conselho Nacional de Políticas Culturais), Victor Hugo Narciso (Conselho Nacional de Políticas Culturais) e Francisca Cristina Santos Miranda (Conselho Nacional de Igualdade Racial).
Numa fala inspiradora, João Jorge evocou a memória das personalidades negras que resistiram à perversidade do racismo, e que por isso foram violentadas, mortas, riscadas da história – um apagamento análogo ao da exclusão dos nomes do panteão da Palmares, pelo governo passado.
– Um ato que precisava ser revogado, que é o que vamos fazer aqui hoje.
TERRA PARA POUCOS. Discorrendo sobre os direitos da população negra, idealizou um Brasil em que “não precisemos mais das necessárias cotas para acesso à universidade”, com a oferta de uma escola pública de qualidade para a população negra, entre outros.
Uma “terra prometida” que, segundo ele, ainda “tem sido para poucos”, que ainda é devida às populações indígenas, às populações negras, aos povos bantos, aos povos latinos, às mulheres. “Essa nação deve isso a nós”.
Franqueada a palavra, a plenária passou a indicar os nomes para compor a lista. E não só. Como em todo processo democrático, teve lugar para protestos, sugestões, reivindicações, polêmicas... Com uma unanimidade: o veto de nomes de pessoas brancas no panteão.
A controvérsia foi em relação às autoindicações (houve duas, que serão analisadas pela comissão). Entre as reivindicações, a de instituição de uma política pública que viabilize a circulação de mulheres negras que trabalham anonimamente em seus territórios em espaços de debate como o da reunião da comissão.
O diretor Nelson Mendes fechou os trabalhos com um discurso breve, mas consistente, em que ressaltou o dever da Palmares, “de reverter o golpe que sofremos, quando tentaram apagar a nossa memória”.
Estamos vivos para isso!
No palco, a performance forte do grupo Obará. Um pequeno trecho, a título de ilustração:
“Eu sou filha da preta que deixa os filhos em casa, sozinhos. Mas não é porque ela gosta. Não é porque ela quer. É porque ela precisa. E, muitas vezes, precisa pra poder ir lá cuidar do filho do barão. Eu sou filha da preta com balaio na cabeça. Que vai pra cachoeira, que lava roupa, deixa tudo limpo, tudo quarado. Eu sou filha da preta que é tocada. Que é abusada. Que é violentada. Importunada. E estuprada todos os dias, em todos os lugares. E que carrega na veia miscigenação. Mas aqui não. Aqui não”.
-> Entenda todo o processo! <-
A relação de notáveis foi criada em 1994, pela Fundação Palmares, como forma de registrar a contribuição de personalidades negras à causa afrodescendente, em diferentes campos de conhecimento e ação.
Ao longo dos séculos, trajetórias individuais e coletivas moldaram, enriqueceram e registraram a história dos negros, com narrativas de luta e superação que desafiaram as estruturas de opressão e exclusão.
ATO POLÍTICO. Mais que um documento, trata-se de um ato político, um locus de afirmação e resistência. Cada nome ali registrado ecoa vozes que jamais se calaram, histórias que desafiaram o racismo, o silenciamento, o esquecimento.
Para além da (necessária) preservação da memória, o rol é ferramenta de empoderamento para jovens negros e negras que, ao se depararem com nomes como os de Barack Obama e Madame Satã, por exemplo, encontram exemplos concretos de superação e força.
CRITÉRIOS. Membro da Comissão de Personalidades Notáveis Negras e coordenador do Centro de Informação e Acervo da Memória e da Cultura Afro-brasileira (CIAM) da Palmares, Guilherme Bruno explica os critérios de inclusão na lista.
Em síntese, a inclusão se dá pelo reconhecimento de pessoas negras que, em diversas áreas, transcendem barreiras e se tornam referência para a sociedade. “É preciso destacar quem abriu caminhos”, ele diz, e destaca:
– Vinícius Júnior é um exemplo recente. Sua luta contra o racismo no futebol internacional representa resistência!
DESAFIOS. A seleção sofreu percalços, como o da portaria 189/2020, que, sob justificativas controversas, retirou nomes como o de Madame Satã do conjunto de notáveis – o que foi devidamente revogado pela portaria n.º 73, de 2023.
A revogação deu-se mediante revisão dos critérios de inclusão, num esforço para garantir que o registro não seja guiado por valores morais e sim pelo reconhecimento do impacto dessas figuras na construção de identidades.
Sobre os critérios de exclusão e inclusão, José Nelson Júnior, vice-presidente da comissão e chefe de projetos II do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira, destaca a capilaridade e o caráter democrático do processo.
– É uma construção coletiva. Buscamos o diálogo com comunidades e movimentos negros.
E reitera: “garantir que nomes de pessoas que contribuíram com a história dos negros sejam lembrados não é um ato isolado, mas parte de uma estratégia contínua para ampliar as vozes de quem foi silenciado pela história oficial”.
NOVOS NOMES. Com a inclusão planejada de nomes como os de Bruno Mars, Aretha Franklin e Bob Marley, acima citados, a Fundação Cultural Palmares inicia o processo de ampliação do alcance e da diversidade dessa galeria.
O compromisso da gestão atual, expresso por diversos membros da comissão, é claro: transformar a lista em um instrumento dinâmico, em constante atualização, capaz de impactar tanto o presente quanto o futuro dos brasileiros.
Hoje, além da reinserção de nomes, a listagem foi ampliada, mas, como pontuou o diretor Nelson Mendes, o processo não se encerra nesse momento. Por meio de um formulário online, qualquer pessoa pode indicar nomes.
O fortalecimento desse instrumento é de fundamental importância para a nossa história, porque cada personalidade homenageada simboliza um legado que transcende gerações, celebrando a multiplicidade de talentos e saberes dos povos negros no Brasil e no mundo.
A lista completa dos indicados de hoje:
- Pastora Mercedes de Moraes
- Diaconisa Emília Costa
- Mãe Netinha
- Maria do Carmo
- Tia Marcelina
- Valério Nicolau
- Maria Regina Ribeiro
- Lizanel da Silva (Mestre Jacaré)
- Jeruse Romão
- Márcio Pereira de Souza
- Veroníldes Rodrigues da Silva (Mãe Vera de Oyá)
- Emanoel Cabral da Silva (Mestre Nel do Reggae)
- Professor Dílson Moreira da Costa
- Mestre Bule Bule
- Ebomi Cici de Oxalá
- Profa. Cida Bento
- Mestre Kalunga de Angola
- Mãe Miriam Araújo Souza Melo
- Mestre Moa Katendê
- Mãe Sebastiana de Oxossi
- Maria Avelino Marques da Silva (Vovó Tutu)
- Maria Isabel de Assis
- Damasceno Gregório dos Santos (Mestre Damasceno)
- Professora Maria Carrascoza
- Mestre Zumba
- Iyá Márcia d´Ôgún
- Toni Edson Costa Santos
- Armando Veríssimo Ribeiro (Moleque namorador)
- Sabrina Piloto de Jesus (autoindicação)
- Andressah Catty (autoindicação)
Para acesso ao formulário de indicação de nomes, clique aqui:
https://forms.gle/SxU2N2XF3WxPbKuV6
Para acesso à listagem de personalidades negras, clique aqui:
https://www.gov.br/palmares/pt-br/departamentos/fomento-a-cultura/personalidades-notaveis-negras-1
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