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Nota Pública: O que o Jornal Nacional não contou
No último dia 26 de maio, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, concedeu entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, sobre o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Patrimônio cultural nacional da cultura afro-brasileira, localizado na Serra da Barriga, Alagoas, o parque foi inaugurado pelo ministro Gilberto Gil, em novembro de 2007.
Zulu Araújo explicou ao repórter que os projetos prometidos ao Parque, na ocasião da sua inauguração, dependiam da liberação do Orçamento da União, que, por sua vez, dependia da votação do Congresso Nacional. E que somente agora, após a liberação e contigenciamento pelo Ministério do Planejamento, a Fundação Cultural Palmares, responsável pela preservação e manutenção do Parque, estaria apta a iniciar os procedimentos para as atividades propostas.
O presidente da Fundação Palmares divulgou ainda a publicação no Diário Oficial da União, das portarias que estabelecem as normas para a utilização do Parque e da constituição do Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. O Comitê Gestor foi criado para acompanhar, fiscalizar e propor atividades; monitorar o processo de implantação e implementação de atividades; e elaborar estratégias para articulação de programas e ações dos governos federal, estadual e municipal para o Parque. O Comitê é composto por representantes da Fundação Palmares, da Universidade Federal de Alagoas, do Estado de Alagoas, do município de União dos Palmares, da Associação de Quilombos do Muquém, da Fundação Sonia Ivar e da Associação dos Grupos Culturais e Entidades Negras de União dos Palmares. Dentre as novas determinações, a Portaria nº 40 define o Parque como bem de uso comum do povo, além de regularizar o horário de visitação, que será de terça a domingo, inclusive feriados, das 8h às 18h.
De acordo com Zulu Araújo, a partir de agora, a Fundação Palmares dispõe de R$ 1,2 milhão para desenvolver projetos dedicados à cultura afro-brasileira que serão desenvolvidos no Parque e que tudo será feito dentro das normas legais. Ou seja, serão realizadas licitações públicas para a exploração de atividades, como restaurantes, lanchonetes, guias, shows, oficinas de confecção de moda afro, de penteados, de maquiagem, de capoeira; treinamento de guias; e cursos de culinária afro.
Explicado isso, a edição do Jornal Nacional preferiu apenas colocar no ar aquilo que mais lhe agradou no rumo já antecipado da reportagem proposta.
Como bem disse o ministro Gilberto Gil, na inauguração do Parque, a libertação pela qual lutou Zumbi dos Palmares “hoje vem a ser de gerações e gerações de afro-descendentes no Brasil que precisam a cada dia se libertar não só das amarras do triste quadro de desigualdades e preconceitos no país, mas também das dívidas históricas que a luta de Zumbi simboliza – dívidas irreparáveis que o Brasil tem com sua população negra.” Por isso mesmo, não podemos ceder a pressões de quem quer que seja para nos tirar esse simbolismo de liberdade que representa para a comunidade negra brasileira a Serra da Barriga.
A reportagem do Jornal Nacional deixou no ar a pergunta que todos devemos fazer: “A que interesses atenderam a veiculação dessa matéria?” isso porque não mostrou ao Brasil as devidas explicações da Fundação Palmares para aquilo que emissora chamou de “abandono”.
Mas a Fundação Cultural Palmares, cumprindo o seu papel de mantenedora do Parque, segue firme em seus propósitos de, dentro da legalidade, dar projeção a esse importante acervo histórico e honrar as raízes guerreiras de Zumbi e de todos aqueles que, na Serra da Barriga, lutaram pelo ideal da liberdade. E é em nome dessa liberdade guerreira, que não vai ceder a interesses privatistas daqueles que, em favor do lucro fácil, querem usar para si o patrimônio pelo qual tombaram os nossos heróis.
E é nesse sentido, que, ainda de acordo com o ministro Gilberto Gil, a inauguração do Parque Memorial Quilombo dos Palmares é a oportunidade para “cada vez menos lamentarmos as exclusões e discriminações sofridas pela comunidade negra e, cada vez mais, celebrarmos os avanços alcançados pela sociedade brasileira e pelo Estado para a democracia racial”.