Notícias
Lista de Personalidades Negras – Wilson Simonal de Castro
Wilson Simonal de Castro – Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1938 – São Paulo – 25 de junho de 2000) – Wilson Simonal, “Simona”, o criador do estilo Pilantragem na música popular brasileira, foi um dos maiores cantores dos anos 60-70. Dono de uma voz invejável e inigualável, de um Swing vocal grandioso, foi um dos maiores artistas de Festivais que o Brasil já teve. Inicia carreira na década de 60, formando o conjunto Dry Boys. Levado para a TV Tupi por Carlos Imperial no programa Clube do Rock, não alça sucesso. Com o fim do conjunto continua em carreira solo como Crooner do Conjunto Guarani. Em 1961 passa a ser Crooner da boate Drink, onde grava duas faixas para um LP que lhe trouxe projeção e um contrato com a ODEON, gravando seu primeiro compacto – Terezinha, de Carlos Imperial. Troca a Boate Drink pela Top Club. Grava alguns compactos pela gravadora e em 1963 lança o LP Tem “Algo Mais” onde explode seu primeiro sucesso “Balanço Zona Sul”.
O álbum e a música lhe dão projeção e chamam a atenção da dupla Miele&Bôscoli, que o convidam para trocar a Top Club por shows organizados pela dupla, famosos pelos Pockets Shows do Beco das Garrafas. A partir daí começam suas excursões de sucesso, levando em 1965 a ser contratado pela TV Tupi – conduz o programa Spotlight, tocando músicas mais sofisticadas. Iniciava sua caminhada pelos grandes festivais de música – defende duas canções no I Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior. Com o fim de seu contrato com a Tupi, assina um novo com a TV Record, canal dos programas O Fino da Bossa, sob o comando de Elis Regina e Jair Rodrigues e Jovem Guarda, de Roberto Carlos.
É neste clima que, junto com o Som Três, formado por Toninho, Sabá e Cesar Camargo Mariano, cria um estilo de som que misturava Samba, Iê-Iê-Iê e Soul e que será batizado de Pilantragem. Em 20 de outubro de 1966, estreia o programa “Show em Si… Monal”, com roteiros de Miele, Bôscoli, Imperial e Jô Soares.
Em setembro de 66, mais uma vez defende um sucesso de Johnny Alf no primeiro festival da Record e em outubro, junto com o MPB4, defende “Maria” de Francis Hime e Vinicius de Moraes no 1º Festival Internacional da Canção. No ano de 1967, Simonal em pleno show no teatro Princesa Isabel, assumia sua negritude com tons mais políticos e falava em luta com uma profunda reflexão sobre Martin Luther King Jr., em uma música que escreve junto com Ronaldo Bôscoli, porém, só tocada na entrega do Troféu Roquete Pinto para os “melhores do ano” no Teatro Paramount, com o discurso – “Essa música, eu peço permissão a vocês, porque eu dediquei ao meu filho, esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontre, e tenho às vezes encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro.” Em 1967 era gravado o compacto com “Tributo a Martin Luther King”.
No III Festival da Música Popular Brasileira, da Record, defendeu, com exceção aberta pelos organizadores, três composições, “Belinha”, de Toquinho e Victor Martins, “Balada do Vietnã” e “O Milagre”.
Em 1968, Simonal lança “Sá Marina” que seria seu segundo maior sucesso musical tornando-se seu cartão de apresentação no exterior. Neste mesmo ano faz seu show até ali mais politizado com canções de Cole Portes e Gershwin além de comentários políticos de Simonal em solidariedade aos atores da peça “Roda Viva”. Em 1969, por conta da apresentação bombástica de Simonal num show promovido por Ricardo Amaral para promover a turnê de Sergio Mendes, vai lhe render um contrato com a Shell. Durante estas conversações Simonal lança seu maior de todos os sucessos – “País Tropical” de Jorge Ben Jor.
Simonal monta sua própria produtora – Simonal Produções Artísticas, que será o pivô de seu grande problema. Com o contrato com a Shell, Simonal foi convidado a ser jurado do IV Festival Internacional da Canção e passar a ser o embaixador do evento em 1970. Neste ano Simonal inicia uma excursão pela Europa como embaixador do FIC e promove sua própria carreira.
Na volta em 19 de agosto, Simonal entra em estúdio para gravar o que ele chamou de “Músicas Nativistas”, que incorporava uma visão ufanista do país.
Em setembro de 1970 a Simonal Produções Artísticas prepara seu primeiro balanço, descortinando um descontrole total nos gastos da empresa e contas de Simonal. Foi então contratado por Ruy Brizolla, sócio de Simonal, Raphael Viviani, para fazer auditoria nas contas. Observando rombos de retiradas sem comprovação, principalmente por “Saques” realizados por amigos do cantor diretamente da conta da Simonal Produções.
O cantor então o despede alegando incompetência profissional, o contador Viviani, que por não ter como se manter no Rio, abre uma ação trabalhista contra Simonal. Com sua banda desfeita, perda de bens, da empresa, de seu arranjador (Cesar Camargo Mariano), seu sucesso e prestígio caírem vertiginosamente e por conta de tais processos (trabalhista e cobrança dos alugues não pagos por Viviani), Simonal procura alguns policiais do DOPS que conhecia e inicia toda a história de Delação e entrega de pessoas ao DOPS em conluio com o Regime Militar da época, pós AI5.
O Contador é procurado por tais agentes do DOPS em um Opala de Simonal e a história toda é baseada numa declaração que Simonal havia assinado em 24 de agosto de 1971 para o DOPS, alegando ameaças anônimas supostamente do contador Viviani e nela, Simonal se declarava “antigo colaborador do DOPS” e “divulgador do programa democrático do governo da República”.
Viviani é preso, interrogado, torturado e “confessa” sua ação no desfalque da empresa. Porém, a esposa do Viviani vai a polícia e presta queixa de sequestro e conta a história dos homens que foram a sua casa, vinculados ao DOPS e a serviço de Simonal, que é procurado pelo delegado, conduzido à delegacia, instituído inquérito e gerado processo e julgamento posterior, que lhe rende pena de cinco anos e quatro meses de prisão, junto com os dois policiais. Simonal é preso, fica nove dias, sendo solto por Habeas Corpus.
Em 03 de julho sai o resultado de sua apelação que lhe rende seis meses de pena em regime aberto, terminando assim o problema jurídico, mas iniciando o ocaso de sua carreira. A acusação de extorsão mediante sequestro levou a carreira de Simonal ladeira abaixo. Ele passou a ser considerado uma persona non grata no meio artístico se tornando alcóolatra, sendo esquecido pela mídia e pelos antigos fãs.
Após o episódio envolvendo seu ex-contador, Simonal foi considerado um informante do SNI (Serviço Nacional de Informações). Daí foi um pulo para que ele passasse a ser acusado de entregar diversos colegas da classe artística para os militares. Seus shows não eram mais anunciados, nem seus discos comentados. Ninguém o entrevistava.
Na década de 90, Simonal obtêm da Presidência da República documentos que comprovavam não constar nos serviços de informação do governo a associação dele com estes órgãos de informação. Morreu aos 62 anos de idade, vítima de cirrose hepática, em 25 de junho do ano 2000, quando ainda reclamava do esquecimento a que foi condenado.
Em 2002 a pedido da família, a Comissão de Direitos Humanos da OAB abriu um processo para apurar a veracidade de tais colaborações do cantor com estes órgãos de informações do regime militar. Após longa busca através de artistas, personalidades e um documento assinado pelo secretário nacional de Direitos Humanos José Gregori, nada constava ligando Simonal a DOPS, SNI, CIEx ou outro órgão de inteligência, sendo então, em 2003, Wilson Simonal moralmente reabilitado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB em julgamento simbólico. Era a reparação honrosa do Ostracismo e Cancelamento sofridos por este magistral cantor negro brasileiro.