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Machado Sagrado de Xangô adentra o Judiciário Brasileiro
Machado Sagrado de Xangô adentra o Judiciário Brasileiro
Nesta quinta-feira, 19 de dezembro, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) viveu um momento único ao acolher o Oṣẹ Mímọ́ Ṣàngó, conhecido como Machado Sagrado de Xangô. Pela primeira vez na história do judiciário brasileiro, o símbolo de um Orixá foi incorporado a um tribunal, representando um avanço no reconhecimento das tradições religiosas africanas.
O evento foi realizado pela Ìyálaṣé Arethuza Doria de Ọya junto à Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB-RJ (CEVENB), como parte do Pacto pela Igualdade Racial do CNJ. Com apoio do desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, presidente do TJRJ, esta iniciativa demonstrou compromisso com inclusão e respeito à pluralidade.
Para a Fundação Palmares, o evento carrega um significado singular. O machado de lâminas duplas não só representa a justiça de Xangô, mas também integra a identidade visual da instituição, evidenciando a ligação entre cultura, espiritualidade e direitos básicos.
Xangô: símbolo de Justiça
Xangô, Orixá dos trovões e relâmpagos, é reconhecido por sua sabedoria e comando. Como guardião da justiça e protetor dos desfavorecidos, suas características reverberam nas batalhas históricas do povo negro brasileiro.
Na cultura iorubá, o machado duplo, Oṣẹ, representa equilíbrio e neutralidade, qualidades fundamentais nas cortes terrenas e celestiais presididas por Xangô. Sua presença num ambiente judicial fortalece estes princípios e destaca a relevância de reconhecer expressões espirituais antes marginalizadas como parte da herança cultural brasileira.
“O Oṣẹ Mímọ́ Ṣàngó no Judiciário ultrapassa a dimensão cultural; representa a abertura da justiça brasileira às narrativas e princípios tradicionalmente ignorados. Xangô personifica o equilíbrio e sabedoria que almejamos em nossa sociedade”, afirmou João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Palmares.
Combatendo preconceitos
A iniciativa seguiu decisões recentes do STF, que legitimaram a presença de símbolos religiosos em espaços públicos, não como quebra da laicidade, mas como expressão da multiplicidade espiritual brasileira. A inclusão do machado de Xangô no TJRJ representou uma vitória contra o preconceito religioso, dando destaque às tradições afro-brasileiras frequentemente ignoradas.
O Oṣẹ torna-se um instrumento de sensibilização, contribuindo para eliminar preconceitos e educar sobre a importância do respeito à diversidade. O evento reforça que a laicidade estatal não significa exclusão, mas acolhimento igualitário de todas as manifestações religiosas.
Reconhecimento e responsabilidade
A Fundação Palmares reafirma seu compromisso com a valorização das culturas afro-brasileiras. O machado de Xangô no tribunal simboliza não só a busca por justiça, mas também o ideal de um Brasil genuinamente plural, onde todas as crenças são respeitadas.