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Movimento Hip Hop repudia artigo da Folha de São Paulo

Brasília, 23/3/07 – O Movimento Hip Hop se mobilizou para repudiar a matéria da jornalista Bárbara Gancia, publicada no jornal Folha de S. Paulo no último dia 16 de março. No texto intitulado “Cultura de Bacilos”, a jornalista faz críticas ao ministro da Cultura, Gilberto Gil Moreira, pela verba destinada a projetos relacionados ao movimento.
Baseada na matéria “Governo Brasileiro investe em cultura Hip Hop”, publicada recentemente pelo jornal The New York Times, Bárbara Gancia criticou o apoio dispensado ao movimento. “Desde quando hip-hop, rap e funk são cultura? Se essas formas de expressão merecem ser divulgadas com o uso de dinheiro público, por que não incluir na lista o axé, a música sertaneja ou, quem sabe, até cursos para ensinar a dança da garrafa?”, escreveu a jornalista.
O Hip Hop é considerado por estudiosos como um movimento social que se manifesta por meio de várias vertentes culturais, como as artes plásticas (graffite), a música (Rap e o DJ) e a dança conhecida como break. “O Hip Hop tem sido apontado como um importante fenômeno urbano juvenil no cenário sócio-político do país. O movimento chama a atenção, entre outros aspectos, por mostrar significativo potencial de gerar identificação e articulação em torno da cultura negra”, afirma a socióloga e doutora em Lingüística Aplicada Ana Lúcia Souza, integrante da Ong Ação Educativa. “Quem discrimina a cultura Hip Hop discrimina a presença do negro e a cultura afro dentro da sociedade brasileira”, conclui o assessor da Fundação Cultural Palmares, Oscar Henrique Cardoso.
Militantes do movimento Hip Hop fazem circular pela internet mensagens de repúdio ao artigo de Bárbara Gancia. “Ela começa com um título preconceituoso, ‘A Cultura dos Bacilos’ (das bactérias). É assim que se porta o fascismo diante de uma pequena possibilidade da periferia conseguir um espaço, por menor que seja”, reclama o escritor Sergio Vaz.
Dirigentes do Ministério da Cultura acreditam que a jornalista referia-se ao Projeto Cultura Viva. O projeto destina cerca de R$ 180 mil no prazo de 30 meses, para fomentar diversas manifestações culturais. O gerente do Projeto Cultura Viva, Eduardo Coelho, ressalta a importância desses projetos por atender e conscientizar um número muito grande de pessoas com uma verba que, para a proporção de pessoas atingidas, é pequena. Coelho dá como exemplo o Cirque de Soleil, que, com milhões a mais que os projetos do Movimento Hip Hop, atende a um número muito menor de adolescentes. “Provavelmente os conceitos de cultura dela sejam elitistas. Essa é uma das metas do ministério, quebrar as resistências com as culturas populares, que são tão válidas quanto as outras”, diz Eduardo Coelho.