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Mundo pode refletir sobre igualdade com posse de Obama, diz presidente da Fundação Palmares
Publicado em
21/01/2009 09h00
Atualizado em
22/03/2024 16h25
Quando subiu as escadas do Lincoln Memorial em Washington, em 1963, para fazer seu mais famoso discurso “I have a dream” (Eu tenho um sonho, na tradução literal) o reverendo Martin Luther King Jr. não deve ter imaginado que 46 anos depois um negro assumiria a presidência do país. Segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, Martin Luther King ficaria orgulhoso da vitória de Barack Obama.
“Obama é a maior vitória do movimento negro americano, é o fruto mais bem aprimorado da organização e mobilização dos negros”, comenta o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araujo. “Martin Luther King deve estar vibrando com Obama, onde quer que esteja”, completou. Segundo ele, o novo presidente dos Estados Unidos abre esperança para o mundo. “Os EUA, que foram um dos maiores estados a praticar a segregação racial, dão oportunidade para o mundo de refletir sobre igualdade”, afirmou.
Zulu explicou que Obama na presidência traz diversas lições para o planeta, incluindo o Brasil. “Ele [Obama] só chegou à presidência porque estudou em excelentes faculdades graças a bolsas e ao sistema de cotas”. Obama cursou direito na Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas dos Estados Unidos. “O sistema de cotas é um instrumento viável que pode acelerar a igualdade entre as raças”, afirmou Zulu Araújo.
O presidente da Fundação Palmares destacou também a importância de se criar políticas públicas de educação e afirmação dos negros. “A educação já é um passo importante, mas não é o único”. De acordo com ele, a mídia também pode colaborar. “No Brasil, temos mais apresentadoras brancas que em muitas TVs européias. É preciso diversificar”.
No país, os 14.138.167 negros – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – podem ver em Obama a capacidade de ocupar outros espaços. “A sociedade brasileira não está preparada para ver o negro em outros cargos e nem os negros também assimilam que podem estar nesses cargos. Obama mostra que não há lugares marcados no mundo”, completou a professora de psicologia social da Universidade de São Paulo (USP) Cida Bento.
Ele lembrou que os negros brasileiros não são os únicos a tirarem uma lição do fato: “A eleição dele ajuda mais os brancos que os negros. Obama não se elegeu só com votos de negros, os brancos também votaram nele. Para os brasileiros brancos, é fundamental entender que um negro pode também representá-los”.