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Pacto político para a África e a Diáspora
Salvador, 14/7/06 – Como fazer um pacto político ente África e a Diáspora para promover a paz, a democracia e o desenvolvimento sustentável do continente negro? A resposta a essa questão crucial foi a grande preocupação dos participantes do II Conferência de intelectuais da África e da Diáspora (II CIAD), na manhã desta sexta-feira (14/7), durante a mesa A necessidade de um pacto entre a África e a Diáspora pela paz, democracia e desenvolvimeto, no auditório Yemanjá, no Centro de Convenções, em Salvador.
Os discursos dos políticos e intelectuais foram interrompidos por um grupo de ativistas do Movimento Negro, que portando cartazes e faixas e entoando palavras de ordem, invadiram a plenária exigindo que os parlamentares brasileiros aprovem, o mais rápido possível, as leis das cotas para negros e indígenas e no Estatuto da Igualdade Racial. Um casal de estudantes universitários leu o documento favorável à política de cotas.
Presidida por Christine Desouches, representante para a Paz, Democracia e Direitos Humanos (França), a mesa contou com a participação de Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz (Kenia), do Ministro da Cultura (Brasil), Gilberto Gil, Conceptia Ouinsou, Presidente da Corte Suprema (Benin), Frene Ginwala, ex-presidenta do Parlamento da África do Sul, entre outros.
Um dos momentos mais esperados foi o pronunciamento da Prêmio Nobel da Paz Wangari Maathai. Ela iniciou seu discurso apontando a falta do tema “meio ambiente” que, para ela, é uma questão importante para a paz mundial. “Quando foi me deram o prêmio por ser uma mulher da África, o Comitê queria trazer a questão do meio ambiente e chamar a atenção para a forma como administramos o meio ambiente no planeta, pois é cuidando do meio ambiente que cuidamos da paz”, enfatizou Wangari.
Wangari afirmou ainda que o caminho a seguir deve ser também o de um olhar inclusivo, onde se dê voz aos fracos e aos fortes, aos pobres e ricos, assim como uma participação efetiva de todos para que sejam tomadas ações que acabem com os conflitos, crimes, terrorismo e outras formas de violências. Ela encerrou seu discurso encorajando a platéia a se tornar ativa e participante. “Principalmente os jovens, pois dessa forma se evita o conflito e se pode promover a paz”, concluiu.
Refazendo tudo
Já o ministro Gilberto Gil fez um breve relato sobre a história dos africanos escravizados e da Diáspora Africana, foi, para ele, “uma máquina infernal de produzir riquezas”, principalmente, no Brasil. Também comentou sobre as formas como os africanos e afro-descendentes conseguiram reorganizar suas vidas a partir da nova estrutura que lhe era imposta.
“Numa dispersão compulsória eram misturados entre estranhos, falas distintas, onde transformaram pessoas livres em cativas, estranhas a tudo e inteiramente dependentes do seu senhor”.Foi necessário refazer tudo: língua, superação do estranho e fazer com que o ‘outro’ passe a ser um malungo – um parentesco simbólico, um parente, se reconhecendo como família”, citou o ministro.
Gil indagou sobre a importância de um evento como o II CIAD para que possamos responder a perguntas do tipo quem somos nós? Que queremos? Que buscamos? Sugeriu que seja viabilizado um calendário de eventos para que “sejam afinados nossas possibilidades numa rede de comunicação afrocentrada junto às instituições para o renascimento africano. Uma afroglobal”.