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Palmares participa da 1ª Roda de Conversa Psicologia e Religião
A Universidade de Brasília promoveu na quinta-feira (23), no auditório da Faculdade de Saúde, a 1ª Roda de Conversa Psicologia e Religião. O debate teve a mediação do professor Dr. Wladimir Porreca, professor de Psicologia e Religião da UnB. A mesa foi composta por cinco representantes religiosos. Cada um teve trinta minutos para expor sobre sua religião: a contribuição e participação social, a doutrina, a liturgia social e as práticas interacionais com a Psicologia.
A conversa começou com o Dirigente Niéliton Leite Gomes. Em sua fala esclareceu a afirmativa que diz que “todos somos Budas em potencial”, mostrando que Buda é antes de tudo uma condição de consciência e entendimento interior, amor e compaixão ao próximo. Niéliton também falou sobre doenças cármicas e o conceito da unicidade de corpo e mente adotado pelo Budismo, que se assemelha aos entendimentos da psiquiatria.
O Budismo possui várias vertentes e entre seus ensinamentos está o entendimento de que a existência é interminável porque os indivíduos podem reencarnar mudando seu estado espiritual, experimentando o sofrimento e adquirindo sabedoria ao longo de várias vidas até alcançar a iluminação.
Em seguida a Yalorixá Mãe Baiana (Adna Araújo), que atua na Coordenação de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares – MinC, esclareceu características do Candomblé que geralmente são alvos de preconceito. Em sua palestra explicou como os rituais praticados dentro de uma casa de santo, também chamada de roça ou terreiro, influenciam positivamente o tratamento de mazelas do corpo e do espírito.
Mãe Baiana disse que “se formos fazer uma triagem dos que estão na fila do SUS ela vai andar mais rapidamente. Vai contemplar quem está lá e vai fazer um bom trabalho. Porque se tirar o tanto de gente que está lá achando que tem alguma doença da carne sem ter, a fila reduz. A questão é muito séria. Assim como também se a gente chegar em um manicômio, vamos ver muita gente ali que não tem nada na mente, que não tem depressão. O que é depressão? Eu lá no terreiro sei. Depressão lá a gente põe a pessoa para dentro, dá banho de descarrego, dá reza. Tem a iniciação, faz um ritual chamado bori, onde mexemos com o ouri, que quer dizer cabeça, da pessoa, no sentido bom. No sentido de fortalecimento e a pessoa sai de lá bem.” A Mãe de Santo fez menção também ao uso de ervas e folhas sagradas em defumadores, chás e banhos, com o intuito de tratar doenças do espírito.
O Xeique Kamal foi o próximo a falar. A respeito da religião islã destacou como sendo a última religião revelada por Deus à toda humanidade por meio de seu profeta Mohamed, até o juízo final. Conforme sua explicação, o Islamismo compreende que cada um dos profetas foi enviado para um tempo e povo específico. Ao morrerem a mensagem se encerrava porque o trabalho era temporário. Para o Xeique “a religião Islã vem para ensinar o ser humano como se relacionar com a humanidade, independentemente das suas cores, raça e da religião. Então, talvez ao contrário do que muita gente entende e pensa da religião islâmica, o mulçumano tem por obrigação respeitar todos os mensageiros e profetas de Deus, respeitar todas as religiões que foram reveladas antes da religião islâmica.”
Em sequência, Iniciando sua participação, a Pastora Noêmia falou sobre a origem da intolerância, que não nasce na religião e sim no coração humano e na mente que está doente. Noêmia destacou que os extremismos são frutos de pessoas que não conhecem a arte, seja a arte do futebol ou a arte da religiosidade. Mas segundo ela, a divergência de ideias não é errada porque Deus nos fez diversificados para um ajudarmos uns aos outros. Apresentou resumidamente o que a Bíblia revela como o início dos pecados e falhas da alma humana e o plano de Deus para salvar o espírito e restaurar integralmente o homem. E esse plano é centralizado na obra de Jesus.
Padre Scott Randall Paine relatou como se converteu à Igreja Católica e como os momentos que esteve fora do catolicismo foram essenciais para entender a religião melhor. Explanou sobre a importância dela em diferentes civilizações ao longo da história. Explicou o papel do Apóstolo Pedro em perpetuar e manter a integridade da mensagem deixada por Jesus.
Em seguida à exposição resumida de cada uma destas religiões houve uma roda aberta de conversas e discussões acerca de tolerância religiosa e demais temas correlacionados. Para a Presidenta Nacional da Aliança de Negros e Negras Evangélicos no Brasil, Pastora Waldicéia Moraes, a roda de conversa foi muito importante porque ela não enxerga outra maneira a curto prazo de combater questão da intolerância religiosa que não seja por meio da promoção de eventos inter-religiosos. Waldicéia disse que “a intolerância também está atrelada à discriminação, ao preconceito e ao racismo. Isto ocorre porque em geral na sociedade não há uma aversão às religiões que tem origem europeia e norte-americana. No Brasil o preconceito é percebido de forma mais clara e contundente contra as religiões de matriz africana”.
A organização da roda de conversa informou que ainda no segundo semestre de 2017 haverá uma segunda roda sobre os pesquisadores da religião, psicologia, sociologia e outros saberes.