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Nome da ex-escrava “Tia Eva” é indicada ao prêmio Darcy Ribeiro
A Comunidade Remanescente de Quilombo Eva Maria de Jesus (conhecida como “Tia Eva”), de Campo Grande, foi indicada ao prêmio Darcy Ribeiro de Educação, concedido, anualmente, pela Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados.
“É o reconhecimento a uma mulher negra que dedicou a sua vida a fé e a esperança de seu povo”, disse Antônio Borges dos Santos, presidente do Instituto Casa da Cultura Afro-Brasileira de Mato Grosso do Sul (Iccab) e também descendente de Tia Eva.
A indicação é uma homenagem à ex-escrava Eva Maria de Jesus, que, em 1905, se mudou para Campo Grande (na época Campo de Vacarias/MT) e trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira, benzedeira e professora, esse último ofício lhe rendeu respeito e uma referência educacional junto à comunidade, pois inúmeras pessoas a procuravam com o objetivo de aprender a ler e a escrever.
A CEC contempla anualmente três pessoas ou entidades com trabalho ou ação de destaque em defesa ou promoção da Educação no Brasil. Segundo informações do Conselho, “a trajetória da Tia Eva é plausível e chamará a atenção, pois, além de contemplar uma entidade sul-mato-grossense, o prêmio realizará um resgate histórico de vida, luta, superação e reconhecimento a Eva Maria de Jesus”.
Os vencedores serão escolhidos em um democrático processo através do voto direto dos membros da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, e será entregue no dia 26 de outubro, data de nascimento do educador Darcy Ribeiro.
Quem foi Tia Eva
A história da comunidade se confunde com a própria história de Tia Eva. Escrava nascida em Mineiros, Goiás, Eva Maria de Jesus sempre sonhou um dia poder criar suas filhas com a melhor educação do mundo. Casada por duas vezes, Eva Maria teve três filhas: Joana, Lazara e Sebastiana.
Em 1887, aos 49 anos, Eva obteve sua carta de alforria, momento no qual realizaria seu segundo sonho: ir para o Mato Grosso (atualmente, Mato Grosso do Sul) e construir um lugar para seus descendentes.
Saiu de Goiás em 1905, chegando em Campos de Vacaria, hoje, Campo Grande, onde trabalhou como lavadeira, parteira, cozinheira, curandeira e benzedeira. Vida nada fácil. Era uma espécie de médica da época. Mais impressionante ainda era que sabia ler e escrever, pra quem havia sido escrava isso era um dom.
Procurada por inúmeras pessoas, tornou-se referência na comunidade, o que lhe rendeu alguns benefícios financeiros.
Até que em 1910 adquiriu uma terra de oito hectares que lhe custou 85 mil réis.
Tombamento
Em 26 de abril de 2008, a Fundação Cultural Palmares concedeu a Certidão de Autodefinição como Comunidade Remanescente de Quilombos aos descendentes de Tia Eva. A comunidade atualmente é constituída por cerca de 115 famílias, sendo a maioria dos moradores formada por pessoas negras.
No dia 5 de maio de 1998, a Igrejinha de São Benedito recebeu o definitivo tombamento como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul, pelo governo do Estado.
Segundo o presidente do Iccab/MS Antônio Borges, a comunidade de Tia Eva tem recebido atenção e apoio do governo estadual, principalmente na área cultural e de segurança pública, durante a realização, no mês de maio, da tradicional festa de São Benedito que vem sendo realizada desde 1919, com a fundação da igreja pela ex-escrava Eva Maria de Jesus (tia Eva).
“Na 90ª Festa de São Benedito, deste ano, tivemos bom apoio do governo nas atividades culturais e de segurança pública. Também estamos viabilizando junta a Secretaria de Estado de Habitação, a construção de 63 unidades habitacionais á comunidade de Tia Eva”, disse Borges.