Notícias
Oficina sobre Ação de Distribuição de Alimentos é marcada por diversidade social
Diretor da FCP Maurício Reis debate a Ação com movimentos sociais
Após dois dias de amplos debates entre representantes do governo federal e movimentos sociais, a 1ª Oficina sobre a Ação de Distribuição de Alimentos a grupos populacionais específicos encerra as atividades com saldo positivo. Mas o que marcou mesmo o evento foi a oportunidade de reunir boa parte da diversidade dos movimentos sociais brasileiros.
Quilombolas, pescadores, acampados, sem-terras, índios e comunidades de terreiros puderam juntos conhecer um pouco da atuação governamental no que se refere à ação emergencial de distribuição de alimentos. Reunidos em Fortaleza durante os dias 23 e 24 de abril, os grupos tiveram acesso aos principais gestores da Ação, ao mesmo tempo, toda a comitiva da esfera pública pôde ter contato direto com algumas das pessoas que convivem com o pior problema social brasileiro, a fome.
O evento foi importante para que os dirigentes conhecessem as reais necessidades de cada comunidade, para que sentissem de perto o que é a fome.
Para Maurício Reis, diretor da Diretoria de Proteção do Patrimônio afro-brasileiro (DPA), da Fundação Cultural Palmares, foi importante a participação da instituição na Oficina. “Foi imprescindível para conhecer outros segmentos beneficiários, compartilhar experiências e, principalmente, ratificar o compromisso assumido com os demais órgãos de governo nesta Ação”, avaliou.
Maurício Reis afirmou, também, que o governo Lula foi o único a ouvir os movimentos sociais na construção de políticas públicas. Segundo ele, “o Programa Fome Zero, na Ação de Distribuição de Alimentos a Grupos Populacionais Específicos, vem beneficiando, desde o ano de 2003, uma população até então excluída na implementação de políticas públicas, garantindo e complementando uma alimentação com qualidade e gerando renda para os agricultores, pois uma parte dos alimentos adquiridos pela ação vem do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA)”.
A Ação de Distribuição de alimentos a grupos populacionais específicos visa contribuir com a segurança alimentar das pessoas que estão em insuficiência real de comida, seja por que não possuem território suficiente para produzir seus próprios alimentos, seja por viverem isolados, sem acesso a municípios ou centros comerciais.
Participação dos movimentos sociais
Sandra Caetana, da comunidade quilombola de Conceição das Caetanas, no Estado do Ceará, diz que fica indignada quando ouve que as cestas alimentares são esmolas. “Não é esmola, é uma ajuda muito boa para nós. Nem sempre temos o que comer. Ficamos muito felizes quando recebemos as cestas”. Para ela, participar da Oficina foi importante para conhecer e pedir do governo mais empenho na Ação. “A Oficina só faz nos enriquecer. Dá oportunidade de cobrar a parte do governo e incentivar as comunidades quilombolas para que ajudem a distribuir a cesta também e se organizar melhor”. Sandra Caetana ainda viu no evento a possibilidade de fortalecer os movimentos sociais: “Essa Oficina fortalece os grupos pequenos, dá oportunidade de ouvir experiências de outros grupos e etnias e conhecer novas idéias de trabalho”.
Mesmo entendimento teve Francisco Gerlândio, quilombola de Água Preta, também no Ceará. Para ele, “a Oficina veio fortalecer os movimentos na questão da etnia e desenvolver a questão das cestas alimentares, pois nos deu capacitação para distribuir melhor”. Gerlândio fala isso em razão de pertencer a uma das únicas comunidades quilombolas que não dependem do poder público para realizar a distribuição das cestas. Independentes, eles mesmos buscam os alimentos na Conab e desempenham a tarefa de distribuição para seus pares. “Quero aproveitar para agradecer a Fundação Cultural Palmares pela confiança em deixar que nós mesmos busquemos nossas cestas e entreguemos ao nosso povo”, elogiou.
Já a quilombola Maria de Jesus, da comunidade de Oitero dos Nogueiras no Maranhão, achou importante levar a realidade do seu povo para o evento. “Tive oportunidade de discutir melhorias para nossa cidade e levar nossa realidade, pois conhecemos nossa base, nosso povo, sabemos das dificuldades e necessidades das nossas comunidades, por isso, é bom levarmos nossa realidade para quem não a conhece”, agradece.
Satisfeita também ficou dona Maria Martilena Rodrigues de Lima, da comunidade das marisqueiras de Caponga, no Ceará. Ela recebeu com alegria todas as informações dos debates. “Nossa! Para mim foi uma lição. Recebi foi uma capacitação para descobrir meus erros e corrigi-los”.
Cleidiane Santos, do Movimento dos Atingidos por Barragens, também achou interessante participar do evento e discutir políticas públicas, mas ressaltou: “Esse debate é um avanço, mas a medida emergencial não resolve. Queremos mesmo é nossas terras que foram inundadas por hidrelétricas, para que possamos produzir comida no campo e não precisar mais de ajuda para combater a fome”.
Representando os indígenas da etnia Guajajara, localizada no Maranhão, o cacique Silvio Santana da Silva relatou um pouco da sua participação na Oficina: “É bom para termos mais conhecimento e para levarmos para dentro das comunidades. Foi bom também conhecer os representantes do governo federal”. Já o pajé dos índios Tremembé, localizados no Estado do Ceará, viu na Oficina uma esperança de melhoria para seu povo. “Essa Oficina é um caminho, uma luta. Foi bom para tirar dúvidas, para pressionar, para pedir o aumento de cestas, para mostrar a necessidade das aldeias, pois temos 250 famílias, mas só recebemos 60 cestas. E não temos terra para cultivar”.
Muitos representantes do Movimento dos Acampados também se fizeram presentes. Romualdo Brasil, da Resistência Camponesa do Piauí, pediu uma distribuição mais efetiva e regular das cestas. “A Oficina abriu a percepção do quanto devemos valorizar o alimento, mais agora quando há crise. Antes já era difícil conseguir alimento, hoje, ainda mais. Mas tivemos a perspectiva de que nossas necessidades serão atendidas. Foi interessante também, ver a sociedade civil e os órgãos governamentais gestores da Ação trabalhando juntos”, comentou.
Marcus Bennett – Assecom/FCP/MinC