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Painel de Literatura, no Fórum Social Mundial
Vertentes literárias no Fórum Social foram além-mar
Salvador, 15/7/06 – A primeira mesa do Fórum de Diálogos África-Diáspora, realizada na Universidade Estadual da Bahia (UNEB), expôs as “Vertentes Contemporâneas das iteraturas Africanas e Diaspóricas. O presidente da Fundação Cultural Palmares, Ubiratan Castro de raújo anunciou o lançamento do segundo número da Revista Palmares- Cultura Afro-rasileira. Com 96 páginas, traz como matéria de capa entrevista feita com Makota Valdina into e outros destaques para a cultura Hip Hop e a história de outra personalidade negra: a escritora Carolina de Jesus.
Em sua participação, o escritor Luis Carlos Amaral Gomes (também conhecido como Semog) fez um resgate histórico da litertatura negra brasileira. Segundo ele, a formação de uma identidade literária negra brasileira começou a crescer entre as décadas de 70 e 80. Semog lembrou que ao se falar em literatura negra brasileira, se reportava a visões românticas coloniais, onde o negro sempre aparecia de forma submissa e escrava. A produção literária, para o escritor, passou a ser utilizada como arma de denúncia a partir da promoção de encontros, onde escritores produziam após manifestos e as palavras se tornavam ecos de conscientização sobre o racismo e a violência contra a cultura e religiosidade afro.
Modelos coloniais portugueses também em Angola:
No continente africano a realidade não foi diferente. Com uma presença dominante européia mais prolongada em relação ao Brasil, o reitor da Universidade Lusíada de Angola, Manoel Lima, contou que países da África Portuguesa, como Angola, absorviam um estilo culto ditado pela Europa. Mais precisamente liam e escreviam aquilo que Portugal os ditava. Em seu país, onde mais de 90% da população é negra, o reitor declarou que até 1975, 62% dos escritores angolanos eram brancos e 34% eram mestiços. Isso em um país onde Em meio a esse quadro nascia então uma ambigüidade, onde mesmo aceitando e absorvendo os valores lusitanos, escritores negros angolanos começavam a se manifestar contra tudo o que era ditado pelo espírito português de ser.
Oralidade e homenagens aos ancestrais:
Esmeralda Ribeiro frisou que nosso estilo literário se baseia na continuidade da oralidade negra, a qual os mais velhos contam histórias para os mais novos, com o intuito de propagar a sabedoria para as próximas gerações. Para ela, a II CIAD foi fundamental para garantir uma reaproximação histórica e intelectual entre o Brasil e a África e cita a aplicação da Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, como instrumento para afirmar o ensino da cultura e da história afro-brasileira em sala de aula. “É um importante recurso para divulgar a literatura negra e seus escritores”. Conceição Evaristo, autora de inúmeros livros, entre eles “Ponciá Vicêncio” leu para a platéia o poema “Voz das Mulheres”, cuja interpretação dedicou à Mãe Beata de Iemanjá. Márcio Barbosa, responsável pelo selo editorial Quilombhoje citou com satisfação a existência dos Cadernos Negros, que chega a 28 anos de existência sem interrupções. “O Quilombhoje garante a divulgação, de forma independente, de novos escritores negros, dando visibilidade a novas produções”, comemorou.
A mesa motivou a participação de presentes ao auditório Caetano Veloso. O jornalista e psicólogo Severino Lepê Correia, fez uma homenagem a todo o público que estava na UNEB, interpretando uma canção, onde falava da importância dos orixás e de todo o ancestral negro. Aplaudida de pé, Mãe Beata de Iemanjá recitou algumas palavras que fez e as dedicou a Zumbi dos Palmares, seu grande inspirador na luta pela igualdade racial e defesa da religiosidade negra. A sessão foi encerrada com coquetel e lançamento do segundo número da Revista da Fundação Cultural Palmares. A publicação pode ser conferida no Portal da FCP, no endereço www.palmares.gov.br