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Nelson Mandela: 69 anos de militância em favor da paz
Por Daiane Souza
Símbolo da luta contra o Apartheid e da recuperação da África do Sul, Nelson Rolihlahla Mandela, que comemorou nesta segunda-feira, 18 de julho, 93 anos de idade, celebra também 69 anos de militância pela liberdade. Dada sua relevância como pacifista no cenário mundial, o homem que abriu mão da vida privada em prol de seu povo teve o dia de seu nascimento instituído, em 2010, como Dia Internacional de Nelson Mandela pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A formação baseada no respeito às tradições e autoridades fez com que Mandela adquirisse hábitos de nobreza, educação formal e profundo entendimento da “alma” sul-africana. Nascido em Mvedo, o garoto da tribo de Xhoza aprendeu as lições mais importantes de sua vida ouvindo os mais velhos de sua família. Por seu bom comportamento, teve a chance de conviver com nobres e frequentar excelentes escolas.
POLÍTICA – Como estudante de direito, Madiba, como era também chamado, se envolveu na oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria da população), mestiços e indianos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. “Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”, dizia.
Em 1942 uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA) e dois anos depois fundou com outros companheiros a Liga Jovem do CNA. Nas eleições de 1948 com a vitória do Partido Nacional Afrikaners, que apoiava a política de segregação racial, Mandela se tornou mais ativo e tomou parte no Congresso do Povo (1955) que divulgou a Carta da Liberdade – documento fundamental para a causa anti-apartheid.
O MASSACRE DE SHAPERVILLE – Comprometido com atos não-violentos, Mandela e seus colegas precisaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, em março de 1960. O crime aconteceu durante um dos protestos realizados pelo Congresso Pan-Africano (PAC) que pregava contra a Lei do Passe, norma que obrigava os negros da África do Sul ao uso de um manual com informações de onde poderiam ir.
Em 21 daquele mês e ano, cerca de cinco mil manifestantes se reuniram em Sharpeville e marcharam em mais um protesto pacífico. A polícia sul-africana conteve o movimento com rajadas de metralhadora matando 69 pessoas deixando cerca de 180 feridos. Após essa data, a opinião pública internacional focou pela primeira vez sua atenção na questão do apartheid.
27 ANOS DE PRISÃO – As manifestações lideradas por Mandela contra o regime de segregação racial sulafricano o levaram a uma prisão por cinco anos. Em seus pronunciamentos, tinha por filosofia que ninguém nasce odiando pela cor da pele, pela origem ou religião. “Para odiar, é preciso aprender. Se podem aprender a odiar, podem também aprender ser ensinadas a amar”, argumentava.
Em 1964 foi novamente condenado, dessa vez à prisão perpétua, por sabotagem contra militares e o governo, e por planejar guerrilha contra o apartheid. Da prisão manteve vivo o desejo de que negros e brancos tivessem direitos iguais em seu país. Se tornou símbolo da oposição ao regime e lema de campanhas em vários países. Por pressão mundial e dos próprios sul-africanos foi libertado aos 72 anos de idade, em 1990.
PRÊMIO NOBEL DE 1990 – A liberdade de Madiba foi um dos principais marcos para uma sociedade mais democrática na África do Sul. Três anos depois recebeu junto de Frederik de Klerk, presidente que o libertou, o Prêmio Nobel da Paz. Em 1994, Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul, diante de uma multidão de brancos e especialmente negros que votaram pela primeira vez em seu país.
Duas de suas ações mais importantes foram a criação da Comissão Verdade e Reconciliação e a reescrita da Constituição. Sua experiência de luta contra o apartheid, sua postura no período de transição e seu claro objetivo de operar a reconciliação nacional o elevaram a político com maior autoridade moral do continente Africano, o que lhe permite ainda hoje desempenhar o papel de apaziguador de tensões e conflitos.
“Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros”, Nelson Rolihlahla Mandela, 1993.