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Mulheres negras destacam papel do Interconexões
Afro-brasileiras elogiam o Interconexões como um conjunto de atividades que promovem debates sobre temas essenciais à população negra, como racismo, cotas nas universidades, riqueza da cultura afro e respeito à diversidade. A programação resulta de parceria da Fundação Cultural Palmares, que comemora seus 29 anos, e da Universidade de Brasília (UnB), que celebra seus 55 anos de existência. O Interconexões começou na última segunda-feira, 21 de agosto, e prossegue até novembro na UnB.
Aluna de Serviço Social na Universidade de Brasília, Íris Marques, de 21 anos, considera como parte fundamental nesses eventos o I Encontro de Cineastas e Produtoras Negras, que homenageia Adélia Sampaio, primeira cineasta afro-brasileira. “A mostra ganha importância por promover um recorte de raça e gênero já que a sociedade torna invisível o segmento da mulher negra. Que sejamos reconhecidas como produtoras, roteiristas, artistas, intelectuais”, afirma íris. A jovem diz que sente falta do Interconexões nas periferias e que sua realização nesses locais se torna importante pela presença forte da comunidade afro-brasileira.
Também estudante de Serviço Social na UnB, Beatriz Maria, de 22 anos, ressalta como fato positivo o Interconexões ocorrer fora do mês de novembro, quando já se comemora o Dia da Consciência Negra, no dia 20. “O 20 de Novembro é importante, mas precisamos discutir o tema da negritude não apenas nesse período, chamando a atenção para o fato de que não devemos desistir da nossa luta e nem abrir mão do nosso protagonismo. Estas atividades desenvolvidas pela Palmares e pela UnB formam um ato de resistência”, assinala Beatriz. “Infelizmente, há uma barreira enorme à diversidade e ao multiculturalismo nos meios universitários, o que se reflete no preconceito contra cotistas”, constata.
Atriz e cantora, Pietra Sousa, de 21 anos, elogia na programação realizada pela UnB e Fundação Palmares a oportunidade de se reunir mulheres negras. “Aqui existe a possibilidade de nos fortalecermos e debatermos nossa independência nos diversos setores, do artístico ao empresarial. Vivemos em um sistema que nos obriga a pular barreiras, ao contrário do que se dá com as demais pessoas. Só que eu me recuso a pular barreiras”, declara Pietra.
Professora de Língua Portuguesa no Ensino Superior, Mariléia da Rocha Rodrigues, de 49 anos, observa que o Interconexões possui como relevante peculiaridade mostrar a cara e a identidade da mulher negra. “Nosso cinema tem como principais representantes homens brancos. Precisamos mudar isto. A transformação ocorre pela construção da nossa identidade”, diz Mariléia.
Ana Flávia Teixeira Rodrigues, de 44 anos, professora de Língua Portuguesa no Ensino Médio, conta que está aprendendo muito nos seminários e cursos do Interconexões. “As atividades têm caráter construtivo e trazem empoderamento e afirmação que tanto buscamos. Venho aqui à procura do conhecimento, para me aprimorar pois já escrevo poesia, participo de saraus, preparo um livro e quero dirigir um filme”, revela Ana. “É hora de aproveitar tudo o que nos oferecem no Interconexões. Tenho esperança de crescer aprendendo bastante”, conclui.