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Nas comemorações dos 19 anos da FCP, Besouro Cordão de Ouro chega a Brasília
Brasília, 20/9/07 – Em comemoração aos 19 anos da Fundação Cultural Palmares, o espetáculo teatral Besouro Cordão de Ouro chega a Brasília nos dias 24 e 25 de setembro. A peça será apresentada no Teatro Plínio Marcos, do Complexo Cultural Funarte, às 21h. O espetáculo é uma parceria da FCP e do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN).
A peça conta muitas estórias do Besouro-Mangangá, o maior capoeirista de todos os tempos da Bahia. O palco se transforma numa grande roda de capoeira com atabaques, berimbaus, pandeiros e caxixis, para ilustrar a vida do Exu Kerekekê dos candomblés baianos. As estórias são contadas por outros capoeiristas conhecidos, como Canjiquinha, Bimba, Barroquinha, Caiçara, Budião, Rosa Palmeirão, Dora das Sete Portas e Pastinha.
O elenco é formado apenas por atores negros, escolhidos em workshops do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Os textos, músicas e letras são de Paulo César Pinheiro, que escreve pela primeira vez para teatro. A direção geral é de João das Neves e a musical, de Luciana Rabello. O grupo conta com Mestre Casquinha e Mestre Camisa na preparação corporal e na coordenação da capoeira. Os convites serão distribuídos gratuitamente nesta sexta-feira (21) na sede da FCP em Brasília. A Fundação Cultural Palmares/MinC fica no Setor Bancário Norte, Quadra 2, Bloco H, Edifício Central Brasília, 1º Subsolo, Asa Norte, prédio ao lado da sede da Secretaria da Fazenda do DF e próximo a sede dos Correios.
A importância de Besouro
Besouro nasceu em Santo Amaro da Purificação e deixou seu nome gravado nas rodas de capoeira do Brasil inteiro. Metido em política, impunha respeito e temor aos poderosos do início do século XX na velha Bahia. Sua vida virou lenda. Além de capoeirista, também tocava violão e compunha sambas-de-roda e chulas. Existe um samba, chamado Canto do Besouro, cujos versos de sua autoria “Quando eu morrer/Não quero choro nem vela/ quero uma fita amarela/ gravada com o nome dela” fazem parte desse samba conhecido de Noel Rosa, no qual nosso poeta escreveu a segunda parte. Esse refrão também foi usado por Paulo César Pinheiro em Lapinha (em parceira com Baden Powell) – sua primeira música gravada e sucesso na voz de Elis Regina – com a qual venceu um dos mais concorridos festivais de música popular, a Bienal do Samba, da TV Record, em 1968, hoje um clássico da MPB.
– “A primeira vez que ouvi falar de Besouro foi no livro Mar Morto, de Jorge Amado”, conta Paulo César Pinheiro. “Interessei-me pela figura e tudo que me caía às mãos a respeito desse mito popular da Bahia, eu guardava. Fui juntando histórias. Fui compondo sambas sobre ele. Fui maturando enredos. O tema Besouro foi se tornando repetitivo em meus sambas. As músicas eu já tinha. Com o convite para escrever o musical, só fiz uma pequena adaptação pro texto criado, e o Besouro Cordão-de-Ouro se tornou realidade”.
Além da música Lapinha, que dá o mote ao musical e ganhou oito novos versos, especialmente para o espetáculo – um para cada personagem -, novas canções estarão no espetáculo. São dez no total, feitas para cada toque do berimbau: Jogo de Dentro, Jogo de Fora, São Bento, Angola, Cavalaria, Benquela, Barravento, Iúna, Samango, Santa Maria e Besouro.
O espetáculo mostra, de maneira lúdica, a trajetória, filosofia, prática e música do mestre Besouro – um personagem brasileiro, tão rico e pouco explorado – e conta um pouco da história do Brasil e da nossa formação, com suas raízes culturais na música, na dança e no ritual. Besouro é um símbolo do Brasil, símbolo de coragem, qualidade, criatividade e resistência; um símbolo da cultura que forma o ser brasileiro.
– “Paulo César Pinheiro teve o cuidado de humanizar a figura de Besouro, sem mitificá-lo”, observa o diretor João da Neves. “Então, este espetáculo é importante para o reconhecimento da cultura negra, resgatando estas figuras tidas como desordeiras e retratando-as com sua verdadeira face. Mostra mais profundamente a complexidade das relações dos descendentes de escravos e a sociedade brasileira. Este espetáculo, no fundo, resgata todas as etnias brasileiras e a forma de resistir com altivez”.
Ligado ao universo da cultura negra e popular, João aprofunda: “Tenho intimidade com este universo, pois minha história sempre foi ligada à MPB, desde os shows do Grupo Opinião, os shows que dirigi de Chico, Milton, Baden e MP4, a Missa dos Quilombos – que fiz no Rio de Janeiro em 1988 -, o trabalho que desenvolvi no Acre com o Grupo Poronga e nossa encenação do Tributo a Chico Mendes, até meus recentes trabalhos com Titane em Belo Horizonte. Para esse musical, estou levantando a história de cada um dos atores – que também tem muito do universo do personagem – e trazendo-a para o espetáculo”.