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Mestre Pastinha, um orgulho para a cultura afro-brasileira
Brasília, 05/04/07 – Há 118 anos, nascia neste mesmo dia (5) de abril, em Salvador/BA, Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha. Um dos maiores nomes da Capoeira Angola no Brasil, Pastinha teve a vida dedicada em função do resgate e da valorização da cultura afro-brasileira. E hoje é imerecidamente esquecido pelo Brasil.
A história de Pastinha é digna de um filme. Aprendeu capoeira, como ele dizia, “com a sorte”. Em 1967, num depoimento dado no Museu da Imagem e do Som, o próprio Pastinha contou como “a sorte” o favoreceu. “Quando eu tinha uns dez anos – eu era franzininho – um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua – ir na venda fazer compra, por exemplo – e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza”.
Um velho africano que, certo dia, viu uma briga dos dois, decidiu ajudar o garoto. “Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui”, contou Pastinha. Aí começou a formação daquele que seria o grande mestre da Capoeira Angola. Benedito, o velho africano, lhe ensinava todos os dias não só as técnicas da capoeira, mas também muita sabedoria. “Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito”, disse Pastinha.
A capoeira era o modo de vida de Pastinha. Foi ele o fundador da primeira escola de Capoeira Angola, o Centro Esportivo de Capoeira Angola, em 1941, no Pelourinho. Mestre Pastinha dizia que a Capoeira Angola era diferente das outras por “não ter método”, “ser sagrada” e “maliciosa”. Segundo ele, o capoeirista lança mão de inúmeros artifícios para enganar e distrair o adversário. Finge que se retira e volta-se rapidamente. Pula para um lado e para outro. Gira para todos os lados e se contorce numa ginga maliciosa e desconcertante.
Foi a escola de Pastinha que trouxe uma uniformização e um método de ensino para a capoeira. Em 1966, foi à África, no 1º Festival de Artes Negras, em Dakar no Senegal, e mostrou, junto com outros mestres, a nossa capoeira. Pastinha também foi citado nos livros de Jorge Amado e teve alunos como mestre Curió, mestre João Grande e mestre João Pequeno.
Apesar de toda a sua dedicação à arte e cultura afro-brasileiras, por meio da capoeira, Pastinha foi esquecido ao final de sua vida. Chegou a ser despejado do lugar onde morava e morreu aos 92 anos, em 14 de outubro de 1981. Os toques de berimbau o homenagearam em seu enterro.