Notícias
MEMORIAL ZUMBI: O herói negro finalmente na praça
Brasília, 2/2/07 – Cidade com maior população negra do país, Salvador finalmente terá um líder afro-brasileiro entre os homens públicos homenageados em suas praças. Zumbi dos Palmares (1655-1695), pernambucano de origem bantu e líder por 20 anos do Quilombo de Palmares – principal território de resistência negra durante a escravidão no Brasil –, ganhará uma estátua na Praça da Sé, marco histórico da capital baiana. A iniciativa, empreendida mediante concurso do Ministério da Cultura através da Fundação Cultural Palmares, é fruto de uma luta de dois anos da ONG baiana A Mulherada, co-responsável pela realização do certame. “Zumbi foi o primeiro governador negro no Brasil e a construção da estátua ajudará a corrigir as distorções na representação histórica do país”, diz Lázaro Duarte, vice-presidente da ONG A Mulherada e idealizador do monumento.
O Concurso
Com inscrições abertas até 15 de março, o concurso visa à criação de uma estátua de bronze com altura de 2,20m e largura aproximada de 1m, a ser exposta sobre um pedestal em granito com cerca de 1,50m de altura. Os projetos inscritos serão analisados por uma comissão presidida pelo museólogo Emanoel Araujo, curador-chefe do Museu Afro Brasil de São Paulo, e o autor do projeto vencedor ganhará um prêmio de R$ 30 mil. Para Lázaro Duarte, o monumento deve ser uma estátua de corpo inteiro de Zumbi, representado em toda sua força política e negritude: “Queremos uma estátua que orgulhe o povo negro, e não Zumbi de tanga ou tocando tambor. O monumento deve expressar a resistência contra a escravização e qualquer forma de opressão ao negro brasileiro”, reforça.
Empenho para valorizar a história afro-brasileira
Empenhada na construção do monumento, a ONG A Mulherada recorreu em 2005 ao vereador baiano João Bacelar, autor do projeto de lei aprovado por unanimidade na Câmara dos Vereadores de Salvador, em 16 de novembro de 2005, para a instalação da estátua na Praça da Sé. Depois fez consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, uma vez que o espaço em questão é tombado, e conseguiu a permissão para construir o monumento no pedestal anteriormente ocupado pelo monumento ao primeiro-governador do Brasil, Thomé de Souza, transferido em 2005 para a praça de mesmo nome em frente à Prefeitura de Salvador. Uma série de atos públicos com a participação dos movimentos negros baianos foi organizada para conscientizar a população e as autoridades públicas sobre a importância da estátua. “A partir de agora, as escolas e os guias turísticos terão que saber a história de Zumbi para explicar a estudantes e turistas que cruzam a praça. O monumento será o estopim para uma tomada de consciência sobre a importância do negro na história brasileira”, avalia Lázaro Duarte.
Uma vez concretizada a homenagem a Zumbi dos Palmares em Salvador, a ong A Mulherada começará a trabalhar em um novo projeto: uma estátua dedicada à heroína negra Maria Felipa de Oliveira, a ser instalada na Ilha de Itaparica. Lendária por ter defendido a independência da Bahia no século XIX, liderando 40 mulheres que queimaram 42 barcos invasores portugueses na costa de Itaparica, Maria Felipa encontra poucos registros na história oficial do país. “Queremos que o Monumento Zumbi e a homenagem a Maria Felipa sejam um incentivo para que outras cidades também representem seus heróis negros”, diz Lázaro Duarte.
A Mulherada: 15 anos de atuação
Fundada em 1992, em Salvador, a ONG A Mulherada dedica-se à realização de ações afirmativas para desenvolvimento e capacitação da comunidade afrodescendente para o mercado de trabalho, especialmente das mulheres. Também produz eventos e atividades sociais tais como lançamentos de livros, a Segunda do Bacalhau,a Quarta Pra que te Quero, a Sexta do Samba, encontros, palestras, seminários e debates. Desde 1994, incentivou a criação de blocos afro como Kallundu, Kallundetes e Kallundinhos, posteriomente unidos no o Grêmio Comunitário Cultural e Carnavalesco A Mulherada. Anualmente reúne no carnaval milhares de mulheres de todos os credos e raças, sendo elas oriundas de entidades do movimento negro baiano.