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Salvador, 13/7/06 – A necessidade de um compromisso de reconstrução, a partir das experiências, de Intelectuais e políticos da Diáspora africana com o continente africano marcou o tom do discurso da mesa Literatura, artes e Renascimento Africano, na manhã da última quinta-feira (13/7), no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A mesa fez parte da programação da II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (II CIAD).
Formada por nomes de peso na área da literatura, muitos desconhecidos do grande público, como o de Conceição Evaristo (Brasil), Fabula Ecot-Ayissi (França); Tunde Fatunde (Nigéria) Adriano Botelho (Angola), R. F. Bestman (Nigéria), a mesa instigou os participantes a refletirem sobre o papel dos intelectuais da Diáspora frente à situação da Africa em várias esferas: política, social e cultural.
O questionamento sobre a produção literária a exemplo da Guiné Bissau, segundo Fabiola Ecot-Ayissi “além de afirmar a identidade africana vai refletir também o êxito, já que a história da Guiné-Equatorial é marcada pelo confisco. Assim, como se pode construir uma cultura com a destituição?” Para Ecot-Ayissi o processo de construção artístico não pode esconder questões como o exílio, nem deixar de mostrar o movimento e a dinâmica da mudança.
Já o dramaturgo Tunde Fatunde falou sobre a literatura, a arte e o renascimento africano. Ele define o renascimento africano como “uma redescoberta de nós mesmos, dentro da estrutura de soberania e da globalização atual”. Para ele “o sucesso para o renascimento africano é promover a literatura e arte”. Destacou ainda a importância da educação como forma de renascimento africano, tanto quanto a questão da imagem veiculada no cinema. ”Os africanos da Diáspora deveriam ir para lá e dar o suporte necessário para mudar a imagem criada ao longo do tempo do de não civilizado que ao longo do tempo foi divulgado no cinema”.
Fatunde encerrou sua palestra convocando todos os africanos da Diáspora a olharem para a África, pois para ele, existe uma recolonização da África pelos países eurocentristas. Muito aplaudido pelos presentes, em seu discurso, Adriano Botelho Vasconcelhos, criticou com veemência a África e disse que enquanto “nós africanos não arrumamos bem a casa, não poderemos oferecer nada a nossos irmãos da Diáspora”.
Segundo ele, os africanos têm que olhar para eles mesmos…”para dentro de nós e pensar até que ponto o homem africano tem crescido”. Disse que há muito o que fazer pelos intelectuais africanos. Concluiu afirmando que “nós precisamos ser mais solidários entre os negros e precisamos de uma conspiração permanente de amor”.
A única brasileira na mesa, a escritora Conceição Evaristo, discorreu sobre a necessidade de se refletir sobre qual renascimento queremos nas artes e que antes de tudo, é necessário denunciar a visão estereotipada que ainda se faz da mulher negra na literatura e nas artes. “Rita Baiana, Gabriela e tantas outras são vistas como infecundas, e relacionadas à visão judaíco-cristão à imagem do mal. enquanto Iracema gera o filho do colonizador. Nesse sentido o colonizador pode gerar uma nação mestiça!”.
Já Bustman pontua seu discurso sobre o relacionamento entre a mulher negra e o homem negro e diz que a estrutura social é um dos fatores que contribui para que esse relacionamento não dê certo. Ela finalizou sua participação sugerindo que “o feminismo africano pode ser um ponto de diálogo entre a África e a Diáspora do ponto de vista da mulher”.