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NOVEMBRO NEGRO
Palmares abre mês da consciência negra com debate sobre letramento racial
Tânia Chaves inaugurou o Novembro Negro na Fundação Palmares, com fala inspiradora sobre letramento racial
A cor da pele continua sendo determinante no acesso a direitos. O gênero também – e o tempo de vida na Terra. Esse foi, em síntese, o teor da fala da jornalista e ativista Tânia Chaves, abrindo o Mês da Consciência Negra na Fundação Cultural Palmares.
Sob o guarda-chuva do “Letramento racial”, Chaves bordou a questão do racismo sob vários prismas: da mentira científica sobre a superioridade genética que lastreou a escravização dos negros aos mecanismos que continuam legitimando a hierarquia humana.
A intelectual foi dos aspectos estruturantes às consequências, ou “rastros”, do racismo, como a exígua representação dos negros em espaços de poder e, em oposição, a alta frequência em indicadores de desenvolvimento ruins, como as taxas de desemprego, por exemplo.
CAMPO SIMBÓLICO. Apesar dos avanços, ainda são muitas as engrenagens que alimentam o imaginário social desfavorável à população afrodescendente. E isso inclui o campo simbólico – o campo da palavra, dos conceitos, das piadas, dos dizeres populares.
Termos e expressões como “denegrir”, “ovelha negra”, “meia tigela”, “disputar a nega”, “cabelo ruim”, “lista negra” e “magia negra”, entre muitos outros, carregam significados construídos no tempo do escravismo, e buscam desqualificar a população não branca.
Sim, a língua é também um instrumento de dominação. Identificar e abdicar do uso desse tipo de engrenagem é tarefa de todos – negros ou não negros –, pontuou, com a autoridade de quem conhece bem o poder performativo das palavras.
RACISMO REVERSO. Com delicadeza e simplicidade, a intelectual articulou diferentes perspectivas vinculadas à problemática do racismo, como apropriação cultural, mecanismos de reparação, gaslighting e racismo reverso.
Melhor especificando, a falácia do racismo reverso.
Como bem resumiu a palestrante, o que caracteriza o exercício do racismo é a interdição do acesso dos dominados a direitos, pelos dominantes. E os negros estão longe de constituir-se enquanto grupo dominante. É fato.
Um fato, porém, que está sendo relativizado pelo campo jurídico. Ao igualar os crimes de racismo e de injúria racial, a esfera penal dá margem a que um xingamento seja considerado racismo, o que colocaria os ainda dominados na condição de operadores de dominação.
O que é preocupante.
OUTROS “LUGARES”. Voltando à palestrante, o tema central foi o racismo, mas Chaves passeou por outros “lugares difíceis”, ou subalternizados, como o das mulheres, dos idosos, dos não evidentemente negros – “pardos”, pelo IBGE; “morenos” pelos operadores do “colorismo”.
Uma aula. Didática, clara, consistente.
A palestra sobre “Letramento racial” aconteceu no âmbito do evento “Sankofa Palmares – II imersão”, promovido pela instituição, como forma de contribuir para a harmonia das relações interpessoais e a melhoria da saúde mental de seus colaboradores e servidores.
O presidente da Fundação Palmares, João Jorge Santos Rodrigues, não esteve presente, mas enviou sudação aos participantes desse “retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro" – significado do ideograma africano “Sankofa”.