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OS KALUNGAS: Memória, Ação e Debate sobre reivindicações
Brasília, 27/9/06 – “Não adianta construir casa em terra dos outros”. Esta foi uma das conclusões apresentadas pelos moradores da Comunidade Kalunga que participaram das atividades oferecidas na Oficina Kalunga – Memória e Ação. Os gritos dos pavões e os “tô fraco” das galinhas d’angola que espiavam o encontro não tinham o som mais convincente do que o das vozes ali reunidas. As vozes que puxavam um coro eram as vozes incansáveis dos Kalungas, habitantes de uma comunidade extensa, cujo território abrange três cidades goianas: Monte Alegre, Teresina de Goiás e Cavalcante. A pousada São Bento, localizada próxima a cidade de Alto Paraíso, em Goiás, serviu de espaço para a promoção da oficina, realizada de 21 a 23 de setembro último. A beleza natural do lugar contribuiu para um clima descontraído, e, ao mesmo tempo, organizado. Isso ajudou o grupo a cumprir o objetivo de avaliar as ações do governo nas comunidades e levantar os projetos realmente necessários e prioritários.
A realização do evento ficou a cargo do Instituto de Apoio Técnico aos Países de Terceiro Mundo (Iattermund) e do Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade. Apoiaram a oficina a Fundação Cultural Palmares/MinC, a Secretaria Especial de Políticas da Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), integrante ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A metodologia aplicada foi a da capacitação massiva. Ela permite que, a curto prazo e com poucos recursos, a comunidade se organize social e politicamente para conquistar seus direitos e se desenvolver. Ao todo, participaram 38 membros das comunidades Kalungas. Mulheres e homens, idosos e jovens, lideranças que vêm lutando há cerca de 20 anos para não perderem a terra onde vivem. Também esteve presente na oficina o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A terra
O objetivo da Oficina Kalunga era fazer com que os próprios quilombolas identificassem qual a reivindicação prioritária para as comunidades. Depois de trabalharem em grupo no levantamento de suas principais necessidades, chegaram à conclusão de que a mais urgente é a terra. Existem muitos projetos que estão beneficiando as comunidades kalungas, como a construção de casas, o Bolsa Família, o Luz para todos, entre outros. Todos foram avaliados nos grupos de trabalho, que se formaram por municípios. Nos três grupos foi consenso que nenhum projeto é mais importante que a regularização fundiária. A presença do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no encontro possibilitou uma discussão mais aprofundada sobre a situação da área ocupada pelos kalungas. Eles elaboraram uma carta pedindo uma audiência com o presidente do Incra. O documento foi assinado por todos e encaminhado para Brasília.
No último dia, os kalungas sugeriram que a oficina acontecesse mais vezes, só que dentro das comunidades. “A gente aprendeu muito, tiramos várias dúvidas, retransmitimos os problemas da comunidade, que é difícil passar para os ministérios”, avaliou o kalunga Ismael dos Santos Rosa.