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Orixás da Prainha passam por restauração e só retornam em 4 meses
Os pedestais vazios às margens do Lago Paranoá causam estranhamento. As 16 estátuas que enfeitaram a Prainha do Lago Sul no réveillon desapareceram dos postos que ocupavam. Dessa vez, no entanto, o panteão das divindades de matrizes religiosas africanas não foi vítima de mais um caso de vandalismo, como tantos que suportou nos últimos anos. Os orixás encontram-se sãos e salvos em Salvador (BA), no ateliê do homem que os moldou, o artista baiano Tatti Moreno. As esculturas, que passam por um processo de restauração, devem retornar para a Praça dos Orixás em um prazo de até quatro meses.
As estátuas instaladas no local antes da festa de passagem do ano não eram as versões definitivas dos orixás. As peças tinham apenas passado por um processo de roupagem para poderem alegrar as comemorações do réveillon. Atualmente, Tatti Moreno trabalha na reestruturação interna de ferro das esculturas, com a solda das partes modeladas. As imagens também irão receber nova pintura, mas somente na última etapa do processo de restauração.
A remoção e a remodelação das divindades fazem parte do projeto de revitalização da Prainha, do qual participam a Administração de Brasília, a Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal, o Ministério de Cultura, a Fundação Palmares e a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. O projeto prevê a construção de 10 mil metros quadrados de calçadas, instalação de 13 bancos ao longo do percurso para caminhada e construção de um espelho d´água para Iemanjá, a rainha do mar.
Também fazem parte dos planos a separação de uma área para parque infantil e um local de 120 metros quadrados para manifestações culturais. As obras estão orçadas em R$ 85 mil. Na semana que vem, a Administração de Brasília irá se reunir com a Secretaria de Obras para decidir quem vai cuidar da reforma.
Abandono
Apesar de as mudanças valorizarem o espaço da Prainha, o artista Tatti Moreno acredita que outras medidas fazem-se necessárias para evitar o vandalismo aos orixás. “O espaço encontra-se abandonado atualmente. Depois das 18h, torna-se um lugar ermo, aonde as pessoas vão para usar drogas ou fazer sexo. Para parar com as depredações das esculturas, é preciso contratar vigilantes noturnos que garantam a segurança do local”, argumentou.
O artista ainda cogitou a construção de grades de proteção para as esculturas, que abririam pela manhã e fechariam durante a noite. Além de oferecer segurança para as estátuas, as grades seriam obras de arte. “Cada uma seria decorada com elementos que caracterizam o orixá que elas estão destinadas a guardar. Esses elementos podem ser suas armas e até suas próprias imagens. Caribé fez algo semelhante com suas obras aqui em Salvador”, detalhou Moreno.
Outro fator que aumentaria a segurança da Prainha, segundo o artista, seria a urbanização do local. Ele defende que o governo pense na instalação de pontos comerciais para cafés, pizzarias ou sorveterias. “A presença do comércio serviria para desencorajar os vândalos. Os próprios comerciantes abraçariam a idéia de tomar conta do local e afastariam as pessoas que degradam o local. Mas o governo deveria fazer o mesmo e abraçar a Prainha”, afirmou. “Só assim para acabar com essa falta de respeito”, acrescentou.
Quem costuma freqüentar a Prainha estranha a ausência das estátuas. “Com elas, o local fica bem mais bonito. Elas são diferentes. Cada uma delas tem uma história e faz referência a algum elemento da natureza ou atividade, como a pesca”, lembrou o técnico em eletrônica Aparício Donizetti da Silva, 41 anos, referindo-se às placas com o nome dos orixás e uma breve explicação deles, pregadas no pedestal de cada uma das 16 imagens. Morador da Estrutural, ele costuma ir com a família nos fins de semana à Prainha há três anos. “Não entendo o que passa na cabeça das pessoas que depredam uma obra como essa”, indigna-se.
Quando a restauração da imagem das divindades estiver concluída, o artista pretende vir a Brasília para fazer a reinauguração da Praça dos Orixás. A Prainha também deverá virar um palco para outras manifestações culturais. Inclusive, está previsto o estabelecimento de uma festa anual, a ser celebrada em fevereiro, em homenagem à Iemanjá, na qual as pessoas colocariam barcos com flores como oferendas para a divindade nas águas do Lago Paranoá. Mas ainda não foi estabelecida nenhuma data para a comemoração.