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ONU premia bióloga por reflorestamento de Ruanda
Rose Mukankomeje trabalhou pelo reflorestamento e pela restauração das comunidades ruandesas
Por Daiane Souza
Na última semana a ruandesa Rose Mukankomeje foi homenageada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o prêmio Heróis da Floresta. Após o genocídio ocorrido em 1994, que massacrou mais de 1 milhão de pessoas, a bióloga mobilizou compatriotas para proteger os recursos naturais de seu país. Ela colaborou para a restauração das comunidades durante o pós-guerra por meio do projeto Umuganda.
De acordo com Rose, as florestas de Ruanda foram completamente destruídas, pois serviram de abrigo aos refugiados durante o período de genocídio proporcionado por milícias Hutus e Forças do Governo de Ruanda. O fato foi comprovado por um documento da ONU publicado em 2011, que revelou que o deslocamento em massa da população ruandesa foi responsável por sérios impactos ambientais. “O país sofreu muito após o genocídio. A estrutura social de Ruanda foi completamente destruída”, disse a bióloga.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos ruandeses, Rose credita o sucesso das ações para preservação do meio ambiente no país à paixão de seu povo. “É uma paixão que se transforma em visão e se traduz em política. Esta, por sua vez se transforma em programas, ao mesmo tempo em que as pessoas se empenham em fazer a diferença”, afirmou. Mesmo diante de tantos conflitos, a ruandesa encontrou forças para conciliar a luta pelo meio ambiente à criação de 24 filhos adotivos, todos parentes vitimados pela tragédia.
Povos das florestas – O Brasil também pode contar com heróis como Almir Suruí, líder indígena de Rondônia, também premiado na edição 2013 do Prêmio Heróis da Floresta, pela atuação em prol da própria comunidade e em defesa da Floresta Amazônica. Segundo o cacique, instrumentos importantes para preservação são o diálogo, a consciência, respeito e o valor da cultura. “A floresta não tem que ser intocável, mas tem que ser usada com responsabilidade, respeito e estratégia”, defende.
No Estado do Pará, o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, foi assassinado a tiros em maio de 2011, por também defender a Floresta Amazônica. No ano seguinte, também foram homenageados pelo Prêmio. A crueldade dos assassinatos ainda hoje desdobra debates sobre questões relacionadas aos conflitos agrários, a preservação ambiental e as punições aos crimes contra a natureza. Essas são temáticas idênticas às defendidas pelas comunidades tradicionais quilombolas, consideradas modelos de proteção de reservas florestais e de autossustentabilidade.
Heróis esquecidos – As homenagens voltadas à ruandesa, ao indígena e aos extrativistas brasileiros, relembram a luta de seis descendentes africanos, que escravizados, reflorestaram os 3953 hectares do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1861 e 1872. Mesmo tendo dedicado uma década de trabalho à recuperação da reserva, hoje conhecida como a maior floresta urbana do mundo, eles nunca receberam títulos ou condecorações.
O mais próximo que Eleutério, Constantino, Manoel, Leopoldo, Mateus e Maria tiveram de reconhecimento ao trabalho que desempenharam foi o tombamento da área pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a declaração do Parque como Patrimônio Natural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).