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Palmares comemorou aniversário com seminário e show no Rio de Janeiro
Mesa solene da comemoração, no Rio de Janeiro, dos 24 anos da Fundação Cultural Palmares
Por Jacqueline Freitas
A Fundação Cultural Palmares encerrou as comemorações de seus 24 anos promovendo, na última sexta-feira (6), no Rio de Janeiro, o seminário “Personalidades da cultura negra brasileira”, seguido da apresentação do cantor e compositor Carlos Dafé.
O seminário foi aberto pelo presidente Eloi Ferreira, que compôs a mesa solene com Marcelo Veloso, do Ministério da Cultura no RJ/ES; Paulo Roberto dos Santos, do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine); Lelette Coutto, da Coordenadoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Município – Ceppir/RJ; Jana Guinon, do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro (Comdedine), e Mônica Costa, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan).
O presidente da Fundação Cultural Palmares lembrou que o órgão foi criado em um momento histórico de clamor do povo brasileiro, pelo fim da ditadura e do racismo, e simboliza o reconhecimento do governo à necessidade de reparar as injustiças decorrentes de quase 400 anos de escravidão. A FCP foi criada em 1988, ano do centenário da Abolição da Escravidão no Brasil.
Homenagem – Primeira a se pronunciar e protagonista de um dos momentos mais emocionantes da sessão solene, Lelette Coutto, da Ceppir, fez um apelo em torno da união e conscientização sobre o papel do negro perante a sociedade e lembrou a homenagem que, nesse mesmo dia, estava sendo feita a seu pai, o ator e diretor Waldir Onofre, primeiro cineasta negro do Brasil e também responsável pela introdução de inúmeros atores e figurantes negros no cinema. “O Rio de Janeiro está no foco do mundo, preparando-se para receber grandes eventos, e o momento é este para dizer quem somos e porque estamos aqui”, incentivou.
História – Em nome da diretoria do Comdedine, Jana Guinon parabenizou a FCP pelo vigésimo quarto aniversário e fez coro ao apelo da coordenadora da Ceppir, destacando que pertence a uma geração que ainda não conhece bem a história do negro no Brasil e que a Fundação Palmares é de grande importância nesse cenário.
O representante do MinC no Rio, Marcelo Veloso, reforçou a agenda política da Fundação Cultural Palmares de valorização racial por meio das manifestações culturais brasileiras. “A Palmares tem dado contribuições inequívocas ao longo desses 24 anos, especialmente ao reconstruir a relação com nossos irmãos africanos, assim como com as comunidades quilombolas, que são o cerne de nossa constituição como Nação”, afirmou.
Mônica Costa afirmou que a parceria entre o Iphan e a FCP tem sido muito importante em ações em prol do patrimônio imaterial e material afro-brasileiro, a exemplo das recentes gestões em torno do Cais do Valongo. A representante do Instituto aproveitou a oportunidade para divulgar a realização do 3º Fórum de Terreiros de Candomblé, que acontecerá no Rio de Janeiro no próximo dia 21 de setembro.
Paulo Roberto Santos enalteceu a iniciativa do presidente da Fundação Cultural Palmares em lançar a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade, ocorrida durante as comemorações do aniversário da FCP em Brasília. O presidente do Cedine também conclamou a união dos órgãos representativos da população negra no sentido de que a cultura negra seja “cada vez mais valorizada e respeitada”.
Eloi Ferreira destacou que os locais de onde os negros saíram para o mundo foram tornados Patrimônio da Humanidade, mas os pontos de chegada não. Daí a iniciativa da Fundação Cultural Palmares de lançar a proposta para que o Cais de Valongo seja este primeiro patrimônio reconhecido. Finalizando a sessão solene, o presidente da FCP reiterou que a luta por um Brasil mais justo e fraterno não é prerrogativa da população negra. “É um desafio de todos”, concluiu.
Seminário – Para a apresentação do tema “Personalidades da cultura negra brasileira”, os convidados da tarde foram Vanda Ferreira, ex-secretária de Educação do Estado do Rio de Janeiro, e Benedito Sérgio, presidente do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras do Rio de Janeiro – IPCN. Atuou como mediador o representante da FCP no Rio de Janeiro e Espírito Santo, Rodrigo Nascimento.
Adotando o estilo de apresentação por décadas, a partir de sua data de nascimento – “para falar das personalidades eu precisaria de pelo menos outros 24 anos, então falarei do que vivi e conheci”, anunciou – Vanda Ferreira enalteceu figuras notórias como Lélia Gonzales, Candeia, Abdias Nascimento, Muniz Sodré, Beatriz Nascimento, Marcílio Ferreira (ator negro vetado como protagonista na novela “A cabana do Pai Tomás”, em detrimento de Sérgio Cardoso, que atuou com maquiagem preta) e as mães de santo, assim como as lideranças negras do Morro dos Cabritos, as tias da Ladeira dos Tabajaras, as rodas de samba do Teatro Opinião, a escola de samba Quilombo, o Renascença Clube.
Seguindo método similar, Benedito Sérgio relembrou histórias do interior do Estado do Rio de Janeiro, especialmente em sua terra natal, Campos dos Goytacazes, destacando também a importância do Movimento Negro para a História do Brasil. “As necessidades que já vencemos criam novas necessidades, e para chegarmos onde queremos precisamos de representação política forte”, afirmou. O presidente do IPCN citou ainda o advento das cotas como importante conquista da população negra, defendendo que as cotas não devem ser vistas somente como um benefício, e sim como instrumento de reflexão e desconstrução de dogmas.
Show de música negra – Após o seminário, os participantes seguiram para o pátio do Palácio Gustavo Capanema, a fim de assistir ao show do cantor e compositor Carlos Dafé. Ao lado de alguns ícones como Tim Maia, Jorge BenJor e Sandra de Sá, o artista compõe o núcleo da black music no Brasil, estilo que se consagrou a partir dos anos 60/70.
Aberto a todo o público que circula nas vizinhanças do histórico edifício do centro carioca, o espetáculo de Dafé colocou o público para dançar no cair da noite, numa atração extra que antecedeu o “feriadão” de 7 de setembro este ano.